domingo, 28 de setembro de 2008

MÁSCARAS

"Não deixe se enganar por mim.
Não se engane com as máscaras que uso,
pois eu uso máscaras que eu tenho medo de tirar,
e nenhuma delas sou eu.
Fingir é uma arte que se tornou uma segunda natureza para mim,
mas não se engane.
Eu dou a impressão de que sou seguro,
de que tudo está bem e em paz comigo,
que meu nome é confiança e tranqüilidade;
é meu tema que as águas do mar são calmas
e eu que estou no comando sem precisar de ninguém.
Mas não acredite, por favor.
Minha aparência é tranqüila,
mas é apenas uma aparência, é uma máscara superficial,
mas é a que sempre varia e esconde.
Por baixo não há tranqüilidade, complacência ou calma.
Por baixo, está meu mal em confusão, medo e abandono.
Mas eu oculto tudo isso, pois eu não quero que ninguém veja.
Fico em pânico
ante a possibilidade de que minha fraqueza fique exposta,
e é por isso que eu crio máscaras atrás das quais eu me escondo
com a fachada de quem não se deixa tocar,
para me ocultar do olhar que sabe.
Mas esse olhar é justamente minha salvação.
Eu sei disto.
É a única coisa que pode me libertar de mim mesmo,
dos muros da prisão que eu mesmo levantei,
das barreiras que eu mesmo tão dolorosamente construo.
Mas eu não digo muito disso à você.
Não sorria, tenho medo.
Tenho medo que seu olhar não seja de amor e atenção.
Tenho medo que você me menospreze,
que ria de mim, me ferindo.
Tenho medo de que lá dentro do interior de mim mesmo,
eu não valha nada e que você acabe vendo e me rejeitando.
Então eu continuo a viver meus jogos,
meus jogos de fingimento,
com a fachada de segurança de fora
e sendo uma criança tremendo por dentro.
Como um desfile de máscaras, todas vazias,
minha vida se tornou um campo de batalha.
Eu converso com você uma conversa infantil e superficial.
Digo à você tudo que não tem a menor importância
e calo o que arde dentro de mim.
De forma que, não se deixe enganar por mim.
Mas por favor, escute e tente ouvir
o que eu não estou dizendo e que eu gostaria de dizer.
Eu não gosto de me esconder, honestamente eu não gosto.
Eu tão pouco gosto de jogos tolos e superficiais que faço.
Eu gostaria mesmo era de ser genuíno, espontâneo, eu mesmo,
e você tem que me ajudar, segurando a minha mão,
mesmo que quando esta for a última coisa
que eu aparentemente necessitar.
Cada vez que você me ajuda,
um par de asas nasce no meu coração.
Asas pequenas e frágeis, mas asas.
Com sua sensibilidade, afeto e compreensão, eu me torno capaz.
Você me transmite vida.
Não vai ser fácil para você.
A idéia de que eu não valho nada vem de muito tempo
e criou muros fortes.
Mas o amor é mais forte que os muros,
e aí está a minha esperança.
Por favor ajude-me a destruir esses muros, com mãos fortes,
mas gentis, pois uma criança é muito sensível e eu sou uma criança.
E agora, você gostaria de perguntar quem sou eu?
Eu sou uma pessoa que você conhece muito bem.
Eu sou todo homem, toda mulher, toda criança,
todo ser humano que você encontra..."
(Hannah Blue)

DOS VINTE SEGUNDOS ANTES DO BEIJO...

"Você não sabe o que foi aquele beijo.
Havia em seus olhos uma multidão de estranhos
que, de repente, parou instantes para olhar.
Empurrei os seus olhos com os meus
e ouvi o silêncio dos seus pensamentos,
já não sabendo se aquilo que eu pensava era meu
ou se era dele porque olhar nos olhos de um estranho
é se deixar espiar por estrelas.
Como se aquilo que eu pensava também já fosse tarde demais,
meus pensamentos sugados pelos olhos do outro.
Havia naqueles olhos uma correria inútil
de tampar segredos e eu soube de todos eles,
não por meio de palavras, mas por meio de silêncios.
Eu nunca soube decifrar silêncios,
mas posso tocá-lo com a ponta dos dedos.
Assim eles ficaram, os segredos daquele olhar,
no canto das coisas que eu pensava e pensava,
antes de aproximar os meus lábios.
Você não sabe o que foi aquele olhar.
Os olhos dela eu nunca mais vi,
não eram os olhos que me fitaram,
de maneira fugidia, como na primeira vez.
Eram olhos que guardavam perguntas inocentes,
e eu quase arrumei de volta os seus cabelos,
abotoei a sua blusa e lhe pedi desculpas
por ter faltado com o respeito.
Mas sorrisos são pontes que se abrem no rosto
para o outro poder passar.
E só por conta daquele sorriso eu atravessei a distância
entre o meu rosto e o dela
para encostar os meus lábios aos seus..."
(Rita Apoena)

