segunda-feira, 30 de agosto de 2010

DURANTE AS MADRUGADAS...

"Entre notícias antigas e muralhas
construí com você
um amor feito alucinadamente de palavras
Meus versos seduzem os seus
seus versos aliciam os meus
Coloquei nossos livros juntos na estante
para que se toquem
e se amem clandestinamente
durante as madrugadas..."
(Iracema Macedo)

MEUS OLHOS NOS TEUS OLHOS...

"Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos,
já não se adoçará junto a ti a minha dor.
Mas para onde vá levarei o teu olhar
e para onde caminhes levarás a minha dor.
Fui teu, foste minha. O que mais?
Juntos fizemos uma curva
na rota por onde o amor passou.
Fui teu, foste minha.
Tu serás daquele que te ame,
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.
Vou-me embora. Estou triste:
mas sempre estou triste.
Venho dos teus braços.
Não sei para onde vou...
Do teu coração me diz adeus uma criança.
E eu lhe digo adeus."
(Pablo Neruda)

A FORÇA QUE JÁ PERDEMOS...

"Quando o amor se torna uma cruz,
as cartas de amor não se escrevem mais sobre papel.
Escrevem-se sobre o peito sem que ninguém as ame,
sem que haja vento que as leve ou força que as arranque,
sem que o tempo as feche em envelopes selados.
As palavras começam a cobrar-nos a força que já perdemos.
Afinal, as dores que existem nos destroços do meu peito
são apenas cartas de amor solitário
que choram destinatários inexistentes..."
(Diana)

SERÁ ISSO?

"-Seria isso, então?
Você só consegue dar
quando não é solicitado,
e quando pedem algo você
foge em desespero.
Como se tivesse medo
de ficar mais pobre,
medo de que se alcance
seu centro e nesse centro
exista alguma coisa
que você não quer mostrar
nem dar ou dividir.
Contido, dissimulado,
você esconde essa coisa,
será assim?"
(Caio Fernando de Abreu)

SOU VERDADE

"Na minha vida fui sempre um outro qualquer
Era tão fácil, bastava apenas escolher
Escolher-me a mim, pensei que isso era vaidade
Mas já passou, não sou melhor mas sou verdade
Não ando cá para sofrer mas para viver
E o meu futuro há-de ser o que eu quiser..."
(Fernando Tordo)

POR UM TRIZ...

"Estou lá onde me invento e me faço:
De giz é meu traço.
De aço, o papel.
Esboço uma face a régua e compasso:
É falsa.
Desfaço o que fiz.
Retraço o retrato.
Evoco o abstrato
Faço da sombra minha raiz.
Farta de mim, afasto-me e constato:
Na arte ou na vida,
Em carne, osso, lápis ou giz
Onde estou não é sempre
E o que sou é por um triz..."
(Maria Esther Maciel)

A VITÓRIA NOSSA DE CADA DIA...

"Não temos usado a palavra amor
para não termos de reconhecer a sua contextura de ódio,
de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios.
Temos mantido em segredo a nossa morte
para tornar a nossa vida possível.
Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa.
Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença,
sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada.
Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior
e por isso nunca falamos no que realmente importa.
Falar no que realmente importa é considerado uma gaffe.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez
de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses.
Não temos sido puros e ingénuos para não rirmos de nós mesmos
e para que no fim do dia possamos dizer pelo menos não fui tolo
e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz.
Temos sorrido em público do que não sorriríamos
quando ficássemos sozinhos.
Temos chamado de fraqueza a nossa candura.
Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo.
E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia..."
(Clarice Lispector)

O AMOR QUER A POSSE

"O amor quer a posse,
mas não sabe o que é a posse.
Se eu não sou meu, como serei teu,
ou tu minha?
Se não possuo o meu próprio ser,
como possuirei um ser alheio?
Se sou diferente daquele
de quem sou idêntico,
como serei idêntico
daquele de quem sou diferente?"
(Bernardo Soares)

VISLUMBRE DO TEU ROSTO

"E o que eu sinto é o tal do amor.
Aquele surrado, mal-falado,
desacreditado e raro amor,
que eu achava que não existia mais.
Pois existe.
E arrebata, atropela, derruba,
o violento surto de felicidade
causado pelo simples vislumbre
do teu rosto..."
(Lucas Silveira)

SOU EU...

"Não há em mim inquietudes
ou desassossegos restantes.
Fez-se silêncio em minha alma
para que o bater de asas do meu sonho
pudesse retumbar para além de mim.
Fecha teus olhos e me busca.
Ouves teu peito? Sou eu..."
(Patricia Antoniete)

COMO UM ASSOMBRO

"Hoje é sim cicatriz debaixo do pé,
às vezes dói, mas nunca vejo.
Mas sempre dormirá em ti como um assombro
tudo o que eu fora
e que de tão grande nunca caberia
nas palmas de tuas mãos descuidadas..."
(Ivana Pascoal)

AQUI ESTÁ MINHA VIDA

"Aqui está minha vida.
Esta areia tão clara com desenhos
de andar dedicados ao vento.
Aqui está minha voz,
esta concha vazia, sombra de som
curtindo seu próprio lamento.
Aqui está minha dor,
este coral quebrado,
sobrevivendo ao seu patético momento.
Aqui está minha herança,
este mar solitário
que de um lado era amor
e, de outro, esquecimento..."
(Cecília Meireles)

ERAS TU A CLARIDADE...

"O tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,
como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,
mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
eram os teus olhos, labirintos de água, terra,
fogo, ar, que eu amava quando imaginava que amava.
Era a tua voz que dizia as palavras da vida.
Era o teu rosto. Era a tua pele.
Antes de te conhecer, existias nas árvores
e nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde.
muito longe de mim, dentro de mim,
eras tu a claridade..."
(Jose Luis Peixoto)

TEUS GESTOS...

"Meu amor independe do que me fazes.
Não cresce do que me dás.
Se fosse assim ele flutuaria
ao sabor dos teus gestos.
Teria razões e explicações.
Se um dia teus gestos de amante
me faltassem,
ele morreria como a flor
arrancada da Terra."
(Rubem Alves)

NÃO DEMORES A CHAMAR-ME...

"Quando acordo
devolvo a mente ao corpo descansado,
exaurido de todo o mal, de todo o perigo,
mas nem sempre passo os dias sossegado.
O coração pressente tua continua ausência,
este mal-estar que tem a ver
com as sucessivas tentativas
de ser feliz e nunca conseguir.
Passei a vida nisto.
É provável que fale de ti para descobrir
onde é que ainda gosto de mim.
No fundo, tu não existes,
ou já não existes dentro de mim,
fazes parte do meu falhanço.
Surge o risco de enlouquecer sozinho.
Mas, se me estiveres a ouvir,
ajuda-me a caminhar na tua direção.
Não me dês espelhos,
não me enganes mais,
não demores a chamar-me..."
(Al Berto)

DEIXA-ME DORMIR...

"Deixa-me dormir
quando morre a noite.
Assim o amor será absoluto
sacrifício, impassível sangue,
árido prazer.
Deixa-me dormir
quando morre a noite.
Assim o amor guardará
uma grega ilusão de sonho
e embriaguez..."
(Ana Marques Gastão)

EM ERUPÇAO...

"O ímpeto de crescer
e viver intensamente
foi tão forte em mim
que não consegui resistir a ele.
Enfrentei meus sentimentos.
A vida não é racional;
é louca e cheia de mágoa.
Mas não quero viver comigo mesma.
Quero paixão, prazer, barulho,
bebedeira, e todo o mal.
Quero ouvir música rouca,
ver rostos, roçar em corpos,
beber um Benedictine ardente.
Quero conhecer pessoas perversas,
ser íntimas delas.
Quero morder a vida,
e ser despedaçada por ela.
Eu estava esperando.
Esta é a hora da expansão,
do viver verdadeiro.
Todo o resto foi uma preparação.
A verdade é que sou inconstante,
com estímulos sensuais em muitas direcções.
Fiquei docemente adormecida
por alguns séculos,
e entrei em erupção sem avisar..."
(Anais Nin)

A ANDORINHA E EU...

"Linha invisível
liga-me àquela andorinha:
tato percorrendo
um trajeto de comunhão.
O pássaro debate-se em meu peito.
Ou coração?
A andorinha se esvai na tarde.
Leva consigo
o que não sei de mim..."
(Dora Ferreira da Silva)

MORDEM GESTOS E PALAVRAS...

"Não adormeças já.
Diz-me outra vez do rio
que palpitava no coração
da aldeia onde nasceste,
da roupa que vinha a cheirar
a sonho e a musgo e ao trevo
que nunca foi de quatro folhas;
e das ervas úmidas e chãs
com que em casa
se cozinham perfumes
que ainda hoje te mordem
os gestos e as palavras..."
(Maria do Rosário Pedreira)

ALÉM DAS COISAS JUSTAS

"Quero-te para além das coisas justas
e dos dias cheios de grandeza.
A dor não tem significado
quando ma roubam as árvores,
as ágatas, as águas.
O meu sol vem de dentro do teu corpo,
a tua voz respira a minha voz.
De quem são os ídolos, as culpas,
as vírgulas dos beijos?
Discuto esta noite
apenas o pudor de preferir-te
entre as coisas vivas..."
(Joaquim Pessoa)

MEU GRANDE GESTO DE CORAGEM

"Remexo dentro de mim,
nem sempre é fácil saber
a parte de nós que ficou no caminho:
toco... faço a ferida arder.
Sentir a ferida,
é a maneira mais rápida de curá-la.
Nada em mim foi covarde,
nem mesmo as desistências:
desistir, ainda que não pareça,
foi meu grande gesto de coragem..."
(Cah Morandi)

EU QUERO COLO

"Eu quero colo
Um berço
Um braço quente em torno do meu pescoço
Uma voz que cante baixo
Que pareça querer me fazer chorar
Eu quero um calor no inverno
Um estravio morno da minha consciência
E depois em sumo
Um sonho calmo
Um espaço enorme
Como a lua rodando entre as estrelas..."
(Bernardo Soares)

NA MINHA SOLIDÃO...

"Estamos exaustos:
Eu por te esperar,
Tu por não chegares.
Vem...
Não queres voltar?
Estás farto de amor,
Ou tens pouco para dar?
Ou não crês nas minhas oferendas?
Vem...
Pousa tua teimosia
Na minha solidão..."
(Cleri Bucioli)

NA MARGEM DO CORAÇÃO

"Se de repente me esqueces,
não me procures,
já te esqueci também.
Se consideras longo e louco
o vento de bandeiras
que canta em minha vida
e te decides a me deixar
na margem do coração
no qual tenho raízes,
pensa que nesse dia
a essa hora
levantarei os braços
me nascerão raízes
procurando outra terra..."
(Pablo Neruda)

PORQUE ASSIM QUE ÉS...

