sexta-feira, 7 de agosto de 2009

AMOR NÃO CONSUMADO...

Para mim e para você, escrevo que,
daqui de onde me encontro,
você está longe e perto,
e eu estou sozinho e não.
Do que sinto, aviso que é forte mas não é perigoso,
é como um grande lago sereno, eu sou o píer,
você é todo o resto, toda água, tudo o que há.
Você não me acharia covarde,
você não acharia nada:
você não me conhece.
Sou um vulto, um alguém,
você foi gentil comigo
como é com os garçons e os primos,
com os pedestres e com os turistas,
você foi o que sempre foi,
e eu não fui com você:
no terceiro minuto ao seu lado
eu já sabia que era irremediável,
e em vez de segurar sua mão
e reverter-lhe a pressa,
deixei que você fosse, eu fiquei.
Se eu lhe acompanhasse, rogaria por um beijo,
e de mãos dadas o nosso caminho seria compartilhado...
Mas eu sou mais um desses boçais que não falam,
que pensam demais antes do próximo passo,
e você é mais uma vítima de um amor não consumado...

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

AMORES ETERNOS

"Eu acredito em amores eternos,
daqueles que acompanham a gente pela vida inteira,
como se tempo e amor se fundissem num só elemento,
tornando-se imutáveis, indestrutíveis.
Eu acredito em amores eternos,
daqueles que vão com você para qualquer lugar,
não importando o quão distante você esteja,
por que a pessoa amada reside em seu próprio coração.
em amores eternos e sublimes,
capazes de reconsiderar tudo,
com suavidade, ternura e perdão.
Acredito, sim, em amores para toda a vida e além da vida,
pois seria um tipo de amor unido à própria alma,
e sem alma a vida não tem razão...
Amores eternos existem sim e superam qualquer coisa,
mesmo quando ninguém mais acredita neles,
eles continuam sempre à espreita,
esperando apenas um olhar,
um retorno, uma reconciliação..."
(Augusto Branco)

A GENTE COMEÇA A AMAR...

“A gente começa a amar
Por simples curiosidade,
Por ter lido num olhar
Certa possibilidade.
E como, no fundo, a gente
Se quer muito bem.
Ama quem ama somente
Pelo gosto igual que tem.
Pelo amor de amar começa
A repartir dor por dor,
E se habitua depressa
A trocar frases de amor.
E, sem pensar, vai falando
De novo as que já falou,
E então continua amando
Só porque já começou.”
(Paul Geraldy)

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A AFINIDADE

"A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
É o mais independente.
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,
as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma
a relação, o diálogo, a conversa,
o afeto no exato ponto em que foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando a vida.
É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo para o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.
Ter afinidade é muito raro.
Mas quando existe
não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento, irradia durante
e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar a um não afim,
sai simples e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.
Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito
dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavras.
receber o que vem do outro
com aceitação anterior ao entendimento.
Afinidade é sentir com.
Nem sentir contra, nem sentir para,
nem sentir por, nem sentir pelo.
Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios.
Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar, ou, quando é falar,
jamais explicar: apenas afirmar.
Afinidade é jamais sentir por.
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.
Compreende sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para poder questionar.
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.
Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças.
É conversar no silêncio, tanto nas possibilidades
exercidas quanto das impossibilidade vividas.
Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou
sem lamentar o tempo de separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida,
para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser,
cada vez mais a expressão do outro
sob a forma ampliada do eu individual aprimorado..."
(Arthur da Távola )

domingo, 2 de agosto de 2009

TENHO UM DRAGÃO QUE MORA COMIGO...