A MENINA E O ARCO-ÍRIS

"Todo dia, a menina corria o quintal,
procurando um arco-íris.
Corria olhando para o alto, tropeçava e caía.
Toda vez que se machucava, vinha chorando uma cor.
Um dia, chorou o anil até esvaziá-lo dos olhos.
Depois, chorou laranja, chorou vermelho e azul.
Chorou verde. Violeta. Amarelo e até transparente!
Chorou todas as cores que tinha, todas as cores de dentro.
Então, abriu os olhos e nem o arco-íris, ela viu.
Não viu flores e borboletas.
Não viu árvores e passarinhos.
Pensando que era ainda noite, deitou-se na cama e dormiu.
Pensando que era tudo escuro, nem levantar-se ela quis!
Ficou dormindo cinzenta, por dias e noites sem fim...
Foi quando um sonho, tão colorido, derramou-se dentro dela!
Tingiu o travesseiro e a fronha, o lençol e o pijaminha.
Tingiu a meia e o quarto. Tingiu as casas e os ninhos!
A menina abriu a janela e viu que hoje não tinha arco-íris.
Mas tinha o desenho das nuvens.
Tinha as flores e um passarinho..."
(Rita Apoena)

SOBRE A SEPARAÇÃO...

"Quando você vai embora de nós
o pronome parte-se ao meio.
Você diz que só leva o "s",
e o que adianta?
se comigo sobra o nó na garganta..."
(Rita Apoena)

ARREPIO

"Seus dedos na minha pele são arrepios.
Todos os pêlos, curiosos,
levantam-se para ouvir o suspiro.
E, comemorando a vitória da pele sobre as palavras,
acompanham seus dedos em ola,
arrepiando-se, arrepiados.
Seus dedos que, de tão leves,
escorregam sobre minha pele,
cortando-me em quatro pedaços..."
(Rita Apoena)

SOBRE AS DESPEDIDAS...

"Os cílios agarraram-se às pálpebras
quando tentei fechar meus olhos.
Mas você assoprou e todos voaram.
De novo nasceram e de novo voaram.
Não faça mais isso!
Quem vai cortar a lágrima em fatias
no dia em que você for embora?"
(Rita Apoena)

UM MENINO E SEUS SONHOS...

"Um certo menino achou que deveria sair de seus sonhos
e buscar sorrir com as pessoas que amava,
imaginando como seriam tais pessoas...
Um dia em silêncio sentado num banco, vendo uma árvore,
imaginou que cada folha fosse um abraço,
pensou se seria capaz de dar tantos abraços
como folhas dessa árvore,
ele fechou os olhos e contou mentalmente
quantos abraços daria nas pessoas que ele ama...
Mas a timidez fez ele perder a contagem
de quantos abraços teria que dar...
e ele voltou pra casa chorando..."

terça-feira, 23 de setembro de 2008

ANTECIPADA...

"Tuas palavras são secas sereias
vestidas com meias
que me intimidam tanto
e entre diabos, são santas
e entre infernos, são céus.
Diz-me qualquer coisa crua
quando no luar não mais houver lua
e em meu peito a paz.
Sinto-me ausente de tua presença
e se não sou o que pensas,
penso que nada o sou mais.
Sinto-me o mesmo pierrô errante,
o homem que sofreu antes
por tudo o que ainda vai chegar
e desvairadamente relembrar
o que nunca quis em mim ser ontem!"
(Paulino Vergetti Neto)

domingo, 21 de setembro de 2008

SEM MAIS OU MENOS...

