domingo, 27 de abril de 2008

NUNCA SEJA SEMPRE O MESMO...

"A vida é igual em toda parte
e o necessário é a gente ser a gente mesmo...
Não devemos tentar mudar
a essência das pessoas que convivem conosco
e nem deixar que nos mudem...
Devemos mudar os hábitos nocivos
e as atitudes que nos limitam a vida...
Devemos ser verdadeiros o tempo todo
essa é a melhor maneira colorir as situações cinzentas
e enrraizar a beleza
nos terrenos mais hortís desse mundo, dessa vida...
Esse é o segredo para conquistarmos a felicidade...
Não mude sua essência, seja sempre você mesmo,
e por mais paradoxal que isso possa parecer,
nunca seja sempre o mesmo..."
(Luís Andrarreis)

segunda-feira, 21 de abril de 2008

DESPEDIDA

"Existem duas dores de amor:
A primeira é quando a relação termina e a gente,
seguindo amando,
tem que se acostumar com a ausência do outro,
com a sensação de perda,
de rejeição e com a falta de perspectiva,
já que ainda estamos tão embrulhados na dor
que não conseguimos ver luz no fim do túnel.
A segunda dor é quando
começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel.
A mais dilacerante é a dor física
da falta de beijos e abraços,
a dor de virar desimportante para o ser amado.
Mas, quando esta dor passa,
começamos um outro ritual de despedida:
a dor de abandonar o amor que sentíamos.
A dor de esvaziar o coração,
de remover a saudade, de ficar livre,
sem sentimento especial por aquela pessoa.
Dói também…
Na verdade, ficamos apegados ao amor
tanto quanto à pessoa que o gerou.
Muitas pessoas reclamam
por não conseguir se desprender de alguém.
É que, sem se darem conta,
não querem se desprender.
Aquele amor, mesmo não retribuído,
tornou-se um souvenir,
lembrança de uma época bonita que foi vivida…
Passou a ser um bem de valor inestimável,
é uma sensação à qual a gente se apega.
Faz parte de nós.
Queremos, logicamente,
voltar a ser alegres e disponíveis,
mas para isso é preciso abrir mão de algo
que nos foi caro por muito tempo,
que de certa maneira entranhou-se na gente,
e que só com muito esforço é possível alforriar.
É uma dor mais amena, quase imperceptível.
Talvez, por isso, costuma durar mais
do que a ‘dor-de-cotovelo’propriamente dita.
É uma dor que nos confunde.
Parece ser aquela mesma dor primeira,
mas já é outra.
A pessoa que nos deixou já não nos interessa mais,
mas interessa o amor que sentíamos por ela,
aquele amor que nos justificava como seres humanos,
que nos colocava dentro das estatísticas:
-Eu amo, logo existo-.
Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo.
É o arremate de uma história que terminou,
externamente, sem nossa concordância,
mas que precisa também sair de dentro da gente…
E só então a gente poderá amar, de novo."
(Martha Medeiros)

sexta-feira, 18 de abril de 2008

TESOURO DE EMOÇÕES

"As palavras que chegam a mim
são formas ocultas de desvendar
os mistérios profundos do amor...
Inflamado pela sublime e pura inspiração
de escrever para alguém
que me ajuda a decifrar esses mistérios.
O amor para mim é como o ar que respiro...
É através do amor eu sinto
a vida pulsar dentro de mim...
Desse encontro surge
um lindo jardim de emoções...
Um jardim cheio de pétalas preciosas
formando um tesouro colorido de emoções...
Nada é mais importante na vida
do que amar e sentir emoções...."
(Luís Andrarreis)

quarta-feira, 16 de abril de 2008

MEU DESAFETO...

"Me devolva os dias cansados
de tanto te esperar
quero uma trégua
nessa guerra silenciosa
as páginas dedicadas à você
arrancadas do meu caderno
já não me fazem mais sonhar
quero de volta a magia dos meus anos
de aeroplanos
e com ele toda a curiosidade trancada no meu olhar
pular o muro do quintal
da minha mente
jogar fora as noites dementes
rasgar a tela da minha imaginação
imagem- ação
empurrar as paredes do meu peito
abrir espaço nesse coração tão apertado
para que nele caiba
um amor de verdade..."
(Ana Lucia Correa de Camargo)

terça-feira, 15 de abril de 2008

HÁ UMA CRIANÇA...

