"Fere esse dardo, um pedaço de mim
que entra em guerra consigo próprio.
Chama que se atravessa na carne
e luta contra o repouso que se busca.
Duas asas que cobrem a terra e o corpo sangra.
Duas asas lutando por erguer-se e libertar-se da terra.
Lutando por elevar o rosto do anjo ao olhar de deus.
Aí a luz, penetrando a densa camada
que transforma o mundo em escuridão.
A pele esticada sob o céu, os órgãos à transparência.
O desejo. Como um tambor, a pele esticada,
os nervos à superfície.
Pequenos veios esverdeados, cruzando-se infinitamente.
Um dédalo à visibilidade da pele, que estremece.
O céu em cima, o inferno a suportá-lo.
O corpo algures, a desejar o nome,
em fúria adocicada de querer fundir-se num outro,
de que procura o nome.
Suspende-se nas asas do tempo, fulge na memória,
procura o intervalo entre dois instantes.
Nem passado nem futuro.
O instante do Agora. O Aqui onde é.
A pele estremece entre os lilases da noite,
perde-se na saliva salgada do mar.
O corpo enlouquece à procura do nome que o faz vibrar.
Esse dardo traz consigo o sabor de um nome..."
(Maria João Cantinho)
domingo, 24 de janeiro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário