quarta-feira, 4 de novembro de 2009

QUASE UMA CARTA DE AMOR...

"De noite,
te trouxeste à noite em que me abandonava:
Sobre mim despejas-te os teus olhos tão cheios de noite
e já nem sabias e eram as minha noites os teus olhos
se os teus olhos eram a noite em si...
Se hoje partimos um do outro não lamentemos.
Como poderiamos ser um do outro
se nem de nós mesmos somos?
Devolvo-te assim à selva, a ela pertences: ao mundo.
Eu pertenço aos meus medos,
à teia que teço à volta de mim.
Noutro momento talvez...
Hoje não te posso dar mais do que o fado.
E de fado são hoje os teus olhos.
Tristes: mas tão guardados em mim.
Estarás no país que só eu habito:
em futuras canções, em futuros poemas,
aqui mesmo, hoje.
Será assim que nos teremos sem um toque,
sem um beijo...
Mas mesmo assim, para sempre,
os teus olhos de noite, de sempre,
noite após noite, até ao ocaso de mim..."
(Ricardo de Pinho Teixeira)

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