quarta-feira, 11 de novembro de 2009

TEUS OLHOS A OLHAR DE DENTRO DOS MEUS...

"Justamente neste vértice do vazio
Com os pés unidos em pontas
O revólver: um novo dedo na tua mão
Observavas o horizonte esférico
Como só se consegue fazer no ponto no centro do universo
E eu conseguia ver o abismo que se te desenhava no olhar
Uma grande mancha de um vácuo vermelho-baço
Como quem acabasse de morrer e da ferida na língua
Se projetasse em direção ao umbigo
Um grito mudo de sangue
Calcinado à passagem pela pele
Pelo corpo, por ti...
Tal deserto a tudo engolia
À passagem pelo teu peito rasgou-te o externo
Sugou-te os pulmões como um alcoólico
Ficou ainda mais deserto
Do alimento do teu ar.
Vi-te as covas dos olhos a aumentar
A ocupar toda a cara
Como uma criança que tenta abrir mais os braços
Para dizer o quanto gosta de ti
- sabes lá tu o tamanho do abraço que dás –
O braço que tenta chegar à tua cara
Eras uma adaga cravada firme no nada
Rasgando uma fenda de tempo atrás de mim
Rasgando um buraco na cabeça.
Sei-o...
Sei que tentaste ter tantos olhos
Tantos quanto necessitavas para te ver
E sacrificaste a tua mão à tua própria morte
Poupaste os pés:
Sempre permitiam ajudar a ver mais além
Onde quer que estivesses
Sei-o
E sei-te...
Puseste os teus olhos a olhar de dentro dos meus..."
(Charlie Shreiner)

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