sexta-feira, 6 de novembro de 2009

ATROPELAMENTO E FUGA...

"Era preciso mais do que silêncio,
era preciso pelo menos uma grande gritaria,
uma crise de nervos, um incêndio,
portas a bater, correrias.
Mas ficaste calada... apetecia-te chorar
mas primeiro tinhas que arranjar o cabelo,
perguntaste-me as horas, eram 3 da tarde,
já não me lembro de que dia,
talvez de um dia em que era eu quem morria,
um dia que começara mal,
tinha deixado as chaves na fechadura
do lado de dentro da porta,
e agora ali estavas tu, morta
(morta como se estivesses morta!),
olhando-me em silêncio estendida no asfalto,
e ninguém perguntava nada
e ninguém falava alto..."
(Manuel António Pina)

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