sexta-feira, 13 de novembro de 2009

SE EU ESCREVER UM POEMA...

"Tudo desaparece.
Nada desaparece.
Tudo desaparece antes de ser dito
e tu queres dormir descansada.
Tens direito a um subsídio de paz.
Se eu escrever um poema,
esse não é motivo para te importunar.
Eu escrevo muitos poemas
e tu trabalhas de manhã cedo.
Toda a gente sabe que a noite é longa.
Não tenho o o direito de telefonar para te dizer isso,
apesar dessa evidência me matar agora.
E morro, mas não morro.
Se morresse, perguntavas:
porque não me telefonaste?
Se telefonasse, perguntavas:
sabes que horas são?
Ou não atendias.
E eu ficava aqui.
Com a noite ainda mais comprida,
com a insónia, com as palavras
a despegarem-se dos pesadelos..."
(José Luis Peixoto)

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