terça-feira, 3 de novembro de 2009

PELAS VEIAS DE MINHAS MÃOS...

"Esse frio que você tem por dentro
me deixa ler suas veias ao invés das linhas de suas mão.
O branco da minha pele fez com que ela me lesse por dentro.
Ao invés de me superficializar, ela me põe pra fora,
ela me escreveu pelas veias de minhas mãos,
me disse o destino que eu queria e o que iria acontecer,
me disse também que eu não a queria e que iria embora.
Por mais que eu implorasse e dissesse que não,
ela sabia mais que eu a verdade: era insuportável
aceitar alguém que me soubesse mais que eu mesmo.
Era insuportável a cor castanho-amarelado de seus olhos
me dizendo todas as palavras que nunca imaginei dizer,
mas que sempre estiveram dentro de mim.
Ela trouxe de volta todas as minhas dores
me contando pelas unhas todos os motivos.
Saber o que fazia pelos calos da minha mão direita não era difí­cil...
Ela era mais eu do que qualquer papel
espalhado pelo chão do meu quarto.
Chorava, dizendo que minha dor a comovia,
e eu não derramei uma lágrima,
não senti nem sequer um arrepio destes que ela dizia me causar frio.
Que frio era esse que a fazia ler minhas veias?
Todo arrepio que sempre senti,
concentrava-se apenas nas pontas dos meus dedos,
como todas as outras sensações,
a palma de minhas mãos sempre morna, sempre indiferente,
nem seca nem macia, apenas a palma da mão de uma pessoa.
Mas ela via frio, ela sentia as veias pulsarem
na minha vida morna por esse frio que nunca senti.
Não pude deixar de acreditar, nem pude me forçar a isso.
Era como se não se pudesse discutir,
a verdade pairava sobre mim, uma verdade que eu não reconhecia,
nunca havia sentido tão grande susto, ou melhor,
nunca havia me sentido tão pálido de não sentir nada.
Tão distante que parecia cada vez mais próxima.
Ela escurecia a cada passo para trás.
Eu parado, não a queria perto, mas também não a queria longe.
Meu destino era ela, aquela pessoa sabia todos meus passos,
meus pesos, tudo o que me fazia parar diante do nada,
ela como a minha face diante de um espelho num quarto escuro.
Não havia o que enxergar,
mas ela enxergava e via com seus olhos castanho-amarelados,
com seus dedos por sobre minhas mãos, ela sentia meu frio,
ela queria remontar minhas dores.
Foi se afastando mais e repetindo:
Esse frio que você tem por dentro me deixa ler suas veias,
esse frio que você tem por dentro me deixa ler suas veias.
Sem gritar, sem uivar de dor, morna como a palma de minha mão
ela repetia, esse frio que você tem por dentro me deixa ler suas veias,
saindo de costas, me olhando e me sentindo, talvez pela última vez.
Esse frio que você tem por dentro me deixa ler suas veias.
Assim ela disse. E assim ela foi embora..."
(Estela W.)

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