"Sempre desprezei as coisas mornas,
as coisas que não provocam ódio nem paixão,
as coisas definidas como mais ou menos,
um filme mais ou menos,
um livro mais ou menos.
Tudo perda de tempo.
Viver tem que ser perturbador,
é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados,
e com eles sua raiva, seu orgulho, seu asco,
sua adoração ou seu desprezo.
O que não faz você mover um músculo,
o que não faz você estremecer, suar, desatinar,
não merece fazer parte da sua biografia..."

AFINIDADE...

"A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
É o mais independente.
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,
as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade,
qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa,
o afeto no exato ponto em que foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando a vida.
É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo para o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.
Ter afinidade é muito raro.
Mas quando existe
não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece
depois que as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar a um não afim,
sai simples e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.
Afinidade é ficar longe pensando parecido
a respeito dos mesmos fatos
que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavras.
É receber o que vem do outro
com aceitação anterior ao entendimento.
Afinidade é sentir com, nem sentir contra,nem sentir para,
nem sentir por, nem sentir pelo.
Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios.
Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber. É mais calar do que falar,
ou, quando é falar, jamais explicar: apenas afirmar.
Afinidade é jamais sentir por.
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.
Compreende sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para poder questionar.
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.
Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças.
É conversar no silêncio, tanto nas possibilidades exercidas
quanto das impossibilidade vividas.
Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou
sem lamentar o tempo de separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas oportunidades dadas -tiradas- pela vida,
para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser,
cada vez mais a expressão do outro
sob a forma ampliada do eu individual aprimorado..."
(Arthur da Távola)

sábado, 20 de setembro de 2008

ACREDITO NAS PESSOAS...

"Acredito nas pessoas que fazem o bem
e que se protegem do mal apenas com um sorriso,
uma palavra um beijo, um abraço, uma oração...
Pessoas que atravessam as ruas,
sem medo da luz que existe nelas,
caminham firmes e que levantam a cabeça
nos momentos de puro desespero...
Pessoas que erram mais do que acertam,
que aprendem mais do que ensinam
e que vivem mais do que sonham...
Pessoas, simplesmente pessoas...
que nem sempre tem certeza de tudo,
mas que acreditam sempre...
Transparentes, amigas,
espontâneas, até mesmo ingênuas...
Que passam pela terra
e deixam que suas marcas, suas lembranças,
que deixam saudade e não apenas rastros..."

AGORA...

"Agora que o tempo passou e o tempo chegou
viajo nos teus olhos de noite sem parar...
Agora que a estrada se fez luz,
percebo que muito foi muito pouco para tanto querer...
Agora brigo com os meus desejos
que não calam ...não cessam...
Agora libero todo sangue
para que tudo pulse em cada movimento
desejando que este mesmo tempo seja breve...
Até minha aorta não poder mais conviver com esta ausência,
a falta do cheiro e o gosto da boca
nem a louca mão que procura, na outra,
a sua própria essência...
Agora que evaporei,
trago condensado no peito uma saudade doída
embora saiba que para ter volta é preciso ter despedida
consumo o ato num fato real e imaginário
de que agora é depois..."
(Lúcia Gönczy)

terça-feira, 16 de setembro de 2008

MAIS UM DIA DE CHUVA...

"Um outro dia, embaixo da chuva,
esperamos um barco à beira de um lago;
a mesma lufada de aniquilamento me atinge,
desta vez por felicidade.
Assim, às vezes,
a infelicidade ou a alegria desabam sobre mim,
sem nenhum tumulto posterior,
nenhum outro sentimento:
estou dissolvido, e não em pedaços:
caio, escorro, derreto.
Este pensamento levemente tocado,
experimentado, tateado
-como se tateia a água com pé- pode voltar.
Ele nada tem de solene.
É exatamente a doçura."
( Roland Barthes )

DO QUE NÃO SE SABE...

"Sem medo, sabe?
não sabe ainda, mas um dia vai saber.
O medo fica ali petrificado
pra quem não olha fixo pra ele,
pra quem não consegue chegar perto
pra entender suas formas, suas cores.
Ele é enquanto desconhecido;
ele está, e depois voa, quando olhado no olho.
O olho verde do medo, tão verde que dói.
É igual à mariposa-monstro
estava na porta do armário.
Ficou lá enquanto eu fechava a porta do quarto
e deixava ela dormir sozinha -
eu dormindo no quarto ao lado.
Ficou lá.
Um dia, dois dias, três, quatro, quatro e meio.
Sem se mexer, sem piscar.
Até que eu finalmente cheguei perto.
Olhei bem a mariposa-monstro e seus olhos tão verdes,
e ela nem era mais monstro.
Era uma pequena fada preta
que tinha pousado ali pra me ensinar alguma coisa.
Foi quando ela sorriu, eu acho.
E foi embora, de uma voada só..."

domingo, 14 de setembro de 2008

CAMINHOS SEM VOLTA...