"Então me vens e me chega
e me invades
e me tomas
e me pedes
e me perdes
e te derramas sobre mim
com teus olhos sempre fugitivos
e abres a boca
para libertar novas histórias
...e outra vez me completo assim,
sem urgências,
e me concentro inteiro
nas coisas que me contas,
e assim calado,
e assim submisso,
te mastigo dentro de mim
enquanto me apunhalas
com lenta delicadeza
deixando claro em cada promessa
que jamais será cumprida,
que nada devo esperar
além dessa máscara colorida,
que me queres assim
porque assim que és..."
(Caio Fernando de Abreu)

NADA A FAZER

"Inúteis as lágrimas.
Dispensável pôr–me de joelhos.
Se alegre, se saltitante,
à tua frente, como um potro adolescente,
deixei de te encantar,
não seria com a espinha dobrada
e os olhos nevados de sal
que eu faria o teu coração
novamente bombear
carinho por mim.
Nada a fazer.
Exceto aprender,
com a aurora a renascer."
(Adalberto Monteiro)

COMO UMA LUA NA ÁGUA...

"Então as minhas mãos
procuram afogar-se no teu cabelo,
acariciar lentamente
a profundidade do teu cabelo,
enquanto nos beijamos como se estivéssemos
com a boca cheia de flores ou de peixes,
de movimentos vivos, de fragrância obscura.
E se nos mordemos, a dor é doce;
e se nos afogamos num breve e terrível
absorver simultâneo de fôlego,
essa instantânea morte é bela.
E já existe uma só saliva
e um só sabor de fruta madura,
e eu sinto-te tremular contra mim,
como uma lua na água...”
(Júlio Cortázar)

COMPOTA DE AMOR

"Fui guardando tudo:
O cheirinho do seu cabelo.
A cor outono do seu olhar.
O som do seu suspiro.
E o segredo que não quis me contar.
Guardei a pausa que ficou
Entre a palavra e o beijo
Deixei tudo dormindo
No doce da saudade
Coloquei num potinho
E fiz uma compota de amor."
(Inez Generoso)

O TEMPO DEVORA...

"Quando a noite chegar cedo
e a neve cobrir as ruas,
ficarei o dia inteiro na cama
pensando em dormir com você.
Quando estiver muito quente,
me dará uma moleza
de balançar devagarinho na rede
pensando em dormir com você.
Vou te escrever carta e não mandar.
Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir.
Vou ver Júpiter e me lembrar de você.
Vou ver Saturno e me lembrar de você.
Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar.
O tempo não existe.
O tempo existe, sim, e devora..."
(Caio Fernando Abreu)

MEU PONTO FINAL

"Eu descobri que vale a pena
ficar 3 horas te olhando sentada num sofá
mesmo que o dia esteja explodindo lá fora.
E quando já não sei mais o que sentir por você,
eu respiro fundo perto da sua nuca
e começo a querer coisas que nem sabia que existiam…
você me transformou no eufemismo de mim mesma…
você diz que me quer com todas as minhas vírgulas,
eu te quero como meu ponto final."
(Tati Bernardi)

EU VOU...

"Eu preciso respirar.
Me aperte o pause,
me deixe em stand by,
eu não dou conta do meu coração
que quer muito.
Eu preciso desatar o nó.
Eu preciso sentir menos,
sonhar menos, amar menos,
sofrer menos ainda.
Aonde está a placa de PARE
bem no meio da minha frase?
Confesso: eu não consigo.
Nada em mim pára,
nada em mim é morno,
nada é pouco,
não existe sinal vermelho
no meu caminho
que se abre e me chama.
E eu vou...
Com o coração na mochila,
o lápis borrado,
o sorriso e a dúvida,
a coragem e o medo,
mas vou..."
(Fernanda Mello)

CADA LUGAR NA SUA COISA...

"Tenho dois olhos mudos
que se recusam a ver o óbvio
uma boca cega
que se nega a dizer adeus
um coração que pensa
uma cabeça que pulsa
e estas mãos descalças
ajoelhadas a teus pés..."
( Valéria Tarelho)

INTIMIDADE

"Intimidade é quando a vida da gente
relaxa diante de outra vida e respira macio.
Não há porque se defender de coisa alguma
nem porque se esforçar para o que quer que seja.
O coração pode espalhar os seus brinquedos.
Cantar a música que cada instante compõe.
Bordar cada encontro
com as linhas do seu próprio novelo.
Contar as paisagens que vê
enquanto cria o caminho.
Andar descalço,
sem medo de ferir os pés."
(Ana Jácomo)

MEU ÚNICO SIM...

"No dia em que pensei em morrer,
Ela me sorriu.
Tudo era escuro...
Mas ainda assim ela era linda
Quando eu a quis ela disse não
Um não sorrindo que não me magoou.
Um não tão lindo que parecia sim...
E que entre tantos nãos
Caiu gostoso, dizendo sim...
Naquela noite escura
Ela era meu único sim..."
(Vladimir Maiakóvski)

NO IMPROVISO DA DOR...

"Por todas as coisas aprendidas
inutilmente,
por todas as coisas guardadas
no improviso da dor
agora recolho meu próprio vulto
no que permite a solidão
neste duro chão humano
mas me falta o suor
do teu corpo
e a direção dos ventos..."
(Otávio Afonso)

UM SER...

"Existe um ser que mora dentro de mim
como se fosse casa dele, e é.
Trata-se de um cavalo preto e lustroso
que apesar de inteiramente selvagem
-pois nunca morou antes em ninguém
nem jamais lhe puseram rédeas nem sela
-apesar de inteiramente selvagem tem por isso
mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo..."
(Clarice Lispector)

UM SER...

"Existe um ser que mora dentro de mim
como se fosse casa dele, e é.
Trata-se de um cavalo preto e lustroso
que apesar de inteiramente selvagem
-pois nunca morou antes em ninguém
nem jamais lhe puseram rédeas nem sela
-apesar de inteiramente selvagem tem por isso
mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo..."
(Clarice Lispector)

NADA SOBRE MIM

"Eu revirei tuas páginas
até encontrar as palavras
que falavam de mim.
Desencapei teu livro
em busca de uma dedicatória qualquer
em vão:
só havia silêncios.
Reli todas as notas do autor
e do revisor.
Não havia respostas.
Não havia entrelinhas.
Procurei nos índices e nos anexos.
Nada.
No livro desbotado
e amarelecido de tua vida
nenhuma palavra sobre mim."
(Clara Vasconcellos)

POEMAS DE SALIVA

"Deslizo poemas de saliva
No rascunho da tua pele
Rimas profanas, estrofes abissais
O sentido profundo de um verso
Fala a língua dos teus gestos
Em convulsões gramaticais."
(Ricardo Kelmer)

NOVO COMEÇO...

"Sabe o que é um coração
amar ao máximo de seu sangue?
Bater até ao auge de seu baticum?
Não, você não sabe de jeito nenhum.
Agora chega.
Reforma no meu peito!
Pedreiros, pintores,
raspadores de mágoas aproximem-se!
Rolos, rolas, tintas,
tijolo comecem a obra!
Por amor, mestre de Horas
Tempo, meu fiel carpinteiro
comece você primeiro
passando verniz nos móveis
e vamos tudo de novo
do novo começo..."
(Elisa Lucinda)

MEU DESEJO...

"Escuta,
Eu não quero contar-te
O meu desejo
Quero apenas contar-te
A minha ternura
Ah! se em troca
De tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
-Eu soubesse repor-
No coração despedaçado
As mais puras alegrias
De tua infância..."
(Manuel Bandeira)

EU NÃO QUERO O RECOMEÇO...

"Eu não quero recomeço.
Quero uma estrada nova
Sem o peso das culpas
E desculpas esfarrapadas.
Quero apenas uma mochila
Transbordando de ilusão e esperança.
Deixo para trás a mala abarrotada
De mágoas e pedidos de perdão.
Preciso colocar o pé na estrada.
Só falta o endereço do seu coração..."
(Inez Generoso)

O MAIS IMPORTANTE NA VIDA

"O mais importante na vida
É ser-se criador –criar beleza.
Para isso,
É necessário pressenti-la
Aonde os nossos olhos não a virem.
Eu creio que sonhar o impossível
É como que ouvir uma voz
De alguma coisa que pede existência
E que nos chama de longe.
Sim, o mais importante na vida
É ser-se criador.
E para o impossível
Só devemos caminhar de olhos fechados
Como a fé e como o amor..."
(Antònio Botto)

SACIEDADE

"Só pedaços do mesmo tamanho
ficam prontos ao mesmo tempo,
sejam nacos ou migalhas.
A força para sacudir a panela
depende do que se põe nela
às vezes ao fogo brando
às vezes na fornalha.
Os crepes pedem paciência
as panquecas agilidade.
Cada receita pede
um gesto mais suave
ou mais grosseiro
conforme seu tempero.
Assim também se prepara
o gosto dos dias
o sabor das noites
até a saciedade..."
(Alice Ruiz)

domingo, 29 de agosto de 2010

SÓ TU...

"De todas as que me beijaram,
De todas as que me abraçaram,
já não me lembro, nem sei...
Foram tantas as que me amaram,
Foram tantas as que eu amei.
Mas tu, que rude contraste,
Tu que jamais me abraçaste,
Tu que jamais me beijaste,
Só tu nesta alma ficaste,
De todas as que eu amei..."
(Fernando Pessoa)

MAIS UMA SAUDADE....

"Quanto de ti, saudade
Há nas minhas horas desertas...
Quando em ânsias me despertas
Tão tortuosa eternidade
Neste tempo que me dói
Pelo tempo que já foi
E que me traz tanto de ti.
Saudade...
No eco das palavras ditas
No oco das que não foram escritas
Rasgam-se mil pedaços de mim
Não principias, nem tens fim…
Saudade..."
(Maria das Quimeras)

POEMA DE AMOR INACABADO

"Sou os meus próprios versos
à procura da melodia de minh’alma.
Corro espaços entre as linhas,
pulo vírgulas e tento ultrapassar
as barreiras de minha própria consciência.
Sou o meu universo
onde vivo uma grande paixão
e exploro o mundo inatingível
onde só meus sonhos alcançam.
Sou apenas um poema de amor inacabado
na eterna procura de um ponto final
que me traga a tão sonhada felicidade..."
(Mi)

PRESENÇA DISTANTE

"Sinto muita falta,
desde que você partiu.
A saudade ressalta.
A ficha ainda não caiu...

Lembranças do convívio saudável,
da pessoa amável,
da foto antiga,
da palavra amiga.

Mas algo me conforta,
quando a tristeza bate na porta.
A sua presença pode ser sentida,
mesmo fora do plano físico, na minha vida.

Sinto sua energia na imensidão,
seu brilho inspirador
vindo de um patamar superior,
de outra dimensão..."