Não, isso não é verdade.
Não tenho nenhum dragão.
E, ainda que tivesse, ele não moraria comigo nem com ninguém.
Para os dragões, nada mais inconcebível que dividir seu espaço
- seja com outro dragão, seja com uma pessoa banal feito eu.
Ou invulgar, como imagino que os outros devam ser.
Eles são solitários, os dragões.
Quase tão solitários quanto eu me encontrei,
sozinho neste apartamento, depois de sua partida.
Digo quase porque, durante aquele tempo em que ele esteve comigo,
alimentei a ilusão de que meu isolamento para sempre tinha acabado.
E digo ilusão porque, outro dia,
numa dessas manhãs áridas da ausência dele,
felizmente cada vez menos freqüentes (a aridez, não a ausência),
pensei assim: Os homens precisam da ilusão do amor
da mesma forma que precisam da ilusão de Deus.
Da ilusão do amor
para não afundarem no poço horrível da solidão absoluta;
da ilusão de Deus,
para não se perderem no caos da desordem sem nexo.
Os dragões não permanecem.
Os dragões são apenas a anunciação de si próprios.
Eles se ensaiam eternamente, jamais estréiam.
As cortinas não chegam a se abrir para que entrem em cena.
Eles se esboçam e se esfumam no ar, não se definem.
O aplauso seria insuportável para eles:
a confirmação de que sua inadequação
é compreendida e aceita e admirada,
e portanto - pelo avesso igual ao direito -
incompreendida, rejeitada, desprezada.
Os dragões não querem ser aceitos.
Eles fogem do paraíso,
esse paraíso que nós, as pessoas banais, inventamos
- como eu inventava uma beleza de artifícios para esperá-lo
e prendê-lo para sempre junto a mim.
Os dragões não conhecem o paraíso,
onde tudo acontece perfeito e nada dói nem cintila ou ofega,
numa eterna monotonia de pacífica falsidade.
Seu paraíso é o conflito, nunca a harmonia.
Então quase vomito e choro e sangro quando penso assim.
Mas respiro fundo,
esfrego as palmas das mãos, gero energia em mim.
Para manter-me vivo,
saio à procura de ilusões como o cheiro das ervas
ou reflexos esverdeados de escamas pelo apartamento
e, ao encontrá-los, mesmo apenas na mente,
tornar-me então outra vez capaz de afirmar,
como num vício inofensivo: tenho um dragão que mora comigo.
E, desse jeito, começar uma nova história que, desta vez sim,
seria totalmente verdadeira,
mesmo sendo completamente mentira.
Fico cansado do amor que sinto, e num enorme esforço
que aos poucos se transforma numa espécie de modesta alegria,
tarde da noite, sozinho neste apartamento
no meio de uma cidade escassa de dragões,
repito e repito este meu confuso aprendizado
para a criança-eu-mesmo sentada aflita e com frio nos joelhos
do sereno velho-eu-mesmo:- Dorme, só existe o sonho.
Dorme, meu filho.
Que seja doce.
Não, isso também não é verdade..."
(Caio Fernado Abreu)

QUE SEJA DOCE..

"Então, que seja doce.
Repito todas as manhãs,
ao abrir as janelas para deixar entrar o sol
ou o cinza dos dias, bem assim, que seja doce.
Quando há sol, e esse sol bate
na minha cara amassada do sono ou da insônia,
contemplando as partículas de poeira soltas no ar,
feito um pequeno universo;
repito sete vezes para dar sorte:
que seja doce que seja doce que seja doce
e assim por diante.
Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce,
talvez não saiba responder.
Tudo é tão vago como se fosse nada..."
(Caio Fernando Abreu)

AS NOSSAS RELAÇÕES

"Com o tempo, nos tornamos pessoas maduras,
aprendemos a lidar com as nossas perdas
e já não temos tantas ilusões.
Sabemos que não iremos encontrar uma pessoa
que, sozinha, conseguirá corresponder
a todas as nossas expectativas sexuais, afetivas e intelectuais.
Os que não se conformam com isso
adotam o rodízio e aproveitam a vida.
Que bom, que maravilha, então deveriam sofrer menos, não?
O problema é que ninguém é tão maduro
a ponto de abrir mão do que lhe restou de inocência.
Ainda dói trocar o romantismo pelo ceticismo,
ainda guardamos resquícios dos contos de fada.
Mesmo a vida lá fora flertando descaradamente conosco,
nos seduzindo com propostas tipo "leve dois, pague um",
também nos parece tentadora a idéia de encontrar alguém
que acalme nossa histeria e nos faça interromper as buscas.
Não há nada de errado em curtir a mansidão de um relacionamento
que já não é apaixonante, mas que oferece em troca
a benção da intimidade e do silêncio compartilhado,
sem ninguém mais precisar se preocupar
em mentir ou dizer a verdade.
Quando se está há muitos anos com a mesma pessoa,
há grande chance de ela conhecer bem você,
já não é preciso ficar explicando a todo instante
suas contradições, seus motivos, seus desejos.
Economiza-se muito em palavras, os gestos falam por si.
Quer coisa melhor do que poder ficar quieto ao lado de alguém,
sem que nenhum dos dois se atrapalhe com isso?
Longas relações conseguem atravessar a fronteira do estranhamento,
um vira pátria do outro.
Amizade com sexo também é um jeito legítimo de se relacionar,
mesmo não sendo bem encarado pelos caçadores de emoções.
Não é pela ansiedade que se mede a grandeza de um sentimento.
Sentar, ambos, de frente pra lua, havendo lua,
ou de frente pra chuva, havendo chuva,
e juntos fazerem um brinde com as taças,
contenham elas vinho ou café, a isso chama-se trégua.
Uma relação calma entre duas pessoas que,
sem se preocuparem em ser modernos ou eternos,
fizeram um do outro seu lugar de repouso.
Preguiça de voltar à ativa? Muitas vezes, é.
Mas também, vá saber, pode ser amor..."
(Martha Medeiros)

