quarta-feira, 4 de novembro de 2009

ALGODÃO DOCE

"Todas as noites, antes de me deitar, eu fico nua
e passo uma folha de alfazema pelo corpo.
Separo o dedal, as agulhas, os fios e o cetim
e começo a remendar os vestidos
que vou usar para você.
É vestimenta antiga, vem de lá longe,
meu tempo de mocinha.
Em alguns eu já trabalhei tanto
que eles até parecem novos.
Tudo pra te fazer feliz.
Todas as noites, depois do perfume,
eu abro a porta do quarto.
Você entra de mansinho,
aponta para um daqueles vestidos,
eu fico bem bonita,
nós saímos de mãos dadas
e vamos comer algodão doce
na frente da igreja do Bom Jesus.
Todas as noites eu faço de conta
que você não me deixou.
Então pára tudo, pára o relógio,
a respiração, o coração.
Até o tempo pára, meu amor,
esperando que,
se um dia voltar, você não note
que essas roupas escondem tantos buracos
dentro e fora de mim..."
(Almir Feijó)

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