"Há uma criança no meu coração
cheia de esperança e de alegria...
o nome dela eu não sei....
Até tentei descobrir, mas eu desisti,
pois ela me traz felicidade
e isso é que importa!!
Há uma criança dentro de mim
que me enche de paz,
que me traz amor
Há uma criança no meu paladar
Que me torna mais doce
e não tenho palavras para explicar
nem mais o que dizer...
Só sei que existe uma criança em meu coração..."
(Luís Andrarreis)

O GUARDADOR DE REBANHOS (trecho)

Num meio dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia
Vi Jesus Cristo descer à terra,
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu,
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras,
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas
-Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três,
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz no braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras nos burros,
Rouba as frutas dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas,
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus,
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia,
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou
-"Se é que as criou, do que duvido" -
Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada,
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres".
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos a dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales,
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos,
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu no colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é...
Esta é a história do meu Menino Jesus,
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?
(Fernando Pessoa/Alberto Caeiro)

ULTIMATUM

"Mandado de despejo aos mandarins do mundo
Fora tu reles esnobe plebeu
E fora tu, imperialista das sucatas
Charlatão da sinceridade e tu,
Da juba socialista, e tu qualquer outro.
Ultimatum a todos eles e a todos que sejam como eles todos.
Monte de tijolos com pretensões a casa
Inútil luxo, megalomania triunfante
E tu Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
Que nem te queria descobrir.
Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular
Que confundis tudo!
Vós anarquistas deveras sinceros
Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores
Para quererem deixar de trabalhar.
Sim, todos vos que representais o mundo,
Homens altos passai por baixo do meu desprezo
Passai, aristocratas de tanga de ouro,
Passai frouxos
Passai radicais do pouco!
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para casa, descascar batatas simbólicas
Fechem-me isso a chave e deitem a chave fora.
Sufoco de ter só isso a minha volta.
Deixem-me respirar!
Abram todas as janelas
Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo.
Nenhuma idéia grande,
Nenhuma corrente política que soe a uma idéia grão!
E o mundo quer a inteligência nova
O mundo tem sede de que se crie
O que aí está a apodrecer a vida, quando muito,
É estrume para o futuro.
O que aí está não pode durar porque não é nada.
Eu, da raça dos navegadores, afirmo que não pode durar!
Eu, da raça dos descobridores,
Desprezo o que seja menos que descobrir o mundo novo.
Proclamo isso bem alto, braços erguidos,
Fitando o Atlântico e saudando abstratamente o infinito.
Poderia ter sido escrito ontem.
Pena que não foi..."
(Álvaro de Campos, 1917)

NOITE FRIA

"O frio da noite entrou em meu quarto.
tomou conta do meu corpo invadiu minha alma...
Meus pensamentos foram a até vc.
Entre pensamentos e sonhos viajei no tempo.
Perdi o sono e rolei na cama.
A escuridão da noite, me fez outra vez sonhar.
Inconsciente a mão busca o abajur próximo
O clic do lume afugenta o negrume
Meu olhar embaçado pelo véu do sono
Contempla a solidão do quarto.
O quarto triste e pálido em cela se confunde
Amarga dor no peito se enclausura
Um travesseiro solto ao lado lhe espera
Tê-la ao meu lado neste instante, quem me dera!!!
Apago a luz, outra vez a escuridão invade
Afago o travesseiro e no frio busco sonhar
Que no dia seguinte possa seu beijo me acordar!"
(Markos André)

ME LEVE...

"Me leve
longe do lugar-comum
quero te despir de todos os cliches
pra que se vestir com tantas máscaras?
se esconder atrás da boa educação
"S'il vous plaît" , "merci", "n'y a pas de quoi"
quero uma vida sem ponto e vírgula
nem reticências...
livre de toda inocência
deitar no teu colo me embriagar no teu perfume
sem penas, nem cenas
viver a fundo
ser o autor desse romance
sem farsas
não quero o "jamais"nem o "sempre"
quero apenas o aqui e agora."
(Ana Lucia Correa de Camargo)

