terça-feira, 12 de outubro de 2010

CAMINHO

"Tenho sonhos cruéis; n'alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...

Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...

Porque a dor, esta falta d'harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu d'agora,

Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora."

(Camilo Pessanha)

Um comentário:

NOCTÍVAGA disse...

Muito lindo esse soneto. Lemra-me os tempos de universidade, quando estudamos CLEPSIDRA. Difícil explicar "Vou a medo na aresta do futuro embebido de saudades do presente". Mas a sensação expressa por eles , essa povoou e ainda me povoa a alma.