sábado, 7 de novembro de 2009

ENTRE O ACASO E O OCASO...

"À aparição grandiosa da imagem
eu quis responder com postura:
empunhei o corpo no vácuo
e senti o cascalho quebrar-se em pós debaixo dos pés.
Retorqui as vistas esfregando as mãos,
sem traquejo: ali era hora de e quando.
Ergueu-se um pouco mais o vulto,
seus traços negros escurecendo mais, escuridão,
e inclinou-se para mim
como temerário entumecido das infinitudes.
Mantive o siso e o vento, rente,
nem um passo para trás, só no tempo, paciente.
Ele cheirou-me a valentia, a alma, os dias e as noites,
ergueu-se para o azul desconhecido do céu,
e inclinou os flancos de onde, entre o acaso e o ocaso,
desenharam-se acinzentados dois braços,
duas mãos perfeitas, precisas.
Do ombro esquerdo ao antebraço,
do punho à mão esquerda,
vi surgir o trompete iluminado
não sei por que luz lunar, se não havia lua.
Fez-se silêncio sobre o eixo da Terra que,
naquele instante exato,
deixou o movimento, estacou-se, só..."
(Luis Gustavo Cardoso)

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