quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

ISTO É O QUE EU SOU...

"Não escolhi ser um homem comum.
É meu direito ser diferente, ser singular, incomum,
desenvolver os talentos que Deus me deu.
Não desejo ser um cidadão pacato e modesto,
dependendo sempre de alguém.
Quero correr o risco calculado,
sonhar e construir, falhar e suceder.
Recuso trocar incentivo por doação.
Prefiro as intemperanças à vida garantida.
Não troco minha dignidade por ajuda de outros.
Não me acovardo e nem me curvo ante ameaças.
Minha herança é ficar ereto, altivo e sem medo,
pensar e agir por conta própria e,
aproveitando os benefícios de minha criatividade,
encarar arrojadamente o mundo e dizer:
Isto é o que eu sou".
(Bertold Brecht)

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

VOCÊ É O MEU BALÃO...

"Seja mais carinhoso do que o necessário,
Pois todos os que você conhece estão de alguma forma
Enfrentando uma batalha!
Uma língua afiada pode cortar a própria garganta.
Se eu quiser que meus sonhos se realizem,
Não posso dormir demais.
De todas as coisas que eu uso,
minha expressão é a mais importante.
A minha felicidade depende da qualidade dos meus pensamentos.
A coisa mais pesada que carregamos é a vingança.
Algo que posso oferecer e ainda possir...
Minhas próprias palavras.
Mentimos mais alto, quando mentimos para nós mesmos.
Se não tenho coragem para recomeçar, então, já acabei.
Uma coisa que não se pode reciclar é o tempo perdido.
Nossa mente é como um pára-quedas:
Só funciona aberto.
A vida é muito curta para se arrepender.
Então, ame as pessoas que te tratam bem.
Esquece as que te tratam mal...
Acredite que tudo acontece por uma razão.
Se tiver uma segunda chance, agarre-a com as duas mãos.
Ninguém disse que a vida seria fácil,
Só que vale a pena.
Os amigos são como balões;
Se você os deixar ir,
Talvez nunca mais vá tê-los de volta.
Às vezes nos ocupamos com nossas própria vidas
Que não notamos que os deixamos ir...
Às vezes nos preocupamos com quem está certo ou errado,
Que esquecemos o que é certo ou errado.
Às vezes nos esquecemos o que é amizade
Até que seja tarde demais.
E eu não quero que isso isso aconteça conosco,
Então vou amarrar você no meu coração
Assim eu nunca vou te perder..."

DOÇURA

"Doçura é a maestria dos sentidos.
Olhos que vêem o fundo das coisas...
Ouvidos que escutam o coração das coisas...
Boca que fala a essência das coisas...
Doçura é o resultado de uma longa jornada interior
ao âmago da vida e a habilidade de lá descansar e assistir.
O que é realmente doce nunca pode ser vítima do tempo...
...por que doçura é a qualidade da pessoa
cuja vida tocou a eternidade..."
(Brahma Kumaris)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

SONETO DO AMIGO

"Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.
É bom sentá-lo novamente ao lado
Com os olhos que contem o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.
Um bicho igual à mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com meu próprio engano.
O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica..."
(Vinicius de Moraes)

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

NAQUELE DIA...

"Depois de muito esperar,
num dia como outro qualquer, decidi triunfar...
Decidi não esperar as oportunidades e sim, eu mesmo buscá-las.
Decidi ver cada problema
como uma oportunidade de encontrar uma solução.
Decidi ver cada deserto
como uma possibilidade de encontrar um oásis.
Decidi ver cada noite como um mistério a resolver.
Decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz.
Naquele dia descobri que meu único rival
não era mais que minhas próprias limitações
e que enfrentá-las era a única e melhor forma de as superar.
Naquele dia, descobri que eu não era o melhor
e que talvez eu nunca tivesse sido.
Deixei de me importar com quem ganha ou perde.
Agora me importa simplesmente saber melhor o que fazer.
Aprendi que o difícil não é chegar lá em cima, e sim deixar de subir.
Aprendi que o melhor triunfo é poder chamar alguém de"amigo".
Descobri que o amor
é mais que um simples estado de enamoramento,
"o amor é uma filosofia de vida".
Naquele dia,
deixei de ser um reflexo dos meus escassos triunfos passados
e passei a ser uma tênue luz no presente.
Aprendi que de nada serve ser luz
se não iluminar o caminho dos demais.
Naquele dia, decidi trocar tantas coisas...
Naquele dia, aprendi que os sonhos existem para tornar-se realidade.
E desde aquele dia já não durmo para descansar...
simplesmente durmo para sonhar..."
(Walt Disney)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

REVOLUÇÃO DA ALMA

"Ninguém é dono da sua felicidade,
por isso não entregue sua alegria,
sua paz sua vida nas mãos de ninguém,
absolutamente ninguém.
Somos livres, não pertencemos a ninguém
e não podemos querer ser donos dos desejos,
da vontade ou dos sonhos de quem quer que seja.
A razão da sua vida é você mesmo.
A tua paz interior é a tua meta de vida.
Quando sentires um vazio na alma,
quando acreditares que ainda está faltando algo,
mesmo tendo tudo, remete teu pensamento
para os teus desejos mais íntimos
e busque a divindade que existe em você.
Pare de colocar sua felicidade cada dia mais distante de você.
Não coloque o objetivo longe demais de suas mãos:
abrace os que estão ao seu alcance hoje.
Se andas desesperado por problemas financeiros,
amorosos, ou de relacionamentos familiares,
busca em teu interior a resposta para acalmar-te,
você é reflexo do que pensas diariamente.
Pare de pensar mal de você mesmo,
e seja seu melhor amigo sempre.
Sorrir significa aprovar, aceitar, felicitar.
Então abra um sorriso
para aprovar o mundo que te quer oferecer o melhor.
Com um sorriso no rosto
as pessoas terão as melhores impressões de você,
e você estará afirmando para você mesmo
que está "pronto“ para ser feliz.
Trabalhe, trabalhe muito a seu favor.
Pare de esperar a felicidade sem esforços.
Pare de exigir das pessoas aquilo que nem você conquistou ainda.
Critique menos, trabalhe mais.
E não se esqueça nunca de agradecer.
Agradeça tudo que está em sua vida nesse momento...
Nossa compreensão do universo ainda é muito pequena
para julgar o que quer que seja na nossa vida.
A grandeza da vida não consiste em receber honras,
mas em merecê-las..."
(Aristóteles - ano 360 A.C.)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

MERGULHOS

"A sua ausência perdurou além de minha fé
foi inútil declarar guerra à solidão e à desesperança; entreguei-me.
Assim, da janela, vi o tempo em conluio com o vento
mudar as paisagens e transformar suas imagens em vagas lembranças.
Antes, porém, no afã de manter acesa a chama,
bradei aos quatro cantos, clamei sua presença,
até perder a voz mas, vi sumir na poeira da estrada
a menina de tranças, resoluta, sem olhar pra trás.
Então busquei pro meu viver outros motivos estanquei as lágrimas,
semeei novas sementes, busquei outros caminhos, flores se abriram.
Uma boca revelou-me outros sorrisos
e a névoa no horizonte aos poucos foi se dissipando.
O sol mostrou pra mim o mar em outros olhos
no qual eu mergulhei de corpo inteiro
como se fossem as águas de abrolhos."
(José Maria A.Nunes)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

NA CONTRA-MÃO

"Não sou mulher de minutos
Daquelas que os segundos varrem
Para debaixo do tapete sujo...
Não pinto os cabelos de fogo
Nem faço tatuagem no umbigo.
Me recuso a usar corpetes e cinta-liga.
Há sementes em meu ventre
São palavras que ainda não reguei
Prefiro guardá-las em silêncio
Até que o tempo amadureça meus minutos
E a vida me contemple com seus frutos...
Não borro meus cílios na solidão da noite
Nem pinto meu rosto com a palidez das manhãs
Meu corpo é feito de marés
Onde navegam mil anseios
Veleiros sem direção
Estou sempre na contramão..."
(Monica Mantone)

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

SINTO VERGONHA DE MIM...

