segunda-feira, 9 de novembro de 2009

DEPOIS DAQUELAS PEDRAS

"Depois daquelas pedras há uma passagem,
e só quem por ela penetra percebe,
importantes e delicados momentos:
luz da lua por janela entreaberta;
samambaia chorona cochichando com avencas,
monsenhor apaixonado por bromélias
renda portuguesa discretíssima, só observa;
borboleta pousada bem no ombro esquerdo
busca uma chance de revelar seus segredos;
palavras que sorriem quando ditas em versos;
cata vento que venta ao contrário
e traz cheiro de mato pra dentro do quarto;
portas e gavetas abertas, escancarado o armário;
colibris que escrevem poemas,
hoje, em meu jardim já são dezesseis!
Madrugada que avisa que o dia que chega
vai ser de preguiça, chuva fina e aconchego,
mulher amada aninhada em cobertas,
pernas entrelaçadas com as minhas embriagadas;
essência de alfazema espalhada pelo quarto;
dragão tatuado que solta fogo pelas ventas,
e aquece o ambiente, dias frios de inverno,
café quente e encorpado, e ainda quero um cigarro!
Detalhes, pequenos pecados, prazeres confessos,
segredos revelados, sonhar acordado,
seus olhos bordados a tecer muitas teias;
e tem também o conhaque,
e o vinho tinto e encorpado;
e algazarra de pássaros na janela da sala,
passarada danada se expulso de lá,
me invadem o quarto!
Depois daquelas pedras, há uma passagem
e só quem acredita consegue com o tempo,
viver no mundo de dentro
sem abrir mão da vida lá fora..."
(Naldo Velho)

Nenhum comentário: