terça-feira, 3 de novembro de 2009

NO PRINCÍPIO DO AMOR...

"No princípio do amor, outro amor que nos precede
adivinha no espaço o nosso gesto.
No princípio do amor, o fim do amor.
Folhagens irisadas pela chuva, varandas traspassadas de luz,
poentes de ametista, palmeiras estruturadas
para um tempo além de nosso tempo,
pássaros fatídicos na tarde assassinada,
ofuscação deliciosa no lago
-no princípio do amor já é amor.
No princípio do amor, o humano se esconde,
bloqueado na terra das canções,
astro acuado em galáxias que se destroçam.
No princípio do amor, sem nome ainda,
o amor busca os lábios da magnólia,
o coração violáceo da hortênsia, a virgindade da relva.
É, foi, será princípio de amor.
No princípio do amor, olhara escuridão;
depois, os galgos prematuros da alvorada.
No princípio do amor, morte de amor antes da morte.
Amor. A morte. Amar-te a morte.
Sexos que se contemplam perturbados.
No princípio do amor o infinito se encontra.
No princípio do amor a criatura se veste de cores mais vivas,
blusas preciosas, íntimas peças escarlates...
No princípio do amor o corpo da mulher é fruto sumarento.
Fruto na sombra: mas é noite.
Noite por dentro e por fora do fruto.
Nas vinhas que se embriagam de esperar..."
(Paulo Mendes Campos)

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