(Vitor Durão)

sábado, 28 de agosto de 2010

SER-TE

"Me leva onde posso ficar perto de teu coração
E me acolher entre as têmporas que saltitam
Para que minha alma caiba na calma dessas mãos
E que meus pés se enlacem nos teus passos,
Ficar na paz que somente o teu abraço têm
Contornar o teu rosto e aderir-me em tua pele
Como tatuagem que se adere e marca fundo...
Elevar-me aos céus sob o bálsamo dos teus beijos,
Ser teu insano desejo, ser-te tudo, ser-te a mente,
Ser-te sumo, ser-te gozo, teu amor eloqüente..."
(Cáh Morandi)

DE PENSAR EM TI...

"Desprendo-me da prenda
que dá amarras e corda
às correntes do perder-te.
Mutilável, valido cada voz
deste amor úmido com que inundo
as lacunas destes nós.
Desamarro tais cordões
e esbarro em teus bordões
de amor-sincero-que-espero
talvez ontem, jamais amanhã.
De tais medos
espero camadas reticentes.
De teu afeto que me faz bela
quero as flores
a queimar em cinzas velas..."
(Gláucia Sonhadora)

SENTIMENTOS CALMOS...

"Ela sempre sentia uma estranha liberdade em dias chuvosos.
Quando o mundo não parecia um lugar seguro,
a chuva que caia lá fora aparecia como uma dádiva ou um consolo.
Estava numa auto-prisão, num auto-flagelo.
Se dependesse da sua vontade, teria lacrado aquele quarto.
A lembrança dele era quase sufocante ali
e envolvia com imensa incredulidade os dias
que se seguiram àquilo que foi como a morte.
E depois veio a tristeza, porque a mente sabia
o que o coração ainda não podia aceitar.
Continuar naquela inércia seria ainda pior.
Decidiu reagir e quando seus músculos protestaram,
ela os ignorou.
Estava disposta a fazer qualquer coisa para apagar
a sensação de vazio que parecia dominar sua vida.
Quando o crepúsculo chegou ela acendeu as luzes,
respirou fundo e especulou se não havia
um motivo mais profundo para agir daquela forma.
Havia sim, uma lacuna em sua vida que se expandindo…
seria injusto!
E de repente tudo ficou calmo, uma estranha calma.
Pena que os sentimentos calmos
sejam tão efêmeros e dissimulados..."
(Dulce Miller)

GOSTO DOS AMIGOS

"Gosto dos amigos
Que modelam a vida
Sem interferir muito;
Os que apenas circulam
No hálito da fala
E apõem, de leve,
Um desenho às coisas.
Mas, porque há espaços desiguais
Entre quem são
E quem eles me parecem,
O meu agrado inclina-se
Para o mais reconciliado,
Ao acordar,
Com a sua última fraqueza;
O que menos se preside à vida
E, à nossa, preside
Deixando que o consuma
O núcleo incandescente
Dum silêncio votivo
De que um fumo de incenso
Nos liberta..."
(Sebastião Alba)

AO QUE IMPORTA

"Desisti de salvar o mundo
quero salvar somente o dia
salvar a alegria do nosso encontro
então me preocupo em manter
a doçura do rosto
a leveza do traço
o balançar do corpo
meu corpo em teu abraço
então me despreocupo
me ocupo ao teu agrado
é isso que vale
o resto ao acaso..."
(Cáh Morandi)

SOBRE A MESA QUE NÃO EXISTE

Fico em meio a todo este tumulto sonoro.
E puxo as ligações todas até mim
enquanto me conecto ao outro mundo,
que não sei dizer ser real ou não.
Exaustiva situação de usar cedilhas
em algumas frases e em outras, não.
Sou inconstante
e um tanto inconsequente sob a minha lua.
Sobre o meu desenho astral,
na curva da linha da minha mão.
Esquerda. Sou de direita
e são ignorantes pessoas que alto falam.
Discursam no meu palanque de cada dia.
Estouram as bolhas das minhas feridas.
Arrancam as cascas das minhas cicatrizes.
Fumam e se prostituem nas horas vagas.
Enquanto minha ausência faz a sala.
-E você ficou quieta?
Permaneço assim,
desde que abandonei o ventre de minha mãe
no mais incrédulo silêncio.
E a partida se tornou constante.
O silêncio, companhia.
Um gato que dorme noite e dia.
Um cactus na sala, em vaso cor-de-barro,
sobre a mesa que não existe."
(Gláucia Sonhadora)

JUNTO

"Estilingue em mim
pássaro que aprendeu a voar
ainda ontem
com suas asas de anjo mal formado
que me pede que esqueça
a singular leveza do teu sorrir
enquanto cultuo
a graça de viver in love.
Esqueço com a dor,
ira e anemia do sentir
frio, amor.
Saudade que não fecha.
-Vem dormir abraçada comigo?-
Pelas noites que mascaram
as finas farpas da tua ausência.
Entre suas pernas frias quero estar
e não correr ao alto do esquecimento.
Acalente o desespero da minha verdade,
entregue sua alma
que deixo o chão embarcada
em seu amor de curtas asas
num voo sem volta
em que minhas asas se quebrem
no mais alto céu
e que a queda compense
a aventura de viver
mutante como vento,
que sopra e faz tormento
em todo canto que há em nós."
(Tadeu Marcon)

UM AMOR QUE CHEGOU...

"Poderia ter sido um sonho
se cada palavra ou gesto
não estivesse assim tão perto
guardados em cada pedacinho de mim.
E estava eu assim, como um livro
que se mantivesse há muito tempo
escondido em uma prateleira
cheio de teias de aranha e poeira
e de repente fosse aberto
com um vento forte
de um coração deserto
e assim ficasse
até o despertar de um novo dia
a felicidade voltaria
trazendo tudo outra vez.
Um amor que chegou
e de repente se fez..."
(Du)

ESCRITO EM NEON

"Venho de cruzar o último fio da última linha
que separa a dor e o nada.
Dos braços teus, febril, com rosto sujo, pueril.
Penso em quanto assola cada dia a sua demora.
Seu gesto de que não se importa
e um sorriso a fim de acalmar minha fúria
de ser o que sou.
Não sou outra. Sou a mesma. Sou pura.
Grito minha transparência dolorosa
bem ao pé do teu ouvido.
Exploro seus tímpanos com a minha verdade bem guardada.
Não te culpo. Não há manual de instrução.
Apenas o negro precipício à beira dos nossos pés.
A minha cobiça é pelo teu afeto.
Cometo todos os pecados capitais.
Sentada na primeira fila do teu leilão diário.
De bolsos vazios, mas com uma fé enorme.
Tenho uma fome que não passa e a tua sede me consome.
Sou um erro de concordância no seu romance pacifista.
Sou a personagem nazista.
Onomatopeia de desenho animado.
Coiote caindo. Precipitando.
Sou a poeira circular da sua queda.
Fratura Exposta. Me dê seu nome.
Anela-me todos os dedos.
Circunda-me de espinhos, mereces o meu sangrar.
Tu és o substantivo próprio
que conjuga todos os verbos de mim.
Teu óleo sobre minha tela sempre será arte nossa.
E toda noite de luar
tem seu nome escrito em neon..."
(Gláucia Sonhadora)

SEMPRE FICA

"você continua existindo
em algum lugar em mim
que nem eu mesma sei
aonde ao certo encontar
mas sei que você vive
de uma forma feliz
e audaciosa de permanecer
fomos idealistas
quando queríamos ser verdadeiros
mas amor e promessas
exigem coragem
e nós perdemos..."
(Cáh Morandi)

NÃO ENTENDO...

"Isso é tão vasto
que ultrapassa qualquer entender.
Entender é sempre limitado.
Mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa
quando não entendo.
Não entender, do modo como falo, é um dom.
Não entender,
mas não como um simples de espírito.
O bom é ser inteligente e não entender.
É uma benção estranha,
como ter loucura sem ser doida.
É um desinteresse manso,
é uma doçura de burrice.
Só que de vez em quando vem a inquietação:
quero entender um pouco.
Não demais:
mas pelo menos entender que não entendo..."
(Clarice Lispector)

QUE SEJA DOCE...

“Então, que seja doce.
Repito todas as manhãs,
ao abrir as janelas
para deixar entrar o sol
ou o cinza dos dias, bem assim:
que seja doce.
Quando há sol,
esse sol bate na minha cara
amassada do sono ou da insônia,
contemplando as partículas
de poeira soltas no ar,
feito um pequeno universo,
repito sete vezes para dar sorte:
que seja doce, que seja doce,
que seja doce e assim por diante.”
(Caio Fernando Abreu)

ROMÂNTICA

"Uma certeza simples se levanta
ser imperfeito e rouco
do meio das ruínas.
Sou meu resto.
Se acreditasse
sonhando com neve imaculada
e um esgarçado véu
por sobre um bosque
de vegetais rasteiros
noite de lua
e o impossível talvez começo
ou recomeço de um amor;
resto porque de noite pardas
desilusões semeiam gatos cegos
como se ainda pudesse...
Essa pureza
e essa razão estranha
apenas rebaixaram minha voz.
Ainda vive o resto..."
(Dade Amorim)

ESTOU DISSOUVIDO...

"Um outro dia, embaixo da chuva,
esperamos um barco à beira de um lago;
a mesma lufada de aniquilamento me atinge,
desta vez por felicidade.
Assim, às vezes,
a infelicidade ou a alegria desabam sobre mim,
sem nenhum tumulto posterior,
nenhum outro sentimento: .
estou dissolvido, e não em pedaços:
caio, escorro, derreto.
Este pensamento levemente tocado,
experimentado, tateado
-como se tateia a água com pé- pode voltar.
Ele nada tem de solene.
É exatamente a doçura."
(Roland Barthes)

SOBRETUDO NO NADA

"E hoje tudo voltou a dormir dentro de mim
como sempre acontece depois do tempo
em que a paixão avassaladora esfria;
tudo morre, e é somente inicio do outono
mil pétalas de mim espalhadas, arrastadas
em terras que nem ainda tem nome.
O silêncio é sempre o que diz tudo
nisso tudo em que a tristeza são cacos
dos vidros espalhados para os pés nus;
o mundo é só o mundo para o que vejo
a menina dentro de mim descansa
e eu sei, ela não vai mais despertar.
Então a menina que não mais vivia
ainda estava vestida com roupas de festas
e na face o sorriso sumia por tanta espera;
não mais se fazem esperanças como antes
e foi falta de fé ou foi ausência de crença
que nos toma as crianças que nos habitavam.
Que saibas que eu não pude contra tanta falta
que noites seguidas o frio me abraçou
e eu fraca, indefesa me rendi a esse alento;
abracei tanta ausência de tudo que estava perto
sem fome, sem nome, sem uma lembrança
fui apagando nos retratos e fotografias;
Tomei o café amargo de pó e de lágrima
vesti o sobretudo preto sobre o nada
e quem dera que a espera valesse
ao menos o perfume que foi gasto;
quem dera que os amores durassem
a tempo de todos os sonhos cometidos..."
(Cáh Morandi)

MAQUINISTA DE MIM...