"Sinto vergonha de mim…
por ter sido educador de parte desse povo,
ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim...
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez no julgamento da verdade,
a negligência com a família, célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o “eu” feliz a qualquer custo,
buscando a tal “felicidade”em caminhos
eivados de desrespeito para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim...
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos “floreios” para justificar atos criminosos,
a tanta relutância em esquecer a antiga posição
de sempre “contestar”,
voltar atrás e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim...
pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos que não quero percorrer…
Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor ou enrolar meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti, povo brasileiro !
” De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto “."
(Rui Barbosa)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

O PESO DA MINHA ALMA...

"Minha alma tem o peso da luz.
Tem o peso da música.
Tem o peso da palavra nunca dita,
prestes quem sabe a ser dita.
Tem o peso de uma lembrança.
Tem o peso de uma saudade.
Tem o peso de um olhar.
Pesa como pesa uma ausência.
E a lágrima que não se chorou.
Tem o imaterial peso
da solidão no meio de outros..."
(Clarice Lispector)

OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO

"Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda...
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam -os delicados- morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação..."
(Carlos Drumond de Andrade)

PAIXÃO...

"Paixão ...
É o delírio de quem se entrega
É rebentação que carrega
É a raiz de onde brota a loucura
Paixão ...
É luz negra que ofusca e cega
É mar que se teme e se navega
É ânsia sublime de aventura
Paixão ...
É o abismo de quem se apega
É a bendita flor que o mal rega
É o reverso que tem toda jura
Paixão ...
É a surpresa que a gente não nega
É o destino de quem não sossega
É o mistério entre a espera e a procura..."
(Paulo Cesar Pinheiro)

DESPEDIDA

"Eu falei pra gente cuidar do amor
Não separar os sonhos
nem banalizar a dor...
Avisei mil vezes mil
para além das luzes caminharmos
em veredas azuis
Mas vc não me ouviu...
Eu que tive tanto sentimento
Aguento a partida em silêncio
falta-me o verbo subjuntivo
Abstraio enquanto choro.
Não importa mais...
agora a diferença faz toda diferença...
Só tenho uma palavra:
Valeu!"
(Lúcia Gönczy)

ESPERO POR TI...

"Espero por ti como quem espera a chuva
mesmo antes de cair...
Sabe quando sente o cheiro da terra?
Aquela que anuncia...
E'assim que te espero.
Espero por ti como a lua que se esvai triste
por ser apenas a sombra do sol...
Espero por ti como algo inominável...
Como quem nada espera
Assim que tu venhas aportar nas minhas asas
Meio borboleta, meio beija-flor
Espero por ti como lenda,
Como amor,
Como não sei mais o quê
Inda que tudo finde...
Espero por ti..."
(Lúcia Gonczy)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

AUSÊNCIA...

"Eu deixarei que morra em mim
o desejo de amar teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa
de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa
como a luz e a vida...
E eu sinto que em meu gesto existe
o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter
porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada...
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei...
tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos
e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite
e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos
da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência
do teu abandono desordenado...
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar,
do vento, do céu, das aves, das estrelas...
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente,
a tua voz perenizada..."
(Martha Medeiros)

domingo, 28 de setembro de 2008

MÁSCARAS

"Não deixe se enganar por mim.
Não se engane com as máscaras que uso,
pois eu uso máscaras que eu tenho medo de tirar,
e nenhuma delas sou eu.
Fingir é uma arte que se tornou uma segunda natureza para mim,
mas não se engane.
Eu dou a impressão de que sou seguro,
de que tudo está bem e em paz comigo,
que meu nome é confiança e tranqüilidade;
é meu tema que as águas do mar são calmas
e eu que estou no comando sem precisar de ninguém.
Mas não acredite, por favor.
Minha aparência é tranqüila,
mas é apenas uma aparência, é uma máscara superficial,
mas é a que sempre varia e esconde.
Por baixo não há tranqüilidade, complacência ou calma.
Por baixo, está meu mal em confusão, medo e abandono.
Mas eu oculto tudo isso, pois eu não quero que ninguém veja.
Fico em pânico
ante a possibilidade de que minha fraqueza fique exposta,
e é por isso que eu crio máscaras atrás das quais eu me escondo
com a fachada de quem não se deixa tocar,
para me ocultar do olhar que sabe.
Mas esse olhar é justamente minha salvação.
Eu sei disto.
É a única coisa que pode me libertar de mim mesmo,
dos muros da prisão que eu mesmo levantei,
das barreiras que eu mesmo tão dolorosamente construo.
Mas eu não digo muito disso à você.
Não sorria, tenho medo.
Tenho medo que seu olhar não seja de amor e atenção.
Tenho medo que você me menospreze,
que ria de mim, me ferindo.
Tenho medo de que lá dentro do interior de mim mesmo,
eu não valha nada e que você acabe vendo e me rejeitando.
Então eu continuo a viver meus jogos,
meus jogos de fingimento,
com a fachada de segurança de fora
e sendo uma criança tremendo por dentro.
Como um desfile de máscaras, todas vazias,
minha vida se tornou um campo de batalha.
Eu converso com você uma conversa infantil e superficial.
Digo à você tudo que não tem a menor importância
e calo o que arde dentro de mim.
De forma que, não se deixe enganar por mim.
Mas por favor, escute e tente ouvir
o que eu não estou dizendo e que eu gostaria de dizer.
Eu não gosto de me esconder, honestamente eu não gosto.
Eu tão pouco gosto de jogos tolos e superficiais que faço.
Eu gostaria mesmo era de ser genuíno, espontâneo, eu mesmo,
e você tem que me ajudar, segurando a minha mão,
mesmo que quando esta for a última coisa
que eu aparentemente necessitar.
Cada vez que você me ajuda,
um par de asas nasce no meu coração.
Asas pequenas e frágeis, mas asas.
Com sua sensibilidade, afeto e compreensão, eu me torno capaz.
Você me transmite vida.
Não vai ser fácil para você.
A idéia de que eu não valho nada vem de muito tempo
e criou muros fortes.
Mas o amor é mais forte que os muros,
e aí está a minha esperança.
Por favor ajude-me a destruir esses muros, com mãos fortes,
mas gentis, pois uma criança é muito sensível e eu sou uma criança.
E agora, você gostaria de perguntar quem sou eu?
Eu sou uma pessoa que você conhece muito bem.
Eu sou todo homem, toda mulher, toda criança,
todo ser humano que você encontra..."
(Hannah Blue)

DOS VINTE SEGUNDOS ANTES DO BEIJO...

"Você não sabe o que foi aquele beijo.
Havia em seus olhos uma multidão de estranhos
que, de repente, parou instantes para olhar.
Empurrei os seus olhos com os meus
e ouvi o silêncio dos seus pensamentos,
já não sabendo se aquilo que eu pensava era meu
ou se era dele porque olhar nos olhos de um estranho
é se deixar espiar por estrelas.
Como se aquilo que eu pensava também já fosse tarde demais,
meus pensamentos sugados pelos olhos do outro.
Havia naqueles olhos uma correria inútil
de tampar segredos e eu soube de todos eles,
não por meio de palavras, mas por meio de silêncios.
Eu nunca soube decifrar silêncios,
mas posso tocá-lo com a ponta dos dedos.
Assim eles ficaram, os segredos daquele olhar,
no canto das coisas que eu pensava e pensava,
antes de aproximar os meus lábios.
Você não sabe o que foi aquele olhar.
Os olhos dela eu nunca mais vi,
não eram os olhos que me fitaram,
de maneira fugidia, como na primeira vez.
Eram olhos que guardavam perguntas inocentes,
e eu quase arrumei de volta os seus cabelos,
abotoei a sua blusa e lhe pedi desculpas
por ter faltado com o respeito.
Mas sorrisos são pontes que se abrem no rosto
para o outro poder passar.
E só por conta daquele sorriso eu atravessei a distância
entre o meu rosto e o dela
para encostar os meus lábios aos seus..."
(Rita Apoena)

A MENINA E O ARCO-ÍRIS

"Todo dia, a menina corria o quintal,
procurando um arco-íris.
Corria olhando para o alto, tropeçava e caía.
Toda vez que se machucava, vinha chorando uma cor.
Um dia, chorou o anil até esvaziá-lo dos olhos.
Depois, chorou laranja, chorou vermelho e azul.
Chorou verde. Violeta. Amarelo e até transparente!
Chorou todas as cores que tinha, todas as cores de dentro.
Então, abriu os olhos e nem o arco-íris, ela viu.
Não viu flores e borboletas.
Não viu árvores e passarinhos.
Pensando que era ainda noite, deitou-se na cama e dormiu.
Pensando que era tudo escuro, nem levantar-se ela quis!
Ficou dormindo cinzenta, por dias e noites sem fim...
Foi quando um sonho, tão colorido, derramou-se dentro dela!
Tingiu o travesseiro e a fronha, o lençol e o pijaminha.
Tingiu a meia e o quarto. Tingiu as casas e os ninhos!
A menina abriu a janela e viu que hoje não tinha arco-íris.
Mas tinha o desenho das nuvens.
Tinha as flores e um passarinho..."
(Rita Apoena)

SOBRE A SEPARAÇÃO...

