domingo, 1 de novembro de 2009

O AMOR É ÓTIMO!

"Amor é um bólido.
E quando vem e atravessa bem no centro de seus olhos,
Não tem deus que acuda,
Não há demônio que lhe dê remorsos.
Amor é um boldo.
Chá que desremói o fígado e os intestinos,
Verde como a bílis ainda não madura.
O amor é um soldo eterno e mal pago,
Peripécia, estrepolia, façanha e artimanha...
O amor é um rodo enredando tudo, toda água:
De lágrima, de suor, de banho, de chuva,
Vai cair no seu ralo.
O amor é um todo
Que quando quer se faz raso ou não dá pé.
O amor endiabrado nem sabe o que quer,
O que dá, o que é mel, o que é hortelã,
O que é aniz, o que é azedume.
O amor não tem prumo.
O amor te persegue, vira lata, enche açude,
Te agadanha, te faz de pasto e estrume,
Se desmede, te traz trunfo,
Te promete mundos e perfumes
E te ganha a flor da pele, os músculos, os orifícios,
A cabeça vira febre e você é só mais um,
É só mais uma, que se abre em gomos em seus gumes.
O amor é sólido, fingido fluido.
O amor é inóspito, mendigo ardiloso.
Pede um tostão quer o bolso, dá um alô, fica amigo.
Quer seu amor te lambuza
Com méis e anéis e chuvas de farturas.
Quer ir embora te joga pro lado, esquece do vale,
Da fatura, da fratura em tua amargura.
O amor é cólico.
Infestação infectada de bem querer,
Indigestão, poder, e ódio.
O amor é máximo do abismo que eu quero ter próximo.
Bicho com raiva humana,
Cão amestrado pela mente insana.
O amor é um espólio que ainda desejo.
Eu e minha fraca fé e meus esguios medos,
Eu e meu pavio curto
Neste velório sem deus ou mais breu..."
(Marco Valença)

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