quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O LUGAR DAS COISAS

"Gosto das palavras exatas,
as que acertam com o centro das coisas,
e quando as encontro
é como se as coisas saíssem de dentro delas.
Essas palavras são duras como os objetos
que designam, pedra, tronco, ferro,
o vidro de espelhos quebrados com o calor da tarde.
Tento incendiá-las quando escrevo,
como se o fogo saísse de dentro da frase,
e se espalhasse pelo campo da página
numa devastação de sílabas.
Então, atiro sobre as palavras outras palavras,
água, pó, terra, o ar seco do verão,
para que a voz não fique queimada nesta paisagem negra.
Recolho os restos, os adjetivos, os advérbios,
artigos, preposições,
para que só as palavras que indicam as coisas
fiquem no lugar que já tinham.
Pouco importa que as frases percam o sentido.
O que fica são os nomes das coisas,
para que as coisas saiam de dentro deles
e as possamos ver nos seus lugares..."
(Nuno Júdice)

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