"Quando você vai embora de nós
o pronome parte-se ao meio.
Você diz que só leva o "s",
e o que adianta?
se comigo sobra o nó na garganta..."
(Rita Apoena)

ARREPIO

"Seus dedos na minha pele são arrepios.
Todos os pêlos, curiosos,
levantam-se para ouvir o suspiro.
E, comemorando a vitória da pele sobre as palavras,
acompanham seus dedos em ola,
arrepiando-se, arrepiados.
Seus dedos que, de tão leves,
escorregam sobre minha pele,
cortando-me em quatro pedaços..."
(Rita Apoena)

SOBRE AS DESPEDIDAS...

"Os cílios agarraram-se às pálpebras
quando tentei fechar meus olhos.
Mas você assoprou e todos voaram.
De novo nasceram e de novo voaram.
Não faça mais isso!
Quem vai cortar a lágrima em fatias
no dia em que você for embora?"
(Rita Apoena)

UM MENINO E SEUS SONHOS...

"Um certo menino achou que deveria sair de seus sonhos
e buscar sorrir com as pessoas que amava,
imaginando como seriam tais pessoas...
Um dia em silêncio sentado num banco, vendo uma árvore,
imaginou que cada folha fosse um abraço,
pensou se seria capaz de dar tantos abraços
como folhas dessa árvore,
ele fechou os olhos e contou mentalmente
quantos abraços daria nas pessoas que ele ama...
Mas a timidez fez ele perder a contagem
de quantos abraços teria que dar...
e ele voltou pra casa chorando..."

terça-feira, 23 de setembro de 2008

ANTECIPADA...

"Tuas palavras são secas sereias
vestidas com meias
que me intimidam tanto
e entre diabos, são santas
e entre infernos, são céus.
Diz-me qualquer coisa crua
quando no luar não mais houver lua
e em meu peito a paz.
Sinto-me ausente de tua presença
e se não sou o que pensas,
penso que nada o sou mais.
Sinto-me o mesmo pierrô errante,
o homem que sofreu antes
por tudo o que ainda vai chegar
e desvairadamente relembrar
o que nunca quis em mim ser ontem!"
(Paulino Vergetti Neto)

domingo, 21 de setembro de 2008

SEM MAIS OU MENOS...

"Sempre desprezei as coisas mornas,
as coisas que não provocam ódio nem paixão,
as coisas definidas como mais ou menos,
um filme mais ou menos,
um livro mais ou menos.
Tudo perda de tempo.
Viver tem que ser perturbador,
é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados,
e com eles sua raiva, seu orgulho, seu asco,
sua adoração ou seu desprezo.
O que não faz você mover um músculo,
o que não faz você estremecer, suar, desatinar,
não merece fazer parte da sua biografia..."

AFINIDADE...

"A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
É o mais independente.
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,
as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade,
qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa,
o afeto no exato ponto em que foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando a vida.
É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo para o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.
Ter afinidade é muito raro.
Mas quando existe
não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece
depois que as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar a um não afim,
sai simples e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.
Afinidade é ficar longe pensando parecido
a respeito dos mesmos fatos
que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavras.
É receber o que vem do outro
com aceitação anterior ao entendimento.
Afinidade é sentir com, nem sentir contra,nem sentir para,
nem sentir por, nem sentir pelo.
Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios.
Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber. É mais calar do que falar,
ou, quando é falar, jamais explicar: apenas afirmar.
Afinidade é jamais sentir por.
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.
Compreende sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para poder questionar.
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.
Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças.
É conversar no silêncio, tanto nas possibilidades exercidas
quanto das impossibilidade vividas.
Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou
sem lamentar o tempo de separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas oportunidades dadas -tiradas- pela vida,
para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser,
cada vez mais a expressão do outro
sob a forma ampliada do eu individual aprimorado..."
(Arthur da Távola)

sábado, 20 de setembro de 2008

ACREDITO NAS PESSOAS...

"Acredito nas pessoas que fazem o bem
e que se protegem do mal apenas com um sorriso,
uma palavra um beijo, um abraço, uma oração...
Pessoas que atravessam as ruas,
sem medo da luz que existe nelas,
caminham firmes e que levantam a cabeça
nos momentos de puro desespero...
Pessoas que erram mais do que acertam,
que aprendem mais do que ensinam
e que vivem mais do que sonham...
Pessoas, simplesmente pessoas...
que nem sempre tem certeza de tudo,
mas que acreditam sempre...
Transparentes, amigas,
espontâneas, até mesmo ingênuas...
Que passam pela terra
e deixam que suas marcas, suas lembranças,
que deixam saudade e não apenas rastros..."

AGORA...

"Agora que o tempo passou e o tempo chegou
viajo nos teus olhos de noite sem parar...
Agora que a estrada se fez luz,
percebo que muito foi muito pouco para tanto querer...
Agora brigo com os meus desejos
que não calam ...não cessam...
Agora libero todo sangue
para que tudo pulse em cada movimento
desejando que este mesmo tempo seja breve...
Até minha aorta não poder mais conviver com esta ausência,
a falta do cheiro e o gosto da boca
nem a louca mão que procura, na outra,
a sua própria essência...
Agora que evaporei,
trago condensado no peito uma saudade doída
embora saiba que para ter volta é preciso ter despedida
consumo o ato num fato real e imaginário
de que agora é depois..."
(Lúcia Gönczy)

terça-feira, 16 de setembro de 2008

MAIS UM DIA DE CHUVA...

"Um outro dia, embaixo da chuva,
esperamos um barco à beira de um lago;
a mesma lufada de aniquilamento me atinge,
desta vez por felicidade.
Assim, às vezes,
a infelicidade ou a alegria desabam sobre mim,
sem nenhum tumulto posterior,
nenhum outro sentimento:
estou dissolvido, e não em pedaços:
caio, escorro, derreto.
Este pensamento levemente tocado,
experimentado, tateado
-como se tateia a água com pé- pode voltar.
Ele nada tem de solene.
É exatamente a doçura."
( Roland Barthes )

DO QUE NÃO SE SABE...

"Sem medo, sabe?
não sabe ainda, mas um dia vai saber.
O medo fica ali petrificado
pra quem não olha fixo pra ele,
pra quem não consegue chegar perto
pra entender suas formas, suas cores.
Ele é enquanto desconhecido;
ele está, e depois voa, quando olhado no olho.
O olho verde do medo, tão verde que dói.
É igual à mariposa-monstro
estava na porta do armário.
Ficou lá enquanto eu fechava a porta do quarto
e deixava ela dormir sozinha -
eu dormindo no quarto ao lado.
Ficou lá.
Um dia, dois dias, três, quatro, quatro e meio.
Sem se mexer, sem piscar.
Até que eu finalmente cheguei perto.
Olhei bem a mariposa-monstro e seus olhos tão verdes,
e ela nem era mais monstro.
Era uma pequena fada preta
que tinha pousado ali pra me ensinar alguma coisa.
Foi quando ela sorriu, eu acho.
E foi embora, de uma voada só..."

domingo, 14 de setembro de 2008

CAMINHOS SEM VOLTA...

Dizem que antes de um rio cair no oceano,
ele treme de medo.
Olha para trás, para toda a jornada:
os cumes, as montanhas,
o longo caminho sinuoso através das florestas,
através dos povoados,
e vê à sua frente um oceano tão vasto
que entrar nele nada mais é
do que desaparecer para sempre.
Mas não há outra maneira:
o rio não pode voltar.
Ninguém pode voltar.
Voltar é impossível na existência.
Você pode apenas ir em frente.
O rio precisa se arriscar e entrar no oceano.
E somente quando ele entra no oceano
é que o medo desaparece,
porque apenas então o rio saberá
que não se trata de desaparecer no oceano.
Mas tornar-se oceano.
Por um lado é desaparecimento
e por outro lado é renascimento.
Assim somos nós.
Só podemos ir em frente e arriscar.
Renascendo a cada dia,
Tornando-se um Oceano..."