Não tenho capítulos. Sou o texto puro.
Sou o plano de fundo, o branco que antecede o ato.
Nem novela, nem seriado. Sou o acabado.
Escrita cursiva e subversiva,
uma preposição proposta ao oposto,
sei não estar disposta e eis a minha resposta
que dispensa seu jogo de pontuação.
Minha estória é qualitativa,
sem traços nem recortes do teu sexo explícito
-manchete do jornal do dia.
Não cabe em meu contexto.
Suspensa em tua gaveta, sem abas, sem alça.
Não caibo em divisórias: estico bem as pernas
e traço o gancho pelo teu pescoço duvidoso.
E que soe o alarme de umidade no arquivo morto.
Escorro pelo ralo, água limpa que me tornas.
Sou impressão digital num espelho sujo de motel.
Caixa de entrada e minha mensagem não é de paz sublime,
é subliminar.
Meus olhos não buscam o teu melhor, tenho mãos.
Te quero arma de fogo, dedo no gatilho
e disparo sincronizado.
Sou o trem na contra-mão.
Maquinista de mim, busco a rota de colisão..."
(Gláucia Sonhadora)

UMA RAIVA PERPÉTUA...

"Carrego no vento do temporal
uma raiva perpétua,
tenho o fôlego obstinado,
tenho requintes de alquimista,
sei como alterar o enxofre
com a virtude das serpentes,
e, na caldeira, sei como dar à fumaça
que sobe da borbulha
a frieza da cerração nas madrugadas;
vou cultivar o meu olhar,
plantar nele uma semente que não germina,
será uma terra que não fecunda,
um chão capaz de necrosar como as geadas
as folhas das árvores, as pétalas das flores
e a polpa dos nossos frutos;
não reprimirei os cantos dos lábios
se a peste dizimar nossos rebanhos,
e nem se as pragas devorarem as plantações,
vou cruzar os braços
quando todos se agitam ao meu redor,
dar as costas aos que me pedem por socorro,
cobrindo os olhos para não ver suas chagas,
tapando as orelhas para não ouvir seus gritos,
vou dar de ombros se um dia a casa tomba:
não tive o meu contento,
o mundo não terá de mim a misericórdia..."
(Raduan Nassar)

MOON...

"Vento contra a face.
Palavra contra o mundo.
Declamo em linha bélica
qualquer dizer imundo
do longe e a saudade sua,
do desejo e seu apelo
que transgride todo medo.
Sou o rasgo da seda.
Um fio de cabelo
em seu bucólico passeio.
Atravesso mais que a rua
e pouso - mariposa -
pra descansar em teu seio
e banhar-te do meu afeto
perene, singular, completo.
E quando é noite e chega a Lua
és reza constante.
Verbo da minha oração
por meu corpo entre o seu -
santuário de volúpia e fascinação."
(Gláucia Sonhadora)

SALTO PARA A ESPERANÇA

"Dizer quem eu sou
eu não sei
mas sei quem posso ser
sei o que não quero ser
sei do que você gostaria
que eu fosse
e me permito
e abro os caminhos
esperando que me defina.
Salto desesperadamente
para a esperança..."
(Cáh Morandi)

POEMA SEM VOZ

"Nenhum poema canta o desatino
nenhuma voz, ainda que clandestina,
pôde falar da pele que acendemos.
Nenhuma loa se eleva transgredida
a essa paixão calada e desmedida
que se esfacela ao vento nas calçadas.
O que dói mais é o que não mais existe
e esse pranto amargo que persiste
anônimo nos olhos sempre secos..."
(Dade Amorim)

NEM DRUMOND, NEM QUINTANA

"O anjo torto voltou o rosto resplendente
e disse apenas: -Assim não é possível.-
Desviou os olhos, retirou o amparo
e nem conselhos deu.
O anjo torto se foi e depressa me esqueceu.
Acredito que tudo isso seja só falta
de um estilo próprio.
Afinal, ninguém pode amar alguém
que não seja um outdoor de si mesmo
não saiba cantar e nem ao menos
saiba usar o photoshop.
Ninguém em sã consciência entende
tanta falta de cadência, tanta resignação
ante o real e tal falta de raça.
Qual é a graça de não ter respostas
e de viver entre livros e teclados
e nem ao menos se inscrever num chat
– maneira diuturna de procurar sua turma?-
Além de tudo os anjos voltaram à moda
e agora vivem diante dos espelhos
comprados secretamente na Avon
descobrindo o prazer da própria imagem
insipientes narcisistas
intolerantes para com mortais
que lhes pareçam angélicos demais..."
(Nem Drumond, nem Quintana)

A BORBOLETA E A FLOR

"Passa uma borboleta por diante de mim
e pela primeira vez no universo eu reparo
que as borboletas não tem cor nem movimento,
assim como as flores não tem perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
no movimento da borboleta o movimento é que se move.
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta,
e a flor, apenas flor..."
(Alberto Caeiro)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

PARA ETERNIZAR...

"Assim como você
também já tive medo de um dia desaparecer
e não saber o que seria feito do meu caminho
e o que ainda iria acontecer.
Já pensei em como o mundo se transformaria
se fosse poesia, em vez de solidão.
Pensei em tudo que perderia
mas o mais importante eu já tinha:
teu amor que me levaria para frente
para um dia como as mãos que se dão,
agora éramos as estrelas,
nós iríamos além..."
(Cáh Morandi)

NÃO ERA AMOR...

"Se não era amor, era da mesma família.
Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados.
A carência. A saudade. A mágoa.
Um quase desespero, uma espécie de avião em queda
que a gente sabe que vai se estabilizar,
só não se sabe se vai ser antes ou depois
de se chocar contra o solo.
Talvez eu não seja adulta o suficiente
para brincar tão longe do meu pátio.
Não era amor, era uma sorte.
Não era amor, era uma travessura.
Não era amor, eram dois travesseiros.
Não era amor, eram dois celulares desligados.
Não era amor, era de tarde.
Não era amor, era inverno.
Não era amor, era sem medo."
(Mariana Fernandes)

sábado, 21 de agosto de 2010

SAUDADE É COMO A FOME...

"Saudade é um pouco como fome.
Só passa quando se come a presença.
Mas às vezes a saudade é tão profunda
que a presença é pouco:
quer-se absorver a outra pessoa toda.
Essa vontade de um ser o outro
para uma unificação inteira
é um dos sentimentos mais urgentes
que se tem na vida..."
(Clarice Lispector)

A AUSÊNCIA...

"Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada,
aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim..."
(Carlos Drummond de Andrade)

O AMOR QUE EXISTE EM MIM...

"O amor que existe em mim...
É algo que transcende o corpo
O amor que eu sinto é o de alma
É olhar com compaixão o meu próximo,
Ver nele alguém que também sou
É não ser indiferente a sua dor
É compreender as suas angústias
É poder olhar nos olhos de quem falo
É tocar nas mãos de quem precisa
É pacificar a dor de quem necessita
Meu jeito de dizer que te amo
Está na forma como lido com tudo
Está no cuidado que dedico à natureza
Está na atenção que tenho aos animais
Está no respeito que mantenho por todos.
Transmito o que transborda em meu coração
Dedicando ao próximo e a vida,
o meu amor sincero..."
(Tatiana Moreira)

INSISTIREI MAIS UM POUCO...

"Se as coisas não saírem como planejei
terei que descobrir novos caminhos.
Pois eu não vou ficar com o que restou de mim.
Antes, irei procurar me refazer,
buscar forças outras:
a vida sempre acaba em algum lugar.
Só preciso me concentrar em mim
para não esquecer quem eu sou e para onde vou.
O dia que experimentar a liberdade por completo
serei como o cavalo novo de que você falou.
Ninguém mais me colocará um nome, uma classe,
um código, uma cor.
O dia que eu alcançar os campos verdejantes
eu correrei tão grato ao mundo que eu pensarei:
o que não nos mata, nos liberta.
E jamais voltarei a pensar
em sair pela porta dos fundos,
antes tomarei para mim tudo o que é meu.
Serei dono de mim mesmo
e todas as estrelas do céu de abril
serão minhas testemunhas.
Porque o mundo reconhece que fazemos parte dele.
E eu sempre quis fazer parte de alguma coisa:
meu coração é quase novo e eu também sou quase novo.
Poderia desistir, mas preciso continuar a me respeitar.
E esta é apenas uma noite ruim,
não sei o que me espera amanhã.
Que o mundo não se escandalize,
mas insistirei mais um pouco..."
(Daniel Donson)

EM TÃO BREVES ANOS...

"Tão sutilmente em tantos breves anos
foram se trocando sobre os muros
mais que desigualdades, semelhanças,
que aos poucos dois são um,
sem que no entanto deixem de ser plurais:
talvez as asas de um só anjo, inseparáveis.
Presenças, solidões que vão tecendo a vida,
o filho que se faz, uma árvore plantada,
o tempo gotejando do telhado.
Beleza perseguida a cada hora,
para que não baixe o pó
de um cotidiano desencanto.
Tão fielmente adaptam-se as almas destes corpos
que uma em outra pode se trocar,
sem que alguém de fora o percebesse nunca..."
(Lya Luft)

A LIMITAR TUA ALTURA...

"Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados
que eu ando a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura..."
(Mário Cesariny)

PARA TI...

"Foi para ti que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada e para ti foi tudo.
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei o sabor do sempre.
Para ti dei voz às minhas mãos
abri os gomos do tempo,
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos vivendo de um só
amando de uma só vida..."
(Mia Couto)

CANÇÃO DO ENFERMO

"Um gelo o envolveu,
e ele antes tranqüilo e bom,
agora é mais um filho que apela
para cuidados essenciais.
Sei que se foi, que paira num limbo
entre a vida e a noite:
mas às vezes esse seu verde olhar
- que me iluminava tanto,
repousa em mim,
e é como se me desse recados do seu mundo.
Mesmo se beijo a sua boca inerte
se pego a sua mão tāo magra,
se digo seu nome
pronunciado em tantos anos,
ele apenas me olha,
por um lapso de segundo devolvido a mim,
outra vez me vendo,
outra vez comigo.
Mas o anjo da morte que já encosta nele
a sua asa bela a fria,
novamente o recolhe nesse espaço
onde se afasta de mim sem viajar direito,
onde se vai sem se afastar do todo,
vacilando entre o nosso indagar
e as respostas que ele talvez já escute
do outro lado..."
(Lya Luft)

NO LIVRO DA TUA PELE...

