sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O PASSADO

"Homens sem pressa, talvez cansados,
descem com leva madeirões pesados,
lavrados por escravos em rudes simetrias,
do tempo das acutas. Inclemência.
Caem pedaços na calçada.
Passantes cautelosos desviam-se com prudência.
Que importa a eles o sobrado?
Gente que passa indiferente, olha de longe,
na dobra das esquinas, as traves que despencam.
-Que vale para eles o sobrado?
Quem vê nas velhas sacadas de ferro forjado
as sombras debruçadas?
Quem é que está ouvindo o clamor, o adeus, o chamado?...
Que importa a marca dos retratos na parede?
Que importam as salas destelhadas,
e o pudor das alcovas devassadas...
Que importam?
E vão fugindo do sobrado, aos poucos,
quadros do Passado..."
(Cora Coralina)

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