AFAGOS...

"Alguns escrevem pela arte,
pela linguagem, pela literatura...
Esses, sim, são os bons.
Eu só escrevo para fazer afagos.
E porque eu tinha de encontrar
um jeito de alongar os braços.
E estreitar distâncias.
E encontrar os pássaros:
há muitas distâncias em mim
(e uma enorme timidez).
Uns escrevem grandes obras.
Eu só escrevo bilhetes para escondê-los,
com todo cuidado, embaixo das portas..."

terça-feira, 9 de setembro de 2008

SONHOS MEUS

Beijo a face de teus sonhos
Sonhos não vividos
Desfaço teus vazios carentes
Rasgo o véu da distância
Levo para ti o vôo da esperança
Atravesso o infinito
Nas asas do amor
Meus desejos contidos
Encontrando os teus...
Não sei se vou ou se fico
Não sei se abandono ou edifico
Angústias da indecisão
Realidade
Ilusão
Começo ou fim
Incerteza do não
Incerteza do sim
Os dias passam...
te prenderás à terra
Ou escalarás tua ascenção
Não queiras recusar
Nem recuar
Sintas...
É o sopro que circula
E eclode em plena luz
Ele te fará ungido
E no amor redimido
Tudo que era êfemero se desfaz
E da omissão...sairás !
Sairás sim!
(Markos André)

RECEITA PARA DIAS CHUVOSOS...

"Ao despertar,
volte seu olhar para seu coração
e procure nele os rostos de seus amigos.
Sinta um sorriso gostoso
iluminando o seu próprio rosto
e um calorzinho agradável
percorrer seu corpo, como num abraço...
Memorize esses rostos conhecidos
e queridos olhando pra vc ,carinhosamente.
Só então pule da cama e enfrente o dia, lá fora.
Vc verá que mesmo se a paisagem estiver cinzenta,
um sol dourado e quentinho iluminará seu dia
e vc estará feliz e bem disposto.
O Amor tem uma luz que nem a chuva consegue esconder.
Eu sou apenas um dos inúmeros raios do seu sol interior.
E isso me faz feliz,
por que também reconheço vc no meu,
todas as manhãs!"
(Denise Rangel)

SE ALGUÉM PERGUNTAR...

"Se alguém perguntar quem sou,
diga que sou seu amigo, que fala de amor,
que fala do vento e se esquece do tempo...
Se alguém perguntar onde vivo,
diga que vivo no coração
daqueles que conhecem o amor...
Se alguém perguntar por onde eu ando,
diga que ando pela noite e que nela me aqueço...
Se alguém perguntar onde estou,
diga que estou em cada palavra,
cada lágrima e também no sorriso...
Se alguém perguntar se eu amo,
diga que sou a pessoa mais apaixonada do mundo...
Se alguém perguntar onde está a minha voz,
diga que minha voz grita
em nome daqueles que não são ouvidos.
Se alguém perguntar meu nome,
diga para me chamar de “meu amigo”...
E se alguém perguntar quem eu sou,
diga que sou apenas alguém que ama a vida...
e que ama muito os seus amigos ..."

domingo, 24 de agosto de 2008

QUEM SOU EU:

As vezes paro e penso,
e vejo tudo ao meu redor,
vendo tudo o que passou,
e o tempo que não volta mais...
Sinto o meu presente, distante do que sinto,
vivendo neste instinto do amor e desamor.
Admiro o futuro, com suas ilusões e esperanças,
remoendo a cada dia,
aquilo que chamamos de lembrança.
Chega de mentira e de viver na imprudência,
em achar que a aparência vale mais do que o amor...
Sempre me pergunto: Quem sou eu? e quem serei?
Ai! pergunta sem resposta.
Pois já dizia o filosofo: "Só sei que nada sei".
(Luan Pereira)

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

ALMAS PERFUMADAS

"Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta.
De sol quando acorda. De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede
que dança gostoso numa tarde grande,
sem relógio e sem agenda...
Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça.
Lambuzando o queixo de sorvete.
Melando os dedos com algodão doce
da cor mais doce que tem pra escolher...
O tempo é outro.
E a vida fica com a cara que ela tem de verdade,
mas que a gente desaprende a ver.
Tem gente que tem cheiro de colo de Deus.
De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul.
Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem
e que alguns são invisíveis.
Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa
e trocando o salto pelo chinelo...
Sonhando a maior tolice do mundo
com o gozo de quem não liga pra isso.
Ao lado delas, pode ser abril,
mas parece manhã de Natal
do tempo em que a gente acordava
e encontrava o presente do Papai Noel...
Tem gente que tem cheiro das estrelas
que Deus acendeu no céu
e daquelas que conseguimos acender na Terra.
Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível,
a gente tem certeza...
Ao lado delas,
a gente se sente visitando um lugar feito de alegria.
Recebendo um buquê de carinhos...
Abraçando um filhote de urso panda.
Tocando com os olhos os olhos da paz.
Ao lado delas,
saboreamos a delícia do toque suave
que sua presença sopra no nosso coração...
Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa.
Do brinquedo que as gente não largava.
Do acalanto que o silêncio canta.
De passeio no jardim...
Ao lado delas,
a gente percebe que a sensualidade é um perfume
que vem de dentro e que a atração que realmente
nos move não passa só pelo corpo...
Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar.
Ao lado delas,
a gente lembra que no instante em que rimos
Deus está dançando conosco de rostinho colado...
E a gente ri grande que nem menino arteiro.
Costumo dizer que algumas almas são perfumadas,
porque acredito que os sentimentos também têm cheiro
e tocam todas as coisas com os seus dedos de energia.
Minha avó era alguém assim.
Ela perfumou muitas vidas com sua luz e suas cores.
A minha, foi uma delas.
E o perfume era tão gostoso, tão branco, tão delicado,
que ela mudou de frasco,
mas ele continua vivo no coração de tudo o que ela amou..."
(Ana Claudia Saldanha Jácomo)

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

A INCERTEZA DA ALMA...

"A incerteza cai com a tarde no limite da praia.
Um pássaro apanhou-a, como se fosse um peixe,
e sobrevoa as dunas levando-a no bico.
O seu desenho é nítido,
mas sombras da dúvida
ou as manchas indecisas da angústia.
Termina com a interrogação, os traços do fim,
o recorte branco de ondas na maré baixa.
Subo a estrofe até apanhar esse pássaro com o verso,
prendo-o à frase, para que as suas asas
deixem de bater e o bico se abra.
Então, a incerteza cai-me na página,
e arrasta-se pelo poema,
até me escorrer pelos dedos
para dentro da própria alma..."
(Nuno Júdice)

FOTOGRAFIAS...

"Eis-me acordado
Com o pouco que me sobejou da juventude nas mãos
Estas fotografias onde cruzei os dias sem me deter
E por detrás de cada máscara desperta
A morte de quem partiu e se mantém vivo...
A luz secou na orla desértica da cidade
Escrevo para sobreviver
Como quem necessita de partilhar um segredo...
Este corpo em que me escondi... gastou-se...
Quantas noites permanecerão intactas no fundo do mar?
O rosto ainda jovem
Foi o tesouro de seivas que me entonteceu
Pelo corpo condeno-me à vida
De susto em susto à inutilidade da escrita...
Mas eis-me acordado
Muito tempo depois de mim
Esperando por alguma fulguração do corpo esquecido
À porta do meu próprio inferno..."
(Al Berto)

A AUSÊNCIA

"Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada,
aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim..."
(Carlos Drummond de Andrade)

SOU UM ESTRANGEIRO...

"Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um estrangeiro, e há na vida do estrangeiro
uma solidão pesada e um isolamento doloroso.
Sou assim levado a pensar
sempre numa pátria encantada que não conheço,
e a sonhar com os sortilégios
de uma terra longínqua que nunca visitei.
Sou um estrangeiro para minha alma.
Quando minha língua fala, meu ouvido estranha-lhe a voz.
Quando meu Eu interior ri ou chora,
ou se entusiasma, ou treme,
meu outro Eu estranha o que ouve e vê,
e minha alma interroga minha alma.
Mas permaneço desconhecido e oculto,
velado pelo nevoeiro, envolto no silêncio.
Sou um estrangeiro para o meu corpo.
Todas as vezes que me olho num espelho,
vejo no meu rosto algo que minha alma não sente,
e percebo nos meus olhos
algo que minhas profundezas não reconhecem.
Sou um estrangeiro neste mundo.
Se sair à luz,
a sombra de meu corpo me segue,
e as sombras de minha alma me precedem,
levando-me aonde não sei,
oferecendo-me coisas de que não preciso,
procurando algo que não entendo.
Idéias estranhas atormentam minha mente,
e inclinações diversas,
perturbadoras, alegres, dolorosas, agradáveis.
À meia-noite, assaltam-me fantasmas de tempos idos.
E almas de nações esquecidas me fitam.
Interrogo-as, recebendo por toda resposta um sorriso.
Quando procuro segurá-las,
fogem de mim e desvanecem-se como fumaça.
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um estrangeiro e não há no mundo quem conheça
uma única palavra do idioma de minha alma...
Permanecerei um estrangeiro
até que a morte me rapte e me leve para minha pátria..."
(Kahlil Gibran)

VIVA O INSTANTE...

"Vive o instante que passa.
Vive-o intensamente até à última gota de sangue.
É um instante banal, nada há nele
que o distinga de mil outros instantes vividos.
E no entanto ele é o único por ser irrepetível
e isso o distingue de qualquer outro.
Por que nunca mais ele será o mesmo
nem tu que o estás vivendo.
Absorve-o todo em ti, impregna-te dele
e que ele não seja pois em vão no dar-se-te todo a ti.
Olha o sol difícil entre as nuvens,
respira à profundidade de ti, ouve o vento.
Escuta as vozes longínquas de crianças,
o ruído de um motor que passa na estrada,
o silêncio que isso envolve e que fica.
E pensa-te a ti que disso te apercebes,
sê vivo aí, pensa-te vivo aí, sente-te aí.
E que nada se perca infinitesimalmente
no mundo que vives e na pessoa que és.
Assim o dom estúpido e miraculoso da vida
não será a estupidez maior
de o não teres cumprido integralmente,
de o teres desperdiçado numa vida que terá fim..."
(Vergílio Ferreira)

ONDE É QUE EU GUARDO O TEMPO?

"Onde é que guardo o tempo?
Posso agora dizer-vos que é dentro dos olhos.
Mesmo que se conservem assim límpidos
acabam por pousar neles algumas folhas.
Procuro depois que seja mais fácil
este caminho onde se encontram
os vestígios dos meus passos,
de qualquer encontro, de um gesto ainda furtivo.
Quantas sombras existem aí e me pertencem?
Sei que o repouso é menos que uma palavra.
Talvez chegue nas mesmas ondas
que julgávamos estar há muito esquecidas,
a neblina parece ser um arco onde se reúneo
que ficou abandonado para sempre.
É assim que começo a medir o tempo.
Alguns instantes reservo-os para a profundidadeda água;
outros para o modo como as minhas mãos estremecem..."
(Fernando Guimarães)

PARA OS QUE VIRÃO

"Como sei pouco e sou pouco,
Faço o pouco que me cabe
Me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
O homem que eu quero ser.
Já sofri o suficiente
Para não enganar a ninguém:
Principalmente aos que sofrem
Na própria vida, a garra da opressão, e nem sabem.
Não, não tenho o sol escondido no meu.
Bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
Para quem já a primeira
E desolada pessoa
Do singular – foi deixando,
Devagar, sofridamente
De ser, para tranformar-se
Muito mais sofridamente
Na primeira e profunda pessoa do plural.
Não importa que doa: é tempo
De avançar de mãos dadas
Com quem vai no mesmo rumo,
Mesmo que longe ainda esteja
De aprender a conjugar
O verbo amar.
É tempo sobretudo
De deixar de ser apenas
A solitária vanguarda
De nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
(dura no peito,
arde a límpida verdade de nossos erros)
Se trata de abrir o rumo.
Os que virão, serão povo,
E saber serão, lutando."
(Thiago de Mello)

A FRUTA ABERTA

"Agora sei quem sou.
Sou pouco, mas sei muito,
porque sei o poder imenso
que morava comigo,
mas adormecido como um peixe grande
no fundo escuro e silencioso do rio
e que hoje é como uma árvore
plantada bem alta no meio da minha vida.
Agora sei as coisa como são.
Sei porque a água escorre meiga
e porque acalanto é o seu ruído
na noite estrelada
que se deita no chão da nova casa.
Agora sei as coisas poderosas
que valem dentro de um homem.
Aprendi contigo, amada.
Aprendi com a tua beleza,
com a macia beleza de tuas mãos,
teus longos dedos de pétalas de prata,
a ternura oceânica do teu olhar,
verde de todas as cores
e sem nenhum horizonte;
com tua pele fresca e enluarada,
a tua infância permanente,
tua sabedoria fabulária
brilhando distraída no teu rosto.
Grandes coisas simples aprendi contigo,
com o teu parentesco com os mitos mais terrestres,
com as espigas douradas no vento,
com as chuvas de verão
e com as linhas da minha mão.
Contigo aprendi
que o amor reparte
mas sobretudo acrescenta,
e a cada instante mais aprendo
com o teu jeito de andar pela cidade
como se caminhasses de mãos dadas com o ar,
com o teu gosto de erva molhada,
com a luz dos teus dentes,
tuas delicadezas secretas,
a alegria do teu amor maravilhado,
e com a tua voz radiosa
que sai da tua boca
inesperada como um arco-íris
partindo ao meio e unindo os extremos da vida,
e mostrando a verdade
como uma fruta aberta."
(Thiago de Melo)

QUE VOCÊ CONHECE DE MIM...

"O que você conhece de mim
é essa parte que deixo visível
é o sorriso, o andar, o gesto insensível
até o calar dos sentimentos mais puros
o que eu deixo mostrar
é esse menino inseguro
que pega na sua mão
e pede a sua ajuda
mas, moça, não se iluda
com a minha dependência
eu aprendi a voar, a correr
a atravessar oceanos
e desvendar tempestades
mas tem dias que a saudade invade
eu penso somente em seu colo
sim, eu cresci mãe,
mas tem dias que penso em você
e serenamente choro."
(Léo Nolasco)

terça-feira, 12 de agosto de 2008

UMA CRIANÇA NO CORAÇÃO...

Há uma criança no meu coração
cheia de esperança e de alegria...
o nome dela eu não sei....
Até tentei descobrir...
mas eu desisti,
pois ela me traz felicidade
e isso é que importa!!
Há uma criança dentro de mim
que me enche de paz,
que me traz amor.
Há uma criança no meu paladar
que me torna mais doce
e não tenho palavras para explicar
nem mais o que dizer...
Só sei que existe uma criança em meu coração...

domingo, 10 de agosto de 2008

QUERIA VOLTAR A SER CRIANÇA...

Crescer é ruim.
Tem responsabilidades...
Por que nos enganaram?
Disseram-me que adulto tem liberdade
Para fazer o que quer
Mentira, adulto é preso
Preso ao trabalho, à rotina, à alguém
Queria poder passar a tarde brincando
Assistir pela décima vez o filme da sessão da tarde
Ir dormir cedo e acordar com o beijo da mãe no rosto
E ainda ter que escutá-la gritando
Mandando ir tomar banho para fazer a tarefa de casa
Queria ver meu pai na reunião da escola
Atravessar a rua segurando bem firme em sua mão.
Ir à praia no domingo à tarde
E comer chocolate raspando a panela
Esperar meus pais no portão de casa
E contar como foi meu dia...
Ah, se alguém souber uma fórmula
Para fazer o tempo voltar
Por favor me comunique
Estarei trabalhando...

sábado, 2 de agosto de 2008

UM POUCO DE MIM...

"Há quem diga que a minha beleza interior
extrapola a falta de visão de um cego.
Para me ver bem,
é necessário quebrar as lentes dos óculos
e invadir-me com a grandiosidade dos sentidos,
provocar em mim emoções, porque eu ajo por impulso.
Na minha intimidade,
deixo que as lágrimas me escorreguem pelo rosto com facilidade.
Sou sensível mas escondo, pois só assim me protejo com a cruel,
dura e fria atitude daquilo que me ataca, perturba ou domina.
Aparentemente não gosto de ser dominado,
se bem que entre em contradição,
pois anseio que alguém me domine.
Não gosto do que é fácil e se obtenho na totalidade, descarto.
Admiro quem tem o condão de me fazer soltar gargalhadas.
Admiro quem tem sentido de humor,
porque rir é sempre o melhor remédio.
Sou infantilmente sonhador, acho graça à malícia,
ao picante da vida, e vejo terceiras intenções em muita coisa.
Conviver é um dos meus lemas..."
(Autor Desconhecido)

quinta-feira, 17 de julho de 2008

OFEREÇO UM SORRISO...