A TODOS...

"A todos trato muito bem
sou cordial,
educado,
quase sensato,
mas nada me dá mais prazer
do que ser persona non grata
expulso do paraiso
um homem sem juízo,
que não se comove com nada
cruel e refinado
que não merece ir pro céu,
uma vilão de novela,
mas belo e até mesmo culto e estranho,
com tantos amigos e amado,
bem vestido e respeitado
aqui entre nós
melhor que ser bonzinho
é não poder ser imitado..."

GOSTO DE PENSAR ASSIM...

"Gosto de pensar assim:
se a gente faz o que manda o coração,
lá na frente, tudo se explica.
Por isso, faço a minha sorte.
Sou fiel ao que sinto.
Aceito feliz quem eu sou.
Não acho graça em quem não acha graça.
Acho chato quem não se contradiz.
Às vezes desejo mal.
Sou humano.
Sou quase normal.
Não ligo se gostarem de mim em partes.
Mas desejo que eu me aceite por inteiro.
Não sou perfeito, não sou previsível.
Sou um louco.
Admiro grandes qualidades.
Mas gosto mesmo dos pequenos defeitos.
São eles que nos fazem grande.
Que nos fazem fortes.
Que nos fazem acordar.
Acho bonito quem tem orgulho de ser gente.
Porque não é nada fácil, eu sei.
Por isso continuo guerreiro.
Continuo na lua.
Continuo na luta.
No meio do caos que anda o mundo,
aceitar é ser feliz..."

ALGUMAS SENSAÇÕES...

"Meus olhos pesam e meu coração já bate fraco.
De tanto que bateu a vida inteira.
De tanto chorar amor e fracassos.
De tanto chorar pelo leite derramado
decido que se entender é complicado demais.
O quente queima e o frio é gelado demais,
vai o morno mesmo que não causa sensação alguma
e no momento eu não tenho sequer condições de sentir algo.
Sentir dá trabalho
e trabalho acarreta uma série de responsabilidades.
Responsabilidade é chato demais
e não aquece seus pés nos dias frios.
Enfim, opto por decidir somente pelo necessário.
Pelo que realmente vai fazer alguma diferença em minha vida
e desisto de tentar equilibrar-me,
isso é para artista circense e eu nem gosto tanto de circo.
Melhor deixar assim...
Uma porta de saída e uma de entrada.
O que vale fica e o que não vale que valesse.
Nada de culpa ou de noites mal dormidas,
nada de coração na boca em de frio na barriga.
Certas coisas não se explicam.
Não existem palavras que as descrevam ou soluções que as resolvam.
Sentimentos, gestos, sonhos e sorrisos.
A alma entende e a boca cala..."

UM POUCO DE MIM...

"Não, não ofereço perigo algum:
sou quieto como folha de outono
esquecida entre as páginas de um livro,
definido e claro como o jarro
com a bacia de ágata no canto do quarto...
se tomada com cuidado, verto água límpida
sobre as mãos para que se possa refrescar o rosto,
mas se tocada por dedos bruscos
num segundo me estilhaço em cacos,
me esfarelo em poeira dourada.
Tenho pensado se não guardarei
indisfarçáveis remendos das muitas quedas,
dos muitos toques, embora sempre os tenha evitado
aprendi que minhas delicadezas nem sempre são suficientes
para despertar a suavidade alheia,
e mesmo assim insisto.
Meus gestos e palavras são magrinhos como eu,
e tão morenos que, esboçados à sombra,
mal se destacam do escuro,
quase imperceptível me movo,
meus passos são inaudíveis
feito pisasse sempre sobre tapetes,
impressentido, mãos tão leves que uma carícia minha,
se porventura a fizesse, seria mais branda
que a brisa da tardezinha..."
(Caio Fernando Abreu)

quarta-feira, 3 de junho de 2009

COMO ME TORNEI LOUCO...