FASCÍNIO

"Aonde quer que eu vá o brilho
de certos olhos verde-azulados me alcança
e exerce sobre mim o seu fascínio.
Por mais que eu tente escapar,
todas as rotas de fuga, todos os atalhos,
me conduzem ao seu encontro.
Diante de tal poder,
comparo-me a um rio largo e denso
que habilmente contorna as montanhas,
percorre caminhos tortuosos, desenha paisagens,
arrasta o que encontra à frente,
mas não resiste aos apelos do mar
e acaba sempre absorvido pela imensidão azul
que lhe rouba a identidade.
Contra o magnetismo do brilho desses olhos
tento erguer trincheiras, muros altos,
barricadas e barreiras.
Entretanto, tudo isso sucumbe ante o seu poderio.
É impossível lutar contra os arsenais de seus exércitos.
E assim, eles abrangem mais e mais espaço.
Ditam políticas, definem novos limites geográficos,
mudam as fronteiras, levantam novas bandeiras,
indiferentes às minhas vontades.
Sem forças pra reagir, entrego-me inteiro
e me divirto nos intensos momentos de festa.
No auge do calor que me provoca o brilho desses olhos,
faço planos, me transformo em imensos oceanos,
ondas gigantescas, ressacas,
e provoco o doce embalo dos navios...
Depois, do que me resta,
procuro novas rotas, atalhos, saídas.
Fujo..."
(José Maria Nunes)

MOMENTOS DE SILÊNCIO

"Há momentos em que a Vida silencia,
obrigando-me a ouvir a voz interior.
Tento escapar e busco o Vento,
mas ele apenas sopra sem um ruído sequer.
Corro para o Mar, implorando por um rugir das ondas,
mas ele se faz inquietante calmaria.
Na rua vazia, os carros não passam.
Na praça florida há um êxodo de crianças.
Os cães não latem, os gatos não miam, os pombos não arrulham.
Há momentos em que o exterior se cala em agonia.
Quieta, acomodo-me num canto da sala
e deixo-me escorregar pelo tapete macio.
Pensamentos dançam um balé elaborado que calmamente observo.
Lembranças desenham na mente
traços desordenados e formas desconexas.
Nem uma palavra encontra força para irromper pela garganta.
Pouco a pouco, tudo se apaga e a ânsia se esvazia.
Com os olhos fechados, tateio meus sonhos
esquecidos no tempo e encontro-os ainda lá.
Intactos. Íntegros. Inteiros. Ainda sonhos.
Há momentos em que a Vida silencia
para que eu resgate meus sonhos do Esquecimento.
Levanto-me devagar e ando até a janela.
Nenhum sinal de sonoridade aparente.
Nenhuma paisagem nova.
Nem um chamado pra contar a história.
Um a um, meus sonhos saem do sono, despertos e renovados.
Pressinto um sorriso arriscando a esboçar-se no meu rosto
e a alegria invadindo cada músculo da face,
num alongamento prolongado que também calmamente observo.
Saio lentamente desse torpor momentaneo
e retomo contato com o ambiente.
Quanto tempo estive ausente?
Um cheiro negro de fumaça me irrita a garganta.
Passo as mãos sobre os olhos e vejo os onibus
passando na rua entre as calçadas cheias de gente.
Escuto a gritaria alegre das crianças na praça
e o estrondo das ondas quebrando na praia.
Buzinas mal educadas, o pio do Bem-Te-Vi,
o rádio na Paradiso, um martelar intermitente...
é, voltei ao mundo real.
Ao pesadelo tronitoante de cada dia,
ao som dessa orquestra infernal.
Ainda resta o sonho, esperando pra ser vivido,
porque -Existe um lugar...-"
(Denise Rangel)

domingo, 6 de abril de 2008

FLIPERAMA

"Eu não queria me apegar a você
Era pra ser um risco, um rabisco,
Um cotidiano indício
De que não há tempo para gostar
Era pra ser menor que o mar
Menos importante que o ar
A contramão de uma rima
Pois não haveria poesia
Era pra durar menos que um dia
E mesmo à minha revelia
Era pra dar lugar a um corpo novo
Era pra ser um esboço
Do quadro-solidão da minha sina
Porque é meu peito que determina
Quem deve ficar ou sair
Era pra você fugir
Quando despontasse o sol
Para que no mergulho diário
Fosse viável escapar do anzol
Que insiste em me condenar à pescaria
Eu não queria dizer, mas dizia.
Eu não podia sentir... e sentia
E hoje, em meio à nostalgia,
Grito seu nome sem parar
Em que verso eu me perdi?
E você onde está?
Será que voou para longe?
Será que me espera voltar?
Será que se lembra das juras
Trocadas após o jantar?
E tão longe de vocêAinda recebo seu corpo
E meio que a contra-gosto
Abro o zíper da sua calça
Minha alma alça vôos
E me conduz a sua lembrança
Querendo apostar na contradança
Ainda que tenha findado a valsa
Sem querer, no fim do dia,
Encontrei a fotografia
Que roubei naquela noite
Lado a lado com a minha
Inventei que estamos juntos
E mudando de assunto
Apostei nessa verdade:
Estamos sós nessa cidade
Que me remete à solidão
Meus pensamentos estão em você
E os seus onde estão?
Será que forjam argumentos?
Será que passeiam ao sabor do vento?
Será que soy loco por tu boca
Y así me voy muriendo?
Seu português defasadoMeu inglês debochado
E nossas línguas procurando
O que condenamos ao passado
Em que idioma falamos
Para que desse tudo errado?"
(Léo Nolasco)

