terça-feira, 3 de novembro de 2009

APELO

"Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa.
Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta,
bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina.
Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço,
o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou.
A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão,
ninguém os guardou debaixo da escada.
Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo.
Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos.
Uma hora da noite eles se iam.
Ficava só, sem o perdão de sua presença,
última luz na varanda, a todas as aflições do dia.
Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate
—meu jeito de querer bem.
Acaso é saudade, Senhora?
Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham.
Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada.
Que fim levou o saca-rolha?
Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros:
bocas raivosas mastigando.
Venha para casa, Senhora, por favor..."
(Dalton Trevisan)

3 comentários:

ANTOLOGIA POÉTICA disse...

Pegue um mimo aki no meu blog
Um carinho meu...Beijosss

MariaSigTag_PapagaiosMenezes-vi

ANTOLOGIA POÉTICA disse...

Pegue um mimo aki no meu blog
Um carinho meu...Beijosss

MariaSigTag_PapagaiosMenezes-vi

Unknown disse...

Oi Luís, adorei você ter postado o poema "Apelo". Trabalhei-o com meus alunos.
Eu não conhecia a "Resposta ao Apelo", vou trabalhá-lo também.
Tenho pegado vários poemas postados aqui, meus alunos estão adorando e você está me ajudando a fazê-los gostar de poesia.
É incrível o seu bom gosto e sensibilidade.
Até mais.
Beijos meu querido.