"Ofereço um sorriso...
A quem me dedicou um carinho,
A quem me deu um afago, um sentido
A quem me fez bem.
Àqueles que estiveram comigo quando eu chorava...
Que participaram da minha vida.
Aos nobres do sentir, aos ricos do viver
Aos generosos imperadores do amor...
Aqueles que simplesmente foram meus amigos,
Àqueles que romperam o silêncio com uma linda música,
Que cantaram comigo, que me olharam e me sentiram.
Àqueles que realmente marcaram a minha vida...
À esses... ofereço o meu sorriso."

NÃO POSSO...

"Não posso ser o que não vive em mim,
Nem posso dar o que não possuo
Minha alma é pura, livre de malícias,
Meu corpo é humano e frágil.
Minhas palavras são cânticos,
Meus gestos são carinhos,
Meu olhar um ninho
Que te acolhe e agasalha!
Não podes ser o que não vive em ti
Então renasça para a verdade
Destrói seu ego inflado
Reduz suas ironias
Se transforme,
Para dar de graça,
O que de graça recebeste um dia..."
(Autor Desconhecido)

quarta-feira, 16 de julho de 2008

JOGO DE ESPELHOS

Não quero ser original.
Duvido mesmo que fosse possível se o tentasse.
Contento-me em surripiar as ideias alheias.
Encosto-me naquele ponto intermédio,
pilar do ponto de tédio,
que vai de mim para o Outro.
E vou sendo levado para conversas,
locais e outras travessias do deserto.
Sinto-me invadido pelo torpor da passividade...
(Mário de Sá Carneiro)

DENTRO E FORA DE MIM...

Dentro de mim há dois homens:
Um que vive, um que morre...
Um que nada é, um que tudo pode.
Dentro de mim há duas almas:
Uma falastrona,
Outra que se cala...
E a que dentro de mim nunca fala.
Fora de mim há o teu amor
Que dos meus olhos, sendo árdua dor,
Devora-me.
Fora de mim há um soluço triste
E mesmo que um arrependimento exista,
Não há o que crido em mim habite
E não me faça mais triste
Do que tristemente vivo.
(Paulino Vergetti Neto )

domingo, 6 de julho de 2008

TIMIDEZ

"Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...


- mas só esse eu não farei.

Uma palavra calda
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

- e um dia me acabarei."

(Cecília Meireles)

DESPEDIDA

"Fixamos num olhar o engano mútuo.
Trocamos umas palavras
por necessidade de esclarecimento.
Separamo-nos nessa noite, tão frios...
Na proximidade inventamos uma distância
Decidimos pelo melhor, um beijo no rosto
traçando uma linha de amizade
insuficiente para o estado em que acabamos
com vontade dos lábios um do outro..."
(João Bentes)

quinta-feira, 3 de julho de 2008

OS DOIS MUNDOS

"Vivemos em dois mundos
Com um portal a separá-los
Não se entra nos dois como um
O sentido é pouco ou nenhum
Será possível amá-los?
Ambos têm fundos
E ambos são moribundos
Pessoas iguais
Mas são todas diferentes
São duas selvas separadas
Várias almas penadas
São as nossas mentes
As palavras são banais
Mas são dois mundos reais
Mas nada se pode fazer
São dois mundos juntos
São duas espécies fracas
Com as costas cheias de facas
Com golpes profundos
Sem força para viver
E sem algo para renascer..."

EU TE AMO NÃO DIZ TUDO!

O cara diz que te ama, então tá! Ele te ama.
Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.
Você sabe que é amado porque lhe disseram isso,
as três palavrinhas mágicas.
Mas ouvir que é amado é uma coisa,
sentir-se amado é outra, uma diferença de quilômetros.
A demonstração de amor requer mais do que beijos,
sexo e palavras,precisa de lealdade, sinceridade, fidelidade...
Sentir-se amado,
é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida,
que zela pela sua felicidade,
que se preocupa quando as coisas não estão dando certo,
que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas
e que dá uma sacudida em você quando for preciso...
Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas
que você contou há dois anos atrás;
é vê-la tentar reconciliar você com seu pai,
é ver como ela fica triste quando você está triste
e como sorri com delicadeza quando diz
que você está fazendo uma tempestade em copo d'água.
Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro
e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão....
Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente inteiro.
Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada,
aquele que sabe que tudo pode ser dito e compreendido.
Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é,
sem inventar um personagem para a relação,
pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.
Sente-se amado quem não ofega, mas suspira;
quem não levanta a voz, mas fala;
quem não concorda, mas escuta.
Agora, sente-se e escute:
Eu te amo não diz tudo!"
(Arnaldo Jabor )

EU SEI, MAS NÃO DEVIA...

Eu sei que a gente se acostuma.
Mas não devia.
A gente se acostuma a acordar de manhã
sobressaltado porque está na hora.
A tomar o café correndo porque está atrasado.
A ler o jornal no ônibus para não perder o tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá para almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma
a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro,
para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma à poluição.
Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber,
afasta uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se a praia está contaminada,
a gente molha só os pés e sua no resto do corpo.
Se o cinema está cheio,
a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se o trabalho está duro a gente pensa no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer,
a gente dorme cedo e fica satisfeito porque tira o atrasado.
A gente se acostuma
para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
A gente se acostuma
para evitar feridas, sangramentos, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar,
e se perde de si mesma..."
(Marina Colassanti)

PEDAÇOS DE MIM

Eu sou feito de sonhos interrompidos
Detalhes despercebidos
Amores mal resolvidos...
Sou feito de choros sem ter razão
Pessoas no coração
Atos por impulsão...
Sinto falta de lugares que não conheci
Experiências que não vivi
Momentos que já esqueci...
Eu sou amor e carinho constante
Distraída até o bastante
Não paro por instante...
Já tive noites mal dormidas
Perdi pessoas muito queridas
Cumpri coisas não-prometidas...
Muitas vezes eu desisti sem mesmo tentar
Pensei em fugir, para não enfrentar
Sorri para não chorar...
Eu sinto pelas coisas que não mudei
Amizades que não cultivei
Aqueles que eu julguei
Coisas que eu falei...
Tenho saudade de pessoas que fui conhecendo
Lembranças que fui esquecendo
Amigos que acabei perdendo...
Mas continuo vivendo
e aprendendo...
(Martha Medeiros)

sábado, 21 de junho de 2008

O MEDO DO AMOR

"O amor, tão nobre, tão denso, tão intenso, acaba.
Rasga a gente por dentro,
faz um corte profundo que vai do peito até a virilha,
o amor se encerra bruscamente
porque de repente uma terceira pessoa surgiu
ou simplesmente porque não há mais interesse ou atração, sei lá,
vá saber o que interrompe um sentimento, é mistério indecifrável.
Mas o amor termina, mal-agradecido,
termina, e termina só de um lado,
nunca se encerra em dois corações ao mesmo tempo,
desacelera um antes do outro, e vai um pouco de dor pra cada canto.
Dói em quem tomou a iniciativa de romper,
porque romper não é fácil, quebrar rotinas é sempre traumático.
Além do amor existe a amizade que permanece
e a presença com que se acostuma,
romper um amor não é bobagem, é fato de grande responsabilidade,
é uma ferida que se abre no corpo do outro, no afeto do outro,
e em si próprio, ainda que com menos gravidade.
E ter o amor rejeitado, nem se fala, é fratura exposta,
definhamos em público, encolhemos a alma,
quase desejamos uma violência qualquer vinda da rua
para esquecermos dessa violência vinda do tempo gasto e vivido,
esse assalto em que nos roubaram tudo,
o amor e o que vem com ele, confiança e estabilidade.
Sem o amor, nada resta, a crença se desfaz,
o romantismo perde o sentido,
músicas idiotas nos fazem chorar dentro do carro.
Passa a dor do amor, vem a trégua, o coração limpo de novo,
os olhos novamente secos, a boca vazia.
Nada de bom está acontecendo, mas também nada de ruim.
Um novo amor? Nem pensar. Medo, respondemos.
Que corajosos somos nós, que apesar de um medo tão justificado,
amamos outra vez e todas as vezes que o amor nos chama,
fingindo um pouco de resistência
mas sabendo que para sempre é impossível recusá-lo..."
(Marhta Medeiros)

SUMI...

