sexta-feira, 6 de novembro de 2009

VALSA DE EURÍDICE (resposta)

Eurídice,
Não é verdade que teu corpo se desfez em poeira
quando eu dedilhava o último acorde roto de meu violão.
Não, Eurídice,
estes corações não são de cera, são de outra matéria.
O teu agudo é quantas oitavas acima deste andar,
em que pernas deitei meu peito cansado noite passada,
em que nuvens? Certo, distante.
Olha, o sublime é isto,
Eurídice: eu tocar tuas mãos, teu ventre,
para nunca mais ser outro, nunca mais ser um.
A valsa diz que são três por quatro,
meus olhos não podem mais conter o compasso seguinte,
a síncope de teus quadris inventando moda.
O que é isto de dizer verdades,
e ir abrindo as portas da gente, sem cautelas?
Por que vamos tornando fragmento nossa história íntima,
nosso próprio texto, por que choramos?
São minhas humanidades, Eurídice?
São os espelhos refratários lunares do ardor?
Ardor. Palavra acumulada, poeira que se desfaz
e que tem o dom de reentrar,
e reviver, com mais fogo: ardor.
Eurídice, ninguém dança esta valsa como você,
Eurídice..."
(Para a canção "Valsa de Eurídice",
de Vinícius de Moraes e Baden Powell
Luis Gustavo Cardoso)

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