"Leio o amor no livro da tua pele;
demoro-me em cada sílaba,
no sulco macio das vogais,
num breve obstáculo de consoantes,
em que os meus dedos penetram,
até chegarem ao fundo dos sentidos.
Desfolho as páginas que o teu desejo me abre,
ouvindo o murmúrio de um roçar de palavras
que se juntam, como corpos,
no abraço de cada frase.
E chego ao fim para voltar ao princípio,
decorando o que já sei,
e é sempre novo
quando o leio na tua pele..."
(Nuno Júdice)

TATUAGENS

"Em cada gesto perdido
Tu és igual a mim
Em cada ferida que sara
Escondida do mundo
Eu sou igual a ti

Fazes pinturas de guerra
Que eu não sei apagar
Pintas o sol da cor da terra
E a lua da cor do mar

Em cada grito da alma
Eu sou igual a ti
De cada vez que um olhar
Te alucina e te prende
Tu és igual a mim


Fazes pinturas de sonhos
Pintas o sol na minha mão
E és mistura de vento e lama
Entre os luares perdidos no chão

Em cada noite sem rumo
Tu és igual a mim
De cada vez que procuro
Preciso um abrigo
Eu sou igual a ti

Faço pinturas de guerra
Que eu não sei apagar
E pinto a lua da cor da terra
E o sol da cor do mar

Em cada grito afundado
Eu sou igual a ti
De cada vez que a tremura
Desata o desejo
Tu és igual a mim

Faço pinturas de sonhos
E pinto a lua na tua mão
Misturo o vento e a lama
Piso os luares perdidos no chão"

(Mafalda Veiga)

NÃO ESTOU PREPARADO...

"Ainda não estou preparado para perder-te
Não estou preparado para que me deixes só.
Ainda não estou preparado pra crescer
e aceitar que é natural,
para reconhecer que tudo
tem um princípio e tem um final.
Ainda não estou preparado para não te ter
e apenas te recordar
Ainda não estou preparado para não poder te olhar
ou não poder te falar.
Não estou preparado para que não me abraces
e para não poder te abraçar.
Ainda te necessito.
E ainda não estou preparado para caminhar
por este mundo perguntando-me: Por quê?
Não estou preparado hoje nem nunca o estarei.
Ainda te necessito..."
(Pablo Neruda)

CONVITE

"Não sou areia
onde se desenha um par de asas
ou grades diante de uma janela.
não sou apenas a pedra que rola
na marés do mundo,
em cada praia renascendo outra.
Sou a orelha encostada na concha da vida,
sou construção e desmoronamento,
servo e senhor, e sou mistério.
A quatro mãos escrevemos o roteiro
para o palco de meu tempo:
o meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados,
nem sempre nos levamos a sério."
(Lya Luft)

COLADA À TUA BOCA...

"Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua. Construtor de ilusões
examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer."
(Hilda Hilst)

O QUE É O AMOR?

"Quem consegue explicar o amor, com certeza nunca amou na vida.
Quem poderá definir ou explicar algo que modifica hábitos,
provoca sensação de felicidade,
faz com que velhos sintam-se jovens,
dá vontade de cometer loucuras, solta o riso com facilidade;
e ao mesmo tempo pode causar sentimentos feios como ciúmes,
controles, paranoias, desconfianças,
carências, traições, e inseguranças?
Impossível...
Alguns amores, além de inexplicáveis,
também são estranhos aos olhos de outras pessoas,
pois além de não conseguirem definição,
podem ser vividos nas mais diversas formas e conteúdos,
tendo apenas dois seres apaixonados que o entenderá.
Se você conhece alguém que define com exatidão o amor, desconfie.
Trata-se de alguém que nunca amou na vida;
ou amou e esqueceram de avisá-lo..."
(Francisco)

MEU DELEITE...

"Ter você nu na cama que deleite.
E como a gente brinca e rola e ri
para depois sentar
nos lençóis descompostos
o corpo ainda suado
e continuando sempre o mesmo jogo
falar a sério de literatura.
Te beijo no cangote e quieta penso:
um outro amante assim Senhor
que trabalho terias pra me arrumar
se me tomasses este..."
(Marina Colassanti)

ESTOU TRISTE...

"Estou triste.
Um êxtase me vem pelo fato de não caber na vida dos dias.
Estou atravessando uma fase de silenciosa tensão,
de medo, de incerteza.
Minha vida oscila mais que uma montanha russa.
Minhas felicidades duram átimos de segundo.
Sinto que estou perdendo tempo,
sou acometido de um mal-estar constante e instintivo.
Sou uma pessoa que sente tédio facilmente.
E para me manter aceso é necessário sempre
uma novidade que me faça superar uma adversidade.
Preciso de jogo, preciso de riscos.
E tudo está tão silencioso, tão mórbido e obscuro.
Não sei se estou no caminho certo,
mas sei que não encontrei o que estive a vida toda procurando.
Talvez eu nunca encontre.
Sei que não estou sendo específico,
mas às vezes o que nos resta é apelar
para os sons das palavras para tentar externar
algo que sequer é exprimível..."
(Daniel Donson)

O TEU CAMINHO...

"Ninguém pode construir em teu lugar
as pontes que precisarás passar,
para atravessar o rio da vida
-ninguém, exceto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem número,
e pontes, e semideuses que se oferecerão
para levar-te além do rio.
Mas isso te custaria a tua própria pessoa;
tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho
por onde só tu podes passar.
Onde leva?
Não perguntes, segue-o!"
(Nietzsche)

DOCE MEDO

"Tenho medo da dor de tua ausência
que me queima por dentro.
E da ternura eu tenho medo,
dessa beleza das noites secretas
quando chegas sempre
como se fosse a única vez.
Tenho medo de que um dia
queiras cessar esse rio
de águas ardentes
onde mais do que os corpos
tocam-se as almas,
anjos desatinados
luzindo no breu..."
(Lya Luft)

O MUNDO NOS TEUS OLHOS

"É nos teus olhos
que o mundo inteiro cabe,
mesmo quando as suas voltas
me levam para longe de ti;
e se outras voltas me fazem
ver nos teus os meus olhos,
não é porque o mundo parou,
mas porque esse breve olhar
nos fez imaginar que só nós
é que o fazemos andar..."
(Nuno Júdice)

HÁ UMA POESIA DENTRO DE MIM..

"Há uma poesia dentro de mim
e ela não quer sair.
Seus versos me vêm e vão
e eu estou inquieta.
Há uma poesia dentro de mim.
Sim,ela existe,está bem aqui...
Eu a vi ontem, veio do nada,
chegou de repente.
Ela dorme comigo,
faz casa nos meus sonhos .
Ela se tornou o meu alento,
mas não quer se mostrar para o mundo,
se esconde em meu pensamento.
Há uma poesia dentro de mim,
concebida dentro de mim,
que ajuda a minha dor a fenecer.
Sim,ela vive aqui dentro,
ela eleva meu pensamento;
Mas já é hora de voar.
Voa de dentro de mim poesia!
Saia daqui de dentro
pois é tempo de nascer,
crescer, enlouquecer...
provar de todo este louco viver..."
(Joyce Domingos)

A TUA BOCA ÚMIDA

"Quando eu estiver contigo novamente,
perguntarei se pensas em mim
para ter certeza de que é por isso
que eu não me pertenço mais!
E, quando eu tiver
tua boca em minha boca
provarei do veneno embriagante
que trará a loucura.
Morrerei de êxtases,
saboreando o gosto do teu beijo!
A tua boca úmida
aguça os meus sentidos!"
(Cassandra Rios)

CANÇÃO DA PLENITUDE

"Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente,
e a pele translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
-Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia-.
O que te posso dar é mais que tudo o que perdi:
dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar quando antigamente
quereria apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor,
com mais paciência e não menos ardor,
a entender-te se precisas,
a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força, que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés, mesmo se fogem, retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias..."
(Lya Luft)

LÁBIO A LÁBIO...

"Escalar-te lábio a lábio,
percorrer-te: eis a cintura
o lume breve entre as nádegas
e o ventre, o peito, o dorso
descer aos flancos, enterrar
os olhos na pedra fresca
dos teus olhos,
entregar-me poro a poro
ao furor da tua boca,
esquecer a mão errante
na festa ou na fresta
aberta à doce penetração
das águas duras,
respirar como quem tropeça
no escuro, gritar
às portas da alegria,
da solidão,
porque é terrível
subir assim às hastes da loucura,
do fogo descer à neve,
abandonar-me agora
nas ervas ao orvalho
-a glande leve."
(Eugénio de Andrade)

O GUARDADOR DE REBANHOS (fragmentos)

"...O meu olhar azul como o céu
É calmo como a água ao sol.
É assim, azul e calmo,
Porque não interroga nem se espanta ...
Se eu interrogasse e me espantasse
Não nasciam flores novas nos prados
Nem mudaria qualquer coisa no sol
de modo a ele ficar mais belo...
-Mesmo se nascessem flores novas no prado
E se o sol mudasse para mais belo,
Eu sentiria menos flores no prado
E achava mais feio o sol ...
Porque tudo é como é e assim é que é,
E eu aceito, e nem agradeço,
Para não parecer que penso nisso...-"
(Fernando Pessoa/Alberto Caeiro)

QUANDO ESTÁS DE JOELHOS...

"É quando estás de joelhos
que és toda bicho da Terra
toda fulgente de pêlos
toda brotada de trevas
toda pesada nos beiços
de um barro que nunca seca
nem no cântico dos seios
nem no soluço das pernas
toda raízes nos dedos
nas unhas toda silvestre
nos olhos toda nascente
no ventre toda floresta
em tudo toda segredos
e de joelhos me entregas
sempre que estás de joelhos
todos os frutos da Terra..."
(David Mourão Ferreira)

ME CRIES COM TEU GESTO

"Guardei-me para ti como um segredo
Que eu mesma não desvendei:
Há notas nesta guitarra que não toquei,
Há praias na minha ilha que nem andei.
É preciso que me tomes, além do riso e do olhar,
Naquilo que não conheço e adivinhei;
É preciso que me ensines a canção do que serei
E me cries com teu gesto
Que nem sonhei..."
(Lya Luft)

DAR NÃO É FAZER AMOR...

"Dar não é fazer amor. Dar é dar.
Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.
Mas dar é bom pra cacete.
Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca...
Te chama de nomes que eu não escreveria...
Não te vira com delicadeza...
Não sente vergonha de ritmos animais.
Dar é bom. Melhor do que dar, só dar por dar.
Dar sem querer casar....
Sem querer apresentar pra mãe...
Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.
Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral...
Te amolece o gingado... Te molha o instinto.
Dar porque a vida é estressante e dar relaxa.
Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã,
ou depois de amanhã.
Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito.
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos,
sem esperar ouvir futuro.
Dar é bom, na hora.
Durante um mês. Para os mais desavisados, talvez anos.
Mas dar é dar demais e ficar vazio.
Dar é não ganhar.
É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro.
É não ganhar uma mão no ombro
quando o caos da cidade parece querer te abduzir.
É não ter alguém pra querer casar, para apresentar pra mãe,
pra daro primeiro abraço de Ano Novo
e pra falar: -Que que cê acha amor?-.
É não ter companhia garantida para viajar.
É não ter para quem ligar quando recebe uma boa notícia.
Dar é não querer dormir encaixadinho...
É não ter alguém para ouvir seus dengos...
Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito.
Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa,
uma chance ao amor.
Esse sim é o maior tesão.
Esse sim relaxa, cura o mau humor,
ameniza todas as crises e faz você flutuar.
Experimente ser amado..."
(Luíz Fernando Veríssimo)

DEIXA-ME SONHAR...