“Sumi porque só faço besteira em sua presença,
fico mudo quando deveria verbalizar,
digo um absurdo atrás do outro quando melhor seria silenciar,
faço brincadeiras de mau gosto e sofro antes,
durante e depois de te encontrar.
Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de lidar,
pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar.
Sumi porque não há o que se possa resgatar,
meu sumiço é covarde mas atento, meio fajuto, meio autêntico.
Sumi porque sumir é um jogo de paciência,
ausentar-se é risco e sapiência, pareço desinteressado,
mas sumi para estar para sempre do seu lado,
a saudade fará mais por nós dois que nosso amor
e sua desajeitada e irrefletida permanência.”
(Martha Medeiros)

HOJE EU QUERO AGRADECER...

"Hoje eu quero agradecer a todas as pessoas
que passaram pela minha vida até agora.
Quero agradecer aquelas que me deram amor,
que sorriram pra mim quando eu precisava;
que afagaram meus cabelos enquanto eu chorava;
que me indicaram os caminhos;
que seguraram minha mão e disseram:
"- vai em frente" quando eu dizia "não consigo".
Agradecer aqueles que duvidaram de mim,
que disseram que eu não era capaz e que deveria desistir;
afinal foi por causa dessas pessoas que eu venci meus limites,
que desafiei os acontecimentos e circunstancias.
Foram essas pessoas que me impulsionaram a ser quem sou.
Agradecer a todos os sonhadores,
que mesmo falhando me convenceram que valia a pena tentar.
Aos que me deram atenção e aos que me negaram também,
isso facilitou distinguir o os amigos dos conhecidos.
Agradecer aqueles que me repreenderam severamente,
que me podaram o sentimento, que me traíram,
que me trocaram por outras pessoas, que me fizeram chorar,
que me magoaram que me tiraram o chão,
que me desfiguraram os sonhos, pois com essas pessoas
conheci a face da dor e da desilusão
e pude aprender tudo o que não se deve fazer para alguém.
Mas... Acima de tudo, quero agradecer aquelas pessoas amargas,
corruptas, egoístas, traiçoeiras, invejosas, torturadoras,
manipuladoras, sem caráter, que cruzaram o meu caminho,
pois com essas pessoas eu aprendi
a lição mais importante da minha vida:
O tipo de pessoa que eu não quero ser...".
(Maria Rita Avelar)

CARTA

"Nunca estive tão sozinho
nos caminhos da tristeza
nos campos de outra nobreza
nos lagos de tanto vinho.
Nunca estive tão sofrido
nos trilhos da solidão
nas carreiras da paixão
nas dentadas desse pão.
Nunca estive tão cansado
nas calmarias de um bar
nas paradas de um olhar
nas tatuagens de um fado.
Nunca estive tão assim
tanta rama e tanta gana
tão maduro e tão sem cama
tão seguro e tão sem fim...
(Ruy Guerra)

MEU HOMEM

"Meu homem é o meu pão dormido
Inteiro, calçado
Restos jogados na cama
Sonho torto agoniado.
Meu homem é meu sala e quarto
Conjugado na tristeza
É o aluguel adiado
É má fama, cama e mesa
Meu homem traz os seus olhos vazios, vazados
Traz o seu corpo sumido, surrado
De janelas e viagens, de mares, mágoas e bares
Traz as paisagens sofridas, batidas de vento
Sol rubro, meu homem.
Meu homem é roupa suja
Que eu olho rindo, demente
Lavando a limpo o passado
Passando a ferro o presente.
Meu homem nos seus trancos e barrancos
Nos gostos tortos e mancos
Faz coisas do Deus dará, meu homem
Traz no corpo um cheiro de mulher
E uma cicatriz mordida no peito.
E pra mim que tanto o amei
E que ainda o sei de cor
De ponta a ponta, palmo a palmo
Esta blasfemia, meu homem.
Sempre indeciso,
Traz um sorriso amarelo,
Um coração de farelo.
Meu homem é meu entulho
Meu zelador descuidado
É meu feijão de gorgulho
Meu desejo enguiçado.
Meu homem não vale nada eu sei
Mas foi tudo o que encontrei..."
(Ruy Guerra)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

LAMBUZE-SE!

"Não coma a vida com garfo e faca.
Lambuze-se !
Muita gente guarda a vida para o futuro.
Mesmo que a vida esteja na geladeira,
se você não a viver, ela se deteriorará.
É por isso que tantas pessoas
se sentem emboloradas na meia-idade.
Elas guardam a vida,
não se entregam ao amor,
ao trabalho, não ousam,
não vão em frente.
Não deixe sua vida ficar muito séria,
saboreie tudo o que conseguir:
as derrotas e as vitórias,
a força do amanhecer e a poesia do anoitecer.
Com o tempo, você vai percebendo
que para ser feliz você precisa aprender
a gostar de si, a cuidar de si e, principalmente,
a gostar de quem também gosta de você..."
(Mário Quintana)

DO JEITO QUE TE GOSTO...

Gosto do jeito que te gosto
dessa invasão de pensamentos
de querer e como quero...
a todo momento
Gosto do jeito que te sinto
me acariciando a pele feito labirinto...
Gosto do que sinto, quando te vejo
coração que bate acelerado
vontade de sentir o gosto do teu beijo
Gosto deste jogo marcado
em que uma palavra, um olhar
te faz mais apaixonado
Gosto deste mistério no arde cada gesto, cada passo
entre um e outro, poder desvendar...
Gosto do teu jeito me seduzindo
do jeito que me chega sorrindo
e essa paixão surgindo
Gosto do jeito que te gosto
do jeito amante,
do jeito presente
do jeito que quero
do jeito que espero
um amor diferente....

MEDO DE ALTURA...

"Eu tenho medo de altura.
Tenho medo de cair para dentro de você.
Há nos seus olhos castanhos certos desenhos
que me lembram montanhas,
cordilheiras vistas do alto, em miniatura.
Então, eu desvio os meus olhos
para amarrá-los em qualquer pedra no chão
e me salvar do amor.
Mas, hoje, não encontraram pedra.
Encontraram flor.
E eu me agarrei às pétalas o mais que pude,
sem sequer perceber
que estava plantada num desses abismos,
dentro dos seus olhos."
(Rita Apoena)

sexta-feira, 6 de junho de 2008

ESTENDO-TE A MÃO

"Estendo-te a minha mão...
Só não repares se te parecer áspera,
que assim é de burilar melancolias.
Se quiseres, ofereço-te também carinho...
Costuma aliviar incuráveis feridas
e certas convulsões de desafecto.
Faço também secarem as lágrimas do coração
com longas brisas sorridentes de amizade...
Se te aquietas, posso mudar os teus pesadelos
docemente com as cores dos meus sonhos,
e adornar teu repouso com flores as mais perfumadas.
Só não me peças que te fale,
que não pronuncio sim, não nem talvez...
Deixa-me apenas envolver-te em meu silêncio,
e procurarmos juntos a resposta que nos falta..."
(José Carlos -Poeta Londrino)