SENTIMENTOS OPACOS

"Faço de um tudo pra você desgostar de mim.
Porém me lês o avesso e ao avesso, transverso e desconexo,
dispersos no turbilhão dos meus sentimentos opacos.
E retiras dos meus olhos as pupilas como um reitor obstinado
que me chupa o cristalino e a minha retina dilata
e furta meus cílios postiços
e, impudoroso, me subulga sob as botas mal engraxadas
e limpa seus dentes podres com esporão afiado.
Que mania essas pessoas têm de me trazer aflição?
E quem disse que eu tenho que lhe dar meu coração?
Sou o cachorro ganindo no escuro, a tal flor do mal, o malmequer.
Quem me encendeia meus ventos e me provoca um tufão?
Me pergunte a quantas léguas disparou meu coração?
Me faz cós de sua farda, forro do seu matulão,
ditongo de seu nasal, bão do seu bambalalão
refém do seu desanseio, da sua devassidão?
e ao depois sonso me diz: faz assim comigo não!"
(Hermínio Bello de Carvalho)

COMO SECAR AS PALAVRAS...

"Como secar as palavras
se elas entornam de minhas mãos
indiferentes ao meu gesto controlador?
E como controlar as lágrimas, como fazê-lo?
se elas insistem em brotar como filetes de água
se anunciando cachoeiras ridículas,
prestes a desaguar rio acima?
Como resecar os sentimentos
que umedecem a minha alma
e parecem brotar de novo
do pano de chão com que as esfrego,
cônscio da inutilidade do ato?
Difícil é o ofício, disse o poeta.
Mas viver, meu Deus!,
também como é difícil!"
(Hermínio Bello de Carvalho)

APRENDI...

"Aprendi....
Que grandes amigos podem se tornar tremendos inimigos;
Que o amor, sozinho, não tem a força que imaginei;
Que ouvir aos outros é o melhor remédio e o pior veneno;
Que a gente nunca conhece uma pessoa de verdade,
afinal gastamos uma vida inteira para conhecer a nós mesmos;
Que confiança não é questão de luxo, e sim de sobrevivência;
Que os poucos amigos que te apoiam na queda,
são muito mais fortes do que os muitos que te empurram;
Que o "nunca mais" graças a Deus nunca se cumpre;
Que o "para sempre" infelizmente muita das vezes se acaba;
Que minha família com suas mil diferenças,
está sempre aqui quando eu preciso;
Que ainda não inventaram nada melhor
do que colo de mãe desde que o mundo é mundo;
Que vou sempre me surpreender,
seja com você ,com os outros ou comigo mesmo;
Que infelizmente ou felizmente só o futuro me dirá
se vou cair e levantar milhões de vezes
..e ainda não vou ter aprendido tudo!!
Aprendi que a partir de hoje vou cuidar da minha saúde,
pois da minha vida eu tenho
uma "família'"enorme que já faz isso por mim..."
(Autor Desconhecido)

DÁ-SE A CASA...

"Dá-se a casa,
mas a chave fica por dentro da gente
trancando com certa raiva as coisas que lá ficaram...
Dá-se a casa,
e a mobília gruda em nossa memória:
- E vem um sabor de lenha da carne, quando ela assava.
Dá-se a casa,
e as samambaias choronas são hoje penduricalhos
ardendo os olhos que as lembram:
(Era a casa um coração de quartos desajeitados;
mas se cantava, e as pessoas te pediam silêncio;
se choravam e as pessoas acudiam com seus lenços).
E há quem passe na casa e nomeei seu ex-dono:
uma pessoa de hábitos estranhos e movediços;
que replantava gerânios nem onde jardim havia;
que se abrigava na chuva e conversava com Deus
e vinha, morto de fome, debruçar-se na paisagem
e lambusava de nuvens seus dedos misteriosos
e lambiscava adoidado, as fagulhas de estrelas
caidas sobre o telhado da casa,
que guardo a sete chaves..."
(Hermínio Bello de Carvalho)