"Dorme enquanto eu velo...
Deixa-me sonhar
Nada em mim é risonho.
Quero-te para sonho,
Não para te amar.
A tua carne calma
É fria em meu querer
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.
Dorme, dorme. dorme,
Vaga em teu sorrir...
Sonho-te tão atento
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir."
(Fernando Pessoa)

PORQUE ESCREVO...

"É por isso que amo escrever:
porque liberta minha alma,
-e as vezes minha alma é tão aprisionada-.
Escrevo para deixá-la livre, leve, solta.
fora do meu corpo e de todas as minhas tensões.
Escrevo para habitar uma terra de sonhos
-utópicos sonhos-,
para encontrar o pote de ouro no fim do arco-íris;
colocar para fora minha agonia, minha nostalgia,
minha vontade que não cessa.
Essa vontade profunda de amar,
esta sede imensa de querer,
ou até mesmo minha vontade
de, as vezes fenecer..."
(Joyce Domingos)

CANÇÃO DA MULHER QUE ESCREVE

"Nāo perguntem pelo meu poema:
nada sei do coração do pássaro
que a música inflama.
Nāo queiram entender minhas palavras:
nāo me dissequem, nāo segurem entre vidros
essas cançōes, essas asas, essa névoa.
Nāo queiram me prender como a um inseto
no alfinete da interpretaçāo:
Se nāo podem amar o meu poema,
deixem que seja somente um poema.
-Nem eu ouso erguê-lo entre meus dedos
e perturbar a sua liberdade-"
(Lya Luft)

OBJETOS DE NÃO-AMOR

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior e no seguinte,
como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas, que me amas, que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes, apagas teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra e na sua emissão
amor, saltando da língua nacional,
amor, feito som, vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amaste antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amo-amo-amo-amo-amo-amo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor..."
(Carlos Drummond de Andrade)

TEU CORPO

"Teu corpo é canoa em que desço
vida abaixo, morte acima
procurando o naufrágio
me entregando à deriva.
Teu corpo é casulo de infinitas sedas
onde fio, me afio e enfio
invasor recebido com licores.
Teu corpo é pele exata para o meu
pena de garça, brilho de romã
aurora boreal do longo inverno."
(Marina Colasanti)

VEM!

"Vem que eu não durmo bem desde que chegaste;
Vem, pois pra mim os dias já são anos a sua espera.
Eu estou em frêmitos, com delírios de você.
Vem que eu estou com febre
e meu corpo queima como o sol do Saara.
Vem ser a minha sombra, vem pra temperar essa temperatura.
Vem que não consigo mais suportar os meus ais,
vem trazer caus para minha calma;
vem fazer estardalhaço no meu carnaval, vem!!
Me possua ao som de jazz ou bossa...
Mas venha logo!!!
Venha me mimar, me tirar de minha rota,
me deixar em desalinho...
Vem, que o tempo passa em gotas e elas podem secar.
Vem, me envolva em seus braços,
faz de seu corpo o meu escudo;
Vem, eu me dispo pra você de corpo e alma.
Pois estou aqui.
Estou pronta pra ser louca, pra ser loba.
Pra ser sua mulher e mais nada..."
(Joyce Domingos)

A TUA SOLIDÃO

"Não é verdade a tua solidão.
A um canto, do lado de fora, meu coração espera:
fênix dolorosa, consome-se e renasce, fiel.
Quem sabe, quando abrires uma fresta em tua porta,
te alegrarás vendo-o aí,
guardando essa luz que se alastrará por rios sem fim
de uma geografia desconhecida:
e só os escolhidos entenderão..."
(Lya Luft)

FECUNDAÇÃO

"Teus olhos me olham longamente,
imperiosamente...
de dentro deles teu amor me espia.
Teus olhos me olham numa tortura
de alma que quer ser corpo,
de criação que anseia ser criatura
Tua mão contém a minha
de momento a momento:
é uma ave aflita meu pensamento
na tua mão.
Nada me dizes,
porém entra-me a carne
a persuasão de que teus dedos
criam raízes na minha mão.
Teu olhar abre os braços,
de longe,
à forma inquieta de meu ser;
abre os braços e enlaça-me toda a alma.
Tem teu mórbido olhar
penetrações supremas
e sinto, por senti-lo, tal prazer,
há nos meus poros tal palpitação,
que me vem a ilusão
de que se vai abrir
todo meu corpo em poemas..."
(Gilka Machado)

SOBRE A SOLIDÃO EM MIM

"Em fins de tarde como este,
eu olho ao redor e tenho medo da solidão.
Na verdade, estou tentando me enganar
sentindo medo dela: ela está cá ao meu lado...
Posso sentir o vento gelado em meu rosto.
Antes do sol cair o dia foi de sol,
folhas se balançando nas árvores,
cachorros andando nas ruas tranquilas
e eu sentada, olhando tudo
como uma atenta espectadora de mais um dia comum.
Senti vontade de rir das bobagens da vida,
de coisas triviais como todos faziam.
Mas tem dias que a solidão exige minha companhia
e me prende ao se lado.
Quando isso acontece nada faz muito sentido,
e eu sinto que nem a mim pertenço.
Que não pertenço a ninguém.
A solidão é como uma serpente traiçoeira
que insiste em ficar na espreita
para quem sabe me dar o bote.
As vezes a danada consegue...
Se enrola em mim, se apossa do meu corpo
e me faz chorar, gemer de dor.
E quando ela faz isso comigo
eu me sinto entre a vida e a morte,
mas meu desejo é estar viva.
Então o único analgésico que eu encontro ao meu lado
são meu velho caderno e minha caneta,
onde despejo todo o veneno que a solidão me trás...
e pouco a pouco ele vai se esvaindo,
e eu, mesmo só sei que vou ficar melhor..."
(Joyce Domingos)

MEU JEITO DE CALAR

"Se te pareço ausente, não creias:
hora a hora minha dor agarra-se aos teus braços,
hora a hora meu desejo revolve teus escombros,
e escorrem dos meus olhos mais promessas.
Não acredites nesse breve sono;
não dês valor maior ao meu silêncio;
e se leres recados numa folha branca,
Não creias também: é preciso encostar
teus lábios nos meus lábios para ouvir.
Nem acredites se pensas que te falo:
palavras são meu jeito mais secreto de calar."
(Lya Luft)

ÓDIO?

"Ódio por Ele?
Não... Se o amei tanto,
Se tanto bem lhe quis no meu passado,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se à vida assim roubei todo o encanto,
Que importa se mentiu?
E se hoje o pranto Turva o meu triste olhar,
marmorizado, Olhar de monja, trágico, gelado
Com um soturno e enorme Campo Santo!
Nunca mais o amar já é bastante!
Quero senti-lo doutra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!
Ódio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda!
Ódio por Ele?
Não, não vale a pena..."
(Florbela Espanca)

DA CHEGADA DO AMOR

"Sempre quis um amor que falasse
que soubesse o que sentisse.
Sempre quis uma amor que elaborasse
Que quando dormisse ressonasse confiança
no sopro do sono e trouxesse beijo
no clarão da amanhecice.
Sempre quis um amor
que coubesse no que me disse.
Sempre quis uma meninice
entre menino e senhor,
uma cachorrice onde tanto pudesse
a sem-vergonhice do macho
quanto a sabedoria do sabedor.
Sempre quis um amor cujo BOM DIA!
morasse na eternidade de encadear os tempos:
passado, presente, futuro,
coisa da mesma embocadura
sabor da mesma golada.
Sempre quis um amor de goleadas
cuja rede complexa
do pano de fundo dos seres não assustasse.
Sempre quis um amor que não se incomodasse
quando a poesia da cama me levasse.
Sempre quis uma amor que não se chateasse
diante das diferenças.
Agora, diante da encomenda
metade de mim rasga afoita o embrulho
e a outra metade é o futuro
de saber o segredo que enrola o laço,
é observar o desenho do invólucro
e compará-lo com a calma da alma
o seu conteúdo.
Contudo sempre quis um amor
que me coubesse futuro
e me alternasse em menina e adulto
que ora eu fosse o fácil, o sério
e ora um doce mistério
que ora eu fosse medo-asneira
e ora eu fosse brincadeira
ultra-sonografia do furor,
sempre quis um amor
que sem tensa-corrida-de ocorresse.
Sempre quis um amor que acontecesse
sem esforço, sem medo da inspiração
por ele acabar.
Sempre quis um amor de abafar,
-não o caso- mas cuja demora de ocaso
estivesse imensamente nas nossas mãos.
Sem senãos.
Sempre quis um amor com definição
de quero sem o lero-lero da falsa sedução.
Eu sempre disse não à constituição dos séculos
que diz que o -garantido- amor é a sua negação.
Sempre quis um amor que gozasse
e que pouco antes de chegar a esse céu
se anunciasse.
Sempre quis um amor que vivesse a felicidade
sem reclamar dela ou disso.
Sempre quis um amor não omisso
e que sua estórias me contasse.
Ah, eu sempre quis um amor que amasse..."
(Elisa lucinda)

DESPERTA-ME DE NOITE...

"Desperta-me de noite o teu desejo
Na vaga dos teus dedos com que vergas
O sono em que me deito.
É rede a tua língua em sua teia
É vicio as palavras com que falas.
A trégua a entrega, o disfarce.
E lembras os meus ombros docemente
Na dobra do lençol que desfazes.
Desperta-me de noite com o teu corpo
Tiras-me do sono onde resvalo
E eu pouco a pouco,
Vou repelindo a noite
E tu dentro de mim
Vais descobrindo vales..."
(Maria Tereza Horta)

TODO O AMOR QUE RESTA...

"Um anjo vem todas as noites:
senta-se ao pé de mim, e passa
sobre meu coração a asa mansa,
como se fosse meu melhor amigo.
Esse fantasma que chega e me abraça
-asas cobrindo a ferida do flanco-
é todo o amor que resta
entre ti e mim, e está comigo..."
(Lya Luft)

O QUE ME TRANQUILIZA...

"O que me tranqüiliza é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte
do que existe com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando,
confusos, a perfeição..."
(Clarice Lispector)

DE QUEM É ESSA SAUDADE?

"De quem é esta saudade
Que meus silêncios invade,
Que de tão longe me vem?
De quem é esta saudade,
De quem?
Aquelas mãos só carícias,
Aqueles olhos de apelo,
Aqueles lábios-desejo...
E estes dedos engelhados,
E este olhar de vã procura,
E esta boca sem um beijo...
De quem é esta saudade
Que sinto quando me vejo?"
(Gilka Machado)

HORA DO CANSAÇO

"As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra -maior- realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um ou outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho de eterno fica esse gozo acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar."
(Carlos Drumond de Andrade)

PARA QUE FIQUES

"A certeza vela atrás de um muro
ou dorme num poço
onde nada se escuta ou avista.
Sempre que partes, morro um pouco
por não saber se retornas.
Minhas mãos doem de tanto abrir-se
para que vás tranqüilo.
Só assim hás de querer estar comigo:
sem que eu insista.
-Fingir que te deixo livre
é um jeito egoísta de amar-."
(Lya Luft)

EU TE DESEJO!