Dizem que antes de um rio cair no oceano,
ele treme de medo.
Olha para trás, para toda a jornada:
os cumes, as montanhas,
o longo caminho sinuoso através das florestas,
através dos povoados,
e vê à sua frente um oceano tão vasto
que entrar nele nada mais é
do que desaparecer para sempre.
Mas não há outra maneira:
o rio não pode voltar.
Ninguém pode voltar.
Voltar é impossível na existência.
Você pode apenas ir em frente.
O rio precisa se arriscar e entrar no oceano.
E somente quando ele entra no oceano
é que o medo desaparece,
porque apenas então o rio saberá
que não se trata de desaparecer no oceano.
Mas tornar-se oceano.
Por um lado é desaparecimento
e por outro lado é renascimento.
Assim somos nós.
Só podemos ir em frente e arriscar.
Renascendo a cada dia,
Tornando-se um Oceano..."

AFAGOS...

"Alguns escrevem pela arte,
pela linguagem, pela literatura...
Esses, sim, são os bons.
Eu só escrevo para fazer afagos.
E porque eu tinha de encontrar
um jeito de alongar os braços.
E estreitar distâncias.
E encontrar os pássaros:
há muitas distâncias em mim
(e uma enorme timidez).
Uns escrevem grandes obras.
Eu só escrevo bilhetes para escondê-los,
com todo cuidado, embaixo das portas..."

terça-feira, 9 de setembro de 2008

SONHOS MEUS

Beijo a face de teus sonhos
Sonhos não vividos
Desfaço teus vazios carentes
Rasgo o véu da distância
Levo para ti o vôo da esperança
Atravesso o infinito
Nas asas do amor
Meus desejos contidos
Encontrando os teus...
Não sei se vou ou se fico
Não sei se abandono ou edifico
Angústias da indecisão
Realidade
Ilusão
Começo ou fim
Incerteza do não
Incerteza do sim
Os dias passam...
te prenderás à terra
Ou escalarás tua ascenção
Não queiras recusar
Nem recuar
Sintas...
É o sopro que circula
E eclode em plena luz
Ele te fará ungido
E no amor redimido
Tudo que era êfemero se desfaz
E da omissão...sairás !
Sairás sim!
(Markos André)

RECEITA PARA DIAS CHUVOSOS...

"Ao despertar,
volte seu olhar para seu coração
e procure nele os rostos de seus amigos.
Sinta um sorriso gostoso
iluminando o seu próprio rosto
e um calorzinho agradável
percorrer seu corpo, como num abraço...
Memorize esses rostos conhecidos
e queridos olhando pra vc ,carinhosamente.
Só então pule da cama e enfrente o dia, lá fora.
Vc verá que mesmo se a paisagem estiver cinzenta,
um sol dourado e quentinho iluminará seu dia
e vc estará feliz e bem disposto.
O Amor tem uma luz que nem a chuva consegue esconder.
Eu sou apenas um dos inúmeros raios do seu sol interior.
E isso me faz feliz,
por que também reconheço vc no meu,
todas as manhãs!"
(Denise Rangel)

SE ALGUÉM PERGUNTAR...

"Se alguém perguntar quem sou,
diga que sou seu amigo, que fala de amor,
que fala do vento e se esquece do tempo...
Se alguém perguntar onde vivo,
diga que vivo no coração
daqueles que conhecem o amor...
Se alguém perguntar por onde eu ando,
diga que ando pela noite e que nela me aqueço...
Se alguém perguntar onde estou,
diga que estou em cada palavra,
cada lágrima e também no sorriso...
Se alguém perguntar se eu amo,
diga que sou a pessoa mais apaixonada do mundo...
Se alguém perguntar onde está a minha voz,
diga que minha voz grita
em nome daqueles que não são ouvidos.
Se alguém perguntar meu nome,
diga para me chamar de “meu amigo”...
E se alguém perguntar quem eu sou,
diga que sou apenas alguém que ama a vida...
e que ama muito os seus amigos ..."