"Perguntais-me como me tornei louco.
Aconteceu assim:
um dia, muito tempo antes
de muitos deuses terem nascido,
despertei de um sono profundo
e notei que todas as minhas máscaras
tinham sido roubadas - as sete máscaras
que eu havia confeccionado e usado em sete vidas -
e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente,
gritando: "Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"
Homens e mulheres riram de mim
e alguns correram para casa, com medo de mim
E quando cheguei à praça do mercado,
um garoto trepado no telhado de uma casa gritou:
"É um louco!". Olhei para cima, pra vê-lo.
O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua,
e minha alma inflamou-se de amor pelo sol,
e não desejei mais minhas máscaras.
E, como num transe, gritei:
"Benditos, bendito os ladrões
que roubaram minhas máscaras!"
Assim me tornei louco.
E encontrei tanto liberdade
como segurança em minha loucura:
a e a segurança de não ser compreendido,
pois aquele desigual que nos compreende
escraviza alguma coisa em nós..."

quarta-feira, 13 de maio de 2009

MEU JEITO (my way)...

"...E agora o fim está próximo,
então eu encaro o desafio final.
Meu amigo, eu vou falar claro;
eu irei expor meu caso do qual tenho certeza.
Eu vivi uma vida que foi cheia.
eu viajei por cada e todas as rodovias
e mais, muito mais que isso,
eu fiz do meu jeito...
Arrependimetos, eu tive alguns
mas então, de novo, tão poucos para mencionar
Eu fiz, o que eu tinha que fazer
e eu vi tudo, sem exceção...
Eu planejei cada caminho do mapa
cada passo, cuidadosamente, no correr do atalho
Oh, mais, muito mais que isso,
eu fiz do meu jeito.
Sim, teve horas, que eu tinha certeza
Quando eu mordi mais que eu podia mastigar.
Mas, entretanto, quando havia dúvidas,
eu engoli e cuspi fora,
eu encarei e continuei grande
e fiz do meu jeito...
Eu amei, eu ri e chorei
Tive minhas falhas, minha parte de derrotas
e agora como as lágrimas descem...
Eu acho tudo tão divertido
de pensar que eu fiz tudo
e talvez eu diga, não de uma maneira tímida
Oh não, não eu
Eu fiz do meu jeito
e pra que é um homem, o que ele tem
Se não ele mesmo, então ele não tem nada
Para dizer as coisas que ele sente de verdade
e não as palavras que ele deveria revelar,
os registros mostram que eu recebi as desgraças
E fiz do meu jeito..."

domingo, 10 de maio de 2009

DOÇURA...

"Doçura é a maestria dos sentidos.
Olhos que vêem o fundo das coisas...
Ouvidos que escutam o coração das coisas...
Boca que fala a essência das coisas...
Doçura é o resultado
de uma longa jornada interior
ao âmago da vida e a habilidade
de lá descansar e assistir.
O que é realmente doce
nunca pode ser vítima do tempo...
Por que doçura é a qualidade da pessoa
cuja vida tocou a eternidade..."
(Brahma Kumaris)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

MEU ROTEIRO DE VIDA

"Sigo a vida conforme o roteiro,
sou quase normal por fora,
pra ninguém desconfiar.
Mas por dentro eu deliro e questiono.
Não quero uma vida pequena,
um amor pequeno,
um alegria que caiba dentro da bolsa.
Eu quero mais que isso.
Quero o que não vejo.
Quero o que não entendo.
Quero muito e quero sem fim.
Não cresci pra viver mais ou menos,
nasci com dois pares de asas,
vou aonde eu me levar.
Por isso, não me venha com superfícies,
nada raso me satisfaz.
Eu quero é o mergulho.
Entrar de roupa e tudo no infinito que é a vida.
E rezar – se ainda acreditar –
pra sair ainda bem melhor do outro lado de lá..."