sábado, 7 de novembro de 2009

TRAVESTIDO

"A procura tortuosa da parte afastada de mim,
Da metade fugaz da minha alma promovida a porto-seguro
Pela empírica noção deturpada de felicidade,
Guiava-me em campos coloridos numa busca
Por algo tão distante de mim quanto à espessura
Que separa a terra e o firmamento.
E diante de um bosque, no emaranhado de cores e perfumes,
Encontrei o que procurava justamente na ausência...
Na única rosa branca, que destilava sua indiferença
Na opacidade da sua figura.
Tomado de um júbilo tenaz, agarrei-a em minhas mãos.
Embriagado da sobriedade dos amantes
Sentia a eternidade transcendental do efêmero,
Vendia a liberdade das minhas mãos, a suavidade do seu toque.
Ignorava o corte dos espinhos
Que penetravam a carne impiedosamente,
E sorria ao gotejar de sangue entre os dedos.
Caminhava sobre a linha tênue da dor e do espasmo.
Sufocava-a com a delicadeza característica da obsessão
Até esgotar a última gota de vida e soltá-la ao chão
Com marcas profundas em mim,
E repudiando a existência insignificante da rosa..."
(Cléber Pereira de Assis)

Um comentário:

Anônimo disse...

Fico agradecido de ser citado no seu blog.

Cléber Pereira de Assis