"Há um não sei que de fascinante
no teu modo autoritário de falar.
Há qualquer coisa provocante
na força penetrante do teu olhar.
Há uma promessa insinuante
no teu jeito de andar.
E em cada gesto uma suavidade cativante
uma ânsia escondida de quem sabe provocar.
E o que mais me perturba, francamente,
eu queria agora te contar
mas é tão imenso e tão embriagante
que eu tenho medo de falar..."
(Cassandra Rios)

ESTA SAUDADE ÉS TU...

"Esta saudade és tu...
E é toda feita de ti,
dos teus cabelos, dos teus olhos
que permanecem como estrelas vagas:
dos anseios de amor, coagulados.
Esta saudade és tu...
É esse teu jeito de pomba mansa
nos meus braços quieta;
é a tua voz tecida de silêncio
nas palavras de amor que ainda sussurram...
Esta saudade são teus seios brancos;
tuas carícias que ainda estão comigo
deixando insones todos os sentidos.
Esta saudade és tu...
é a tua falta viva, em meu corpo,
na minha alma, viva,
enquanto eu morro no meu pensamento."
(J. G. de Araujo Jorge)

OVERDOSE

"Os sentimentos se misturam em mim.
Novamente você é meu tema preferido,
a razão de eu estar aqui escrevendo.
Ver você só faz atormentar minha mente;
É como assinar um atestado de insanidade.
Ver você acaba comigo,
me sinto dependente de uma droga pesada
da qual não consigo libertar-me.
Sua energia me paralisa, mexe com meu humor,
altera a minha fala, meu andar,
os meus sentidos... faz minha pele corar.....
E eu me pergunto o porque de tudo isso.
Mas é em vão!
Uma vez que vejo você já sofro abstinência,
já te quero ter, tocar, amar...
Mas eu não posso.
Só tenho a mim e ao meu desejo violento de querer-te,
de conseguir ao menos uma dose real de você;
Viver uma simbiose de ti.
Toda noite quando me vejo só,
a uma estranha fraqueza toma conta de mim,
e num rompante de loucura e estupidez
minhas sensações se misturam à minha lembrança
de seus lábios,seu cheiro e sua voz...
E já não posso evitar:
me entrego a overdose que você me traz ,
me sinto entorpecida, frustrada...
e tudo o que posso esperar é por uma próxima dose..."
(Joyce Domingos)

EU, EU MESMO...

"Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços
Quantos o mundo pode dar.
– Eu... Afinal tudo, porque tudo é eu,
E até as estrelas, ao que parece,
Me saíram da algibeira
Para deslumbrar crianças...
Que crianças não sei...
Eu... Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu... Tive um passado? Sem dúvida...
Tenho um presente? Sem dúvida...
Terei um futuro? Sem dúvida...
A vida que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu... Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu..."
(Fernando Pessoa)

ESTRANHO TAMBÉM ESSE AMOR

"Estranho também esse amor,
com hora marcada para a mutilação
da morte, o minuto acertado,
e o fim consultando o relógio
para nos golpear.
Estranho esse amor de agora,
com meu amado atrás de um espelho baço
onde às vezes penso divisar seu vulto
como num aquário.
Enrolado em silêncio,
mais que nunca o meu amor
comanda a minha vida..."
(Lya Luft)

EU SEI QUANTO TE AMO

"Eu sei quando te amo:
é quando com teu corpo eu me confundo,
não apenas nesta mistura de massa e forma,
mas quando na tua alma eu me introduzo
e sinto que meu sangue corre em ti,
e tudo que é teu corpo
não é que um corpo meu
que se alongou de mim.
Eu sei quando te amo:
é quando eu te apalpo e não te sinto,
e sinto que a mim mesmo então me abraço,
a mim que amo e sou um duplo,
eu mesmo e o corpo teu pulsando em mim."
(Afonso Romano de Sant'Anna)

EM BUSCA DESTE ANSEIO...

"Não sei se volteio,
Se rodopio, se quebro, se tombo
Nesta queda em que passeio.
Não sei se a vertigem em que me afundo
É este precipício em que me enleio.
Não sei se cair assim me quebra.
Me esmago ou sobrevivo
Em busca deste anseio..."
(Maria Teresa Horta)

QUERO DESCOBRIR

"Quero descobrir
Teu corpo, teu suor
Percorrendo, correndo
Sem pressa os instintos.
Deixar mãos colarem pernas
Marcarem seios, rasgarem bocas.
Quero tua descoberta
Feita em meu corpo
Na luxúria nossa de cada dia..."
(Paulo Mont'Alverne)

ASSIM É QUE ME QUERES...

"...Então me vens e me chegas
e me invades e me tomas e me pedes
e me perdes e te derramas sobre mim
com teus olhos sempre fugitivos
e abres a boca para libertar novas histórias
e outra vez me completo assim, sem urgências,
e me concentro inteiro nas coisas que me contas,
e assim calado, e assim submisso,
te mastigo dentro de mim
enquanto me apunhalas com lenta delicadeza
deixando claro em cada promessa
que jamais será cumprida,
que nada devo esperar além dessa máscara colorida,
que me queres assim, porque é assim que és
e unicamente assim é que me queres..."
(Caio Fernando Abreu)

TANTO

"Nada entendo de signos:
se digo flor é flor, se digo àgua é água.
-Mas pode ser disfarce de um segredo-.
Se não podem sentir, não torçam
a árvore-de-coral do meu silêncio:
deixem que eu represente meu papel.
Não me queiram prender como a um inseto
no alfinete da interpretação:
se não me podem amar, me esqueçam.
Sou uma mulher sozinha num palco,
e já me pesa demais todo esse ofício.
Basta que a torturada vida das palavras
deite seu fogo ou mel na folha quieta,
num texto qualquer com o meu nome embaixo."

(Lya Luft, para Lygia F. Telles)

EM SILÊNCIO...

"E então ficamos os dois em silêncio,
tão quietos como dois pássaros na sombra,
recolhidos ao mesmo ninho,
como dois caminhos na noite,
dois caminhos que se juntam
num mesmo caminho.
Já não ouso, já não coras.
E o silêncio é tão nosso,
e a quietude tamanha
que qualquer palavra bateria estranha
como um viajante, altas horas.
Nada há mais a dizer,
depois que as próprias mãos
silenciaram seus carinhos.
Estamos um no outro
como se estivéssemos sozinhos..."
(J.G. de Araújo Jorge)

PALAVRAS E SILÊNCIO...

"Há algumas coisas que são lindas demais
para serem descritas por palavras.
É necessário admirá-las em silêncio
e contemplação para apreciá-las
em toda sua plenitude.
É necessário tão poucas palavras
para exprimir a sua essência.
As grandes falas servem frequentemente
só confundir ou doutrinar.
O silêncio é mais esclarecedor
que um fluxo de palavras.
Olhe para uma mãe com criança no colo.
O bebê sabe obter tudo o que quer
sem dizer ao menos uma palavra.
De fato, palavras devem ser
a embalagem dos pensamentos.
Não adianta fazer discursos muito longos
para expressar os sentimentos de seu coração.
Um olhar conta um pouco mais
que uma carreira de palavras.
É caracteristica das grandes mentes
fazer com que em poucas palavras
muitas coisas sejam ouvidas.
As mentes pequenas, acham que têm,
pelo contrário a concessão para falar,
e não dizer nada.
Falam bobagens, mas há aqueles
que sabem o que escutar para colher.
Se duas palavras só são necessárias dizer
-que eu gosto de você-,
todas as outras palavras que poderiam ser ditas
são supérfluas...
Sim e não são as palavras mais curtas
e fáceis de serem ditas mas são aquelas
que trazem as mais pesadas consequências.
Ser comedido em suas palavras não é um defeito
mas prova profunda sabedoria.
Aquele que fala muito quase nunca
tem sucesso para organizar as coisas.
Tendes antes a confundir..."
(Florian Bernard)

JÁ GASTAMOS AS PALAVRAS

"Já gastamos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastamos tudo menos o silêncio.
Gastamos os olhos com o sal das lágrimas,
gastamos as mãos à força de as apertarmos,
gastamos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava, porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastamos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certezade que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus."
(Eugénio de Andrade)

REVELAÇÃO

"Quando chegaste,
redescobri em mim inocência e alegria.
Removi a máscara que sobrava:
nada havia a esconder de ti,
nem medo - a não ser partires.
Supérfluas as palavras,
dispensada a aparência,
fiquei eu, sem prumo,
como antes da primeira dúvida
e do último desencanto.
Quando chegaste,
escutei meu nome como num outro tempo.
o meu lado da sombra entregou
o que ninguém via:
as feridas sem cura
e a esperança sem rumo.
Começa a crer, por mim,
que o amor é possível,
e que a vida vale a pena
e o pranto de cada dia..."
(Lya Luft)

EIS O QUE SOU...

"Um misto de fracasso e conquista,
Coragem e medo,
Brutalidade e fragilidade,
Vida e morte, mulher e bicho,
Sonhos e pesadelos.
Sou um fio de esperança.
Um medo transmutado de coragem.
Tão frágil como a rosa que se avista.
Brutal no cinzentismo da paisagem.
Assim mulher e bicho me retrato.
Mesclando o pesadelo com o sonho.
E vivo de incertezas... e me mato.
Num fio de esperança que reponho."
(Jorge)

O QUE FAZER?

"O que fazer entre um orgasmo e outro,
quando se abre um intervalo
sem teu corpo?
Onde estou, quando não estou
no teu gozo incluído?
Sou todo exílio?
Que imperfeita forma de ser é essa
quando de ti sou apartado?
Que neutra forma toco
quando não toco teus seios, coxas
e não recolho o sopro da vida de tua boca?
O que fazer entre um poema e outro
olhando a cama, a folha fria?"
(Affonso Romano de Sant'Anna)

HOJE EU SOU...

"Hoje eu sou
Um cigano que foge da dor
Um oceano sem navegador
Hoje eu sou
Um fulano que a sorte marcou
Condenado a ser um sonhador
Hoje eu sou
De ninguém...
Eu nunca estive tao lucida,
tao em perfeito estado mental,
eu nunca estive tao bem.
Eu nunca entendi a frase,
ame a si mesmo,
antes de amar qualquer outra pessoa.
Mas agora sei o que significa:
Pra cuidar de alguém,
antes temos que cuidar de nos mesmos.
Hoje eu sou mais leve de alma
mais iluminada, mais feliz,
mais alegre E mais eu...
Depois que a tempestade passou,
em meio aos destrocos no mar,
eu encotrei o meu corpo,
eu encontrei a mim mesma,
navegando em oceanos profundos,
sem medo de naufragar.
Hoje eu jogo no mar, flores..."
(Verônica)

ESSA MENINA...

