quarta-feira, 11 de novembro de 2009

MADEIRA

"Quero beijar os teus lábios de pedra,
a água azul e profunda onde os teus seios
sem mácula se unem às minhas mãos,
quero fundir-me em ti,
minha doce amante do desejo antigo,
quero mergulhar nos cabelos úmidos das tuas raízes,
quero subir lentamente o teu corpo frio, fendido,
quero fazer em ti,
nos teus jardins inclinados, um país de filhos belos,
de animais de silêncio e bondade,
quero regressar a ti,
ao mistério das levadas, das falésias,
dos ventos que batem nos pássaros de aço e nas tuas tranças,
quero que me toques amorosamente com os teus dedos esguios,
com as tuas canas doces,
quero o mel, a estrelícia, o pão escuro sobre as mesas
de toalhas loucas bordadas pelas mulheres de outrora,
senhoras nossas das dores e do entardecer,
quero levar-te comigo para além, para sempre,
quero que deixes em mim
o fruto das tuas árvores da alegria,
todos os sinais da ternura que o tempo não consumiu,
minha eterna amante junto ao mar,
quero morrer em ti, e em ti nascer de novo..."
(José Agostinho Baptista)

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