sábado, 7 de novembro de 2009

SER SEM VOCÊ NÃO TEM GRAÇA...

"Seu coração é invejavelmente suave e sutil,
em seu gorjear de ave aconchegada no alto de um ninho.
Anseio tocá-lo, mas não o faço, pois tenho medo que,
ao tocá-lo, ele se desfaça no ar, feito bolha de sabão.
O meu, quando passa ao largo de sua janela, é um rufar de tambor.
Fica a bater em ritmo forte e barulhento, a confundir seus ouvidos,
que pensam ser apenas uma brisa fresca a soprar em final de tarde.
Gosto de ver você à janela, tão meiga,
espreitando o mundo, com olhos distraídos.
Ficas tão bem assim, com ares de distância graciosa,
parecendo estar a pescar novidades no vento.
Quisera ser eu a novidade que anseias encontrar lá fora,
na corrente de um vento!
Seus olhos sempre brilham mais
do que os meus quando pareces distraída.
Os meus se apagam diante dos seus, em reverência.
Ser eu, sem que saibas de mim, de minha existência miúda,
à sombra de sua janela, me cansa, me faz sem graça e desconhecido.
Ser eu distante de você é por demais uma metade.
Por você, não me basta ser eu, porque fico todo reticente,
recolhido em meu silêncio.
Ser você, me parece, é estar leve, a rir de todas as tolices que,
em pensamento, solto ao vento, e que acabas pescando com os ouvidos,
sem desconfiares que seja eu o remetente.
Quando fecho os olhos, à sombra de sua janela, e me visto de você,
estou sempre a andar descalço e a rir descontraído,
de alma e coração castos, feito passarinho
a cantar e estender as asas ao sol de um novo dia.
Meu coração é um rufar de tambor, a bater no peitoril de sua janela,
fazendo percussão à música intimista que sai da sua boca
e vem dormir dentro de mim.
Pena não saberes que existo..."
(Álvaro Faria)

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