domingo, 1 de novembro de 2009

A MIRAGEM

"Não direi que a tua visão desapareceu dos meus olhos sem vida
Nem que a tua presença se diluiu na névoa que veio.
Busquei inutilmente acorrentar-te a um passado de dores.
Inutilmente.
Vieste – tua sombra sem carne me acompanha
Como o tédio da última volúpia.
Vieste -e contigo um vago desejo de uma volta inútil
E contigo uma vaga saudade…
És qualquer coisa que ficará na minha vida sem termo
Como uma aflição para todas as minhas alegrias.
Tu és a agonia de todas as posses
És o frio de toda a nudez
E vã será toda a tentativa de me libertar da tua lembrança.
Mas quando cessar em mim todo o desejo de vida
E quando eu não for mais que o cansaço
da minha caminhada pela areia
Eu sinto que me terás como me tinhas no passado
–Sinto que me virás oferecer a água mentirosa
Da miragem.
Talvez num ímpeto eu prefira colar a boca à areia estéril
Num desejo de aniquilamento.
Mas não.
Embora sabendo que nunca alcançarei a tua imagem
Que estará suspensa e me prometerá água
Embora sabendo que tu és a que foge
Eu me arrastarei para os teus braços..."
(Vinícius de Moraes)

2 comentários:

wilson santos disse...

Boa

Unknown disse...

PORISSO..VINICIUS DE MORAES ERA CONSIDERADO O "POETA DA PAIXÃO"!
EU GOSTO DESTE SONETO:
São demais os perigos desta vida
Pra quem tem paixão principalmente
Quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu, como esquecida

E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher

Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer de tão perfeita

Uma mulher que é como a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua.


BJOS LUIS estive aqui no seu cantinho!