"Essa menina que
Foge pelas tuas palavras
Pede colo.
Pede o colo que a distância
Não te deixa ter.
Vistas estas asas
Que embalam o teu corpo
E deixa-te perder por entre as nuvens
De sonhos e pensamentos,
Pois o cúmplice vento te colocará
Num galho alto onde a vista é bela
E eu trancei teu ninho...
Pois tu és,
Menina de todas as histórias.
Contos que o tempo não apaga,
Não acorda, não desperta.
Tu és a mais linda adormecida das crianças,
Da carruagem em forma de ferrari,
Dos castelos de argamassa e de azulejo colorido,
Dos cavalheiros de capacete, motocicleta,
Das bonecas de todas as vestes,
De trapo de seda,
Aos tecidos indianos de moleca..."
(Silvio Afonso)

REVERBERAÇÃO

"O destino trama os dias
e desfaz o sonho:
demarca meus contornos,
partes disso que sou e serei.
Quem sabe desejei demais:
milagres não me bastaram,
mas quando eu quis ser rainha
fui simplesmente humana.
A voz da vida insiste,
chama para o que salva
ou desatina:
nem sempre a entendi.
Palavras buscam sentido
para o que fiz, falhei,
conquistei e perdi
-ou que me abandonou-
nalguma esquina.
Talvez eu precisasse
é dos silêncios..."
(Lya Luft)

O MEU PASSAPORTE

"O meu passaporte
São as tuas mãos;
O mapa que nos guia,
A respiração incerta do desejo.
-Por isso me perco-, dizes.
-Por isso te encontro-, respondo.
E a noite que nos separa
É o dia que nos reúne."
(Nuno Júdice)

PODE-SE...

"Pode-se ser tão sutil
quanto a um pássaro
quando dispõe de seu vôo viril.
Pode-se ser tão grandioso
quanto a uma nuvem desértica
perdida no azul-orgulhoso.
Pode-se ser tão rude
quanto a um peixe
quando capturado
ás margens de um açude.
Pode-ser ser o que quiser
desde que não intervenha
e não machuque
aquele que atrás vier..."
(Édyson Brandão)

SEMPRE A MESMA COISA...

"As pessoas estão doentes de tédio.
Estão cansadas de viver.
Em casa não lhes falta nada.
A mesa é farta.
Nenhum dia é "novo".
Tude se repete.
As paredes são impermeáveis,
sempre frias.
Nunca ouvem um barulho diferente.
As pessoas estão doentes de tédio.
Não contemplam as flores nem os pássaros.
Seus animais domésticos morreram,
como elas próprias.
Saem à noite, voltam ao amanhecer
e dormem enquanto brilha o sol.
Vão ao médico, ao neurologista, ao psiquiatra.
Sentem-se incômodas em sua própria pele.
Algumas pessoas irradiam luz.
Outras escurecem tudo..."
(Phil Bosmans)

MINHA ALMA CIGANA

"Um pássaro que não quer ser aprisionado.
Assim é minha alma.
Que pousa onde encontra alento e amor.
Mas que precisa estar livre para voar
Se assim desejar.
Sou fiel aos meus sentimentos
E não aceito que me prove.
Quando amo sinto a intensidade do amor
Percorrer cada célula de meu corpo.
Minha alma que de tão transparente é lúcida.
Quero tão pouco dessa vida.
Quero fogueira para dançar.
Quero a lua e as estrelas
Compartilhando minha dança.
Quero a brisa da madrugada me envolvendo.
E quando os primeiros raios de sol nascer,
Ainda quero presa entre meus dedos
Uma taça de vinho seco.
Lanço a sorte a todos
E como recompensa recebo-a de volta.
Assim é minha alma cigana..."
(Cleo)

terça-feira, 17 de agosto de 2010

CANÇÃO DA ESTRELA MURMURANTE

"Nós nos amaremos docemente,
Nesta luz, neste encanto, neste medo:
Nós nos amaremos livremente
No dia marcado pelos deuses.
Nós nos amaremos com verdade
Porque estas almas já se conheciam:
nós nos amaremos para sempre
Além da concreta realidade.
Nós nos amaremos lindamente,
nós nos amaremos como poucos.
no teu tempo..."
(Lya Luft)

CANÇÃO DO MEU ABANDONO

"Não, depois de te amar não posso amar ninguém!
Que importa se as ruas estão cheias de mulheres
esbanjando beleza e promessa ao alcance da mão?
Se tu já não me queres
é funda e sem remédio a minha solidão.
Era tão fácil ser feliz quando tu estavas comigo!
Quantas vezes, sem motivo nenhum, ouvi o teu sorriso
rindo feliz, como um guiso em tua boca?
E todo momento
mesmo sem te beijar eu estava te beijando:
com as mãos, com os olhos, com os pensamentos,
numa ansiedade louca!
Nossos olhos, meu Deus! nossos olhos, os meus
nos teus, os teus nos meus,
se misturavam confundindo as cores
ansiosos como olhos que se diziam adeus...
Não era adeus, no entanto, o que estava em teus olhos
e nos meus, era êxtase, ventura, infinito langor,
era uma estranha, uma esquisita, uma ansiosa mistura
de ternura com ternura no mesmo olhar de amor!
Ainda ontem, cada instante era uma nova espera...
Deslumbramento, alegria exuberante e sem limite...
E de repente, de repente eu me sinto
triste como um velho muro cheio de hera
embora a luz do sol num delírio palpite!
Não, depois de te amar não posso amar ninguém!
Podia até morrer, se já não há belezas ignoradas
quando inteira te despi,
nem de alegrias incalculadas depois que te senti...
Depois de te amar assim,
como um deus, como um louco,
nada me bastará, e se tudo é tão pouco...
...eu devia morrer..."
(J.G. de Araujo Jorge)

SAINDO DE MIM...

"Saio de mim
aqui não quero mais ficar
neste envelope vazio sem ruas ou destinos
nesta casca que me oprime, reprime
insensata aos meus desejos...
Saio de mim
deste tormento palpável
a procura do espelho quebrado
das promessas sem cobranças
tentando escrever novos sonhos...
Saio deste silêncio
das roupas sozinhas
do quarto sem teus passos
da maldita porta trancada
a procura d´outra livre morada...
mendiga de mim
Saio a procura da ilusão
quem sabe da perdida alma
ou das luzes da ribalta?..."
(Maria Thereza Neves)

ÔNUS

"A esperança me chama,
e eu salto a bordo
como se fosse a primeira viagem.
Se não conheço os mapas,
escolho o imprevisto:
qualquer sinal é um bom presságio.
Seja como for, eu vou,
pois quase sempre acredito:
ando de olhos fechados
feito criança brincando de cega.
Mais de uma vez saio ferida
ou quase afogada,
mas não desisto.
A dor eventual é o preço da vida:
passagem, seguro e pedágio."
(Lya Luft)

PERMANÊNCIA

"Nāo escrevo muito sobre a morte:
na verdade ela é que escreve sobre nós
desde que nascemos vai elaborando
o roteiro de nossa vida.
Ela é a grande personagem,
o olho que nos contempla sem dormir,
a voz que nos convoca e nāo queremos ouvir,
mas pode nos revelar muitos segredos.
O maior deles talvez seja:
morte torna a vida maravilhosa.
Porque vamos morrer presisamos poder dizer hoje
que amamos, fazer hoje o que desejamos tanto,
abraçar hoje o filho ou o amigo,
temos de ser decentes hoje,
generosos hoje, felizes hoje.
A morte nāo nos persegue:
apenas espera,
pois nós é que corremos para o colo dela.
Talvez o melhor de tudo é que ela nos lembra
da nossa transcendência.
Somos mais que corpo e sangue e compromissos,
susto e ansiedade: somos mistério,
o que nos torna maiores do que pensamos ser.
E o amor,
quando se aproxima desse território do estranho,
tem de se curvar: com dor, com terror,
com enorme ansiedade dá um salto irrevogável
para essa prova maior.
E então começa a ser ternura;
e entāo se aproxima, muito vagamente,
de alguma coisa chamada permanência."
(Lya Luft)

FÊNIX

"Cansei do escuro!
Quero luz, câmera, ação.
Quero amor, quero paixão.
Quero ter você de verdade.
Eu não vou repartir você.
Vou abrir mão do estepe.
Sou árvore!
Não posso ser sombra.
Eu mereço o brilho dos holofotes.
Eu mereço o papel principal.
Sou a mocinha
e não a vilã dessa história.
Sou atriz principal.
Sou o enredo.
Sou o fim."
(Xênia da Matta)

ESCUTA...

"Escuta,
Eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah! se em troca
De tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
-Eu soubesse repor-
No coração despedaçado
As mais puras alegrias
De tua infância..."
(Manuel Bandeira)

ESTREIA

"Frio na barriga.
Uma exposição pública.
O pensamento instiga.
Sensação única.

Começar é complicado.
Primeiro passo está dado.
Ideias compartilhadas.
Almas conectadas.

Sentimentos variáveis,
inexplicáveis nestes versos.
Conteúdos diversos,
repletos de intenções admiráveis."

(Vitor Durão)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

DORES DA ALMA

"As dores da alma não deixam recados,
imprimem uma sentença que perdura pelos anos.
Um amor que acabou mal resolvido,
um emprego que se perdeu inexplicavelmente,
um casamento que mal começou e já terminou,
uma amizade que acabou com traição,
tudo vai deixando sinais, marcas profundas…
Precisamos trabalhar as dores da alma,
para que sirvam apenas de aprendizado,
extraindo delas a capacidade de nos fortalecermos,
aprendendo que o melhor de nós,
ainda está em nós mesmos,
que amando-nos incondicionalmente,
descobrimos a auto-estima,
que se deixarmos seguir
o caminho da dor e da lamentação,
iremos buraco abaixo no caminho da depressão.
As dores da alma não saem no jornal,
não viram capa de revista, e só quem sente,
pode avaliar o estrago que elas causam.
Como não existe vacina para amores mal resolvidos,
nem para decepções diárias,
o que vale é a prevenção, então:
Ame-se para amar e ser verdadeiramente amado,
sorria para que o mundo seja mais gentil,
dedique-se, para que as falhas sejam pequenas,
não se compare, você é único,
repare nas pequenas coisas,
mas cuidado com as grandes que as vezes
estão bem diante do nosso nariz e não enxergamos,
sonhe,pois o sonho é o combustível da realização,
tenha amigos e seja o melhor amigo de todos,
apaixone-se pela vida e por tudo o que é seu,
sinta o seu cheiro e acredite em seu poder de sedução,
estimule-se, contagie o mundo com o seu melhor,
creia em Deus, pois sem Ele não há razão em nada,
e tenha sempre a absoluta certeza de que,
depois da forte tempestade,
o arco-íris vai surgir
e o sol vai brilhar ainda mais forte..."
(Paulo Roberto Gaefke)