DESCUBRA TESOUROS

"Navegue, descubra tesouros,
mas não os tire do fundo do mar, o lugar deles é lá,
Admire a lua, sonhe com ela, mas não queira trazê-la para a terra.
Curta o sol, se deixe acariciar por ele,
mas lembre-se que o seu calor é para todos.
Sonhe com as estrelas, apenas sonhe, elas só podem brilhar no céu.
Não tente deter o vento, ele precisa correr por toda parte,
ele tem pressa de chegar, sabe-se lá onde...
Não apare a chuva,
ela quer cair e molhar muitos rostos, não pode molhar só o seu.
As lágrimas? Não as seque,
elas precisam correr na minha, na sua, em todas as faces.
O sorriso!
Esse vc deve segurar, não deixe-o ir embora, agarre-o!
Quem você ama?
Guarde dentro de um porta jóias, tranque, perca a chave!
Quem vc ama é a maior jóia que você possui, a mais valiosa!
Não importa se a estação do ano muda,
se o século vira conserve a vontade de viver,
não se chega à parte alguma sem ela.
Abra todas as janelas que encontrar e as portas também.
Persiga um sonho, mas não deixe ele viver sozinho.
Alimente sua alma com amor, cure suas feridas com carinho.
Descubra-se todos os dias,
deixe-se levar pelas vontades, mas não enlouqueça por elas.
Procure, sempre procure o fim de uma história, seja ela qual for.
Dê um sorriso para quem esqueceu como se faz isso.
Olhe para o lado, alguém precisa de você.
Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca.
Mergulhe de cabeça nos seus desejos e satisfaça-os.
Agonize de dor por um amigo,
só saia dessa agonia se conseguir tirá-lo também.
Procure os seus caminhos,
mas não magoe ninguém nessa procura.
Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!
Não se acostume com o que não o faz feliz,
revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças,
mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a!
Se perder um amor, não se perca!
Se achá-lo, segure-o!
Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala.
O mais é nada!"
(Fernando Pessoa)

UM SOL DIFERENTE

"Que apesar de todas as dificuldades,
apesar de algumas tristezas que insistem,
que mesmo com essa montanha erguida,
o sol possa ser seu presente mais doce.
Desejo ao seu coração o querer que ele quer.
Que nas palavras que ele sussurra dentro do seu peito,
sejam ouvidas aquelas que têm sabor de liberdade.
Que você esteja atendo para o sopro da sua vontade real,
e jamais desista dos seus passos em direção à verdade.
Desejo que sua percepção acorde mais plena
no calor de um sol novo e renovador.
Que ele lhe encoraje às atitudes
que estão querendo respirar.
Aquelas que sempre são substituídas,
Aquelas que não se arrojam
por ter os pesos de conceitos por demais antigos.
Desejo que você aceite seu tempo, seja ele qual for.
Que sinta serenidade na espera necessária
para que a semente plantada brote no tempo certo.
Desejo então que sua flor seja inteira,
e mesmo que inicialmente pequena e frágil,
ela lhe traga as luzes de uma estrada azul.
Que sua sabedoria esteja desperta
aguardando com tranqüilidade o desabrochar da sua flor.
Em paz, em cadência ritmada
com o aprendizado que vem chegando.
Em mais suaves permissões a você.
Em muito mais reconhecimento da sua coragem.
Desejo a você um sol diferente.
Espalhando seu sorriso pela densidade das nuvens,
simplificando o aspecto complicado de alguns momentos
e mostrando-lhe a fonte essencial para sua sede.
Desejo que a cada instante você desnude mais seu coração
e deixe que nele vibre em tom maior: o amor.
O amor na sua expressão mais simples.
Que não mede, não faz contas
e que tem o poder de lhe erguer
acima de todas as montanhas escuras..."
(Autor Desconhecido)

AO OUVIR SEU CORAÇÃO

"Ao ouvir seu coração,
preste atenção ao recado,
pode ser que você tenha deixado de lado,
atitudes que valorizam a sua própria vida,
empurrando o destino para outras mãos,
abrindo caminho para o sofrer.
O coração responde de maneira discreta,
diferente da razão que grita e ordena,
o coração permite nossas viagens,
a construção de sonhos e até de castelos na areia,
porque sabe que muitos precisam dessa chama dos sonhos,
mesmo que as ondas venham derrubar o castelo,
ainda assim, resta a imagem do que é a felicidade.
Todos que experimentam, mesmo que por apenas um dia,
o amor e a conquista de um sonho, jamais esquecem,
é como doce que comemos na infância,
é suave lembrança,
é meta que vira objetivo,
é caminho que forma o destino.
Por isso, ao ouvir seu coração, preste atenção,
ele pode querer dizer:
ame com paixão,viva com intensidade, respeite-se sempre,
mas nunca, nunca deixe de sonhar e acreditar,
que hoje ainda, é sempre cedo para recomeçar,
e ser feliz..."
(Paulo Roberto Gaefkeo)

ORAÇÃO DOS CELTAS

"Que jamais, em tempo algum, o teu coração acalante ódio.
Que o canto da maturidade jamais asfixie a tua criança interior.
Que o teu sorriso seja sempre verdadeiro.
Que as perdas do teu caminho sejam sempre encaradas como lições devida.
Que a música seja tua companheira de momentos secretos contigo mesmo.
Que os teus momentos de amor contenham a magia de tua alma eterna em cada beijo.
Que os teus olhos sejam dois sóis olhando a luz da vida em cada amanhecer.
Que cada dia seja um novo recomeço, onde tua alma dance na luz.
Que em cada passo teu fiquem marcas luminosas de tua passagem em cada coração.
Que em cada amigo o teu coração faça festa,
que celebre o canto da amizade profunda que liga as almas afins.
Que em teus momentos de solidão e cansaço,
esteja sempre presente em teu coração
a lembrança de que tudo passa e se transforma,
quando a alma é grande e generosa.
Que o teu coração voe contente nas asas da espiritualidade consciente,
para que tu percebas a ternura invisível, tocando o centro do teu ser eterno.
Que um suave acalanto te acompanhe, na terra ou no espaço,
e por onde quer que o imanente invisível leve o teu viver.
Que o teu coração sinta a presença secreta do inefável!
Que os teus pensamentos e os teus amores,
o teu viver e a tua passagem pela vida,
sejam sempre abençoados por aquele amor que ama sem nome.
Aquele amor que não se explica, só se sente.
Que esse amor seja o teu acalanto secreto,
viajando eternamente no centro do teu ser.
Que este amor transforme os teus dramas em luz, a tua tristeza em celebração,
e os teus passos cansados em alegres passos de dança renovadora.
Que jamais, em tempo algum,
tu esqueças da presença que está em ti e em todos os seres.
Que o teu viver seja pleno de Paz e Luz!"
(Autor Desconhecido)

SE EU MORRER ANTES DE VOCÊ...

"Se eu morrer antes de você,
faça-me um favor: Chore o quanto quiser,
mas não brigue com Deus por ele haver me levado.
Se não quiser chorar, não chore.
Se não conseguir chorar, não se preocupe.
Se tiver vontade de rir, ria.
Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito,
ouça e acrescente sua versão.
Se me elogiarem demais, corrija o exagero.
Se me criticarem demais, defenda-me.
Se me quiserem fazer um santo, só porque morri,
mostre que eu tinha um pouco de santo,
mas estava longe de ser o santo que me pintam.
Se me quiserem fazer um demônio,
mostre que eu talvez tivesse um pouco de demônio,
mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo.
Espero poder estar sendo útil a você, lá onde estiver.
E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim,
diga apenas uma frase:
- "Foi meu amigo, acreditou em mim e sempre me amou" -
Aí, então, derrame uma lágrima.
Eu não estarei presente para enxugá-la, mas não faz mal.
Outros amigos farão isso no meu lugar.
E, vendo-me bem substituído, ficarei em paz onde estiver...
E, quando chegar a sua vez de ir ao meu encontro,
aí, sem nenhum véu a separar a gente,
vamos viver a amizade que aqui nos foi preparada...
Então ore para que nós vivamos
como quem sabe que vai morrer um dia,
e que morramos como quem soube viver direito.
Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente,
e se inaugura aqui mesmo o seu começo.
Mas, se eu morrer antes de você,
acho que não vou estranhar o céu...
"Ser seu amigo já é um pedaço dele..."
(Francisco Cândido Xavier )

sábado, 31 de maio de 2008

IMAGINE...

"Imagine não haver o paraiso
É fácil se você tentar
Nem inferno abaixo de nós
Acima de nós, só o céu
Imagine todas as pessoas
Viver por hoje
Imagine que não há nenhum país
Não é difícil imaginar
Nenhum motivo para matar ou morrer
E nem religião, também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz
Você pode dizer que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Espero que um dia você junte-se a nós
E o mundo viverá como um só
Imagine que não ha posses
Eu me pergunto se você pode
Sem a necessidade de ganância ou fome
Uma irmandade dos homens
Imagine todas as pessoas
Partilhando todo o mundo
Você pode dizer que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Espero que um dia você junte-se a nós
E o mundo será como um só..."
(John Lennon)

segunda-feira, 26 de maio de 2008

O CICLO DA VIDA

"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina.
Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente.
Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso.
Daí viver num asilo,
até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo.
Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar.
Então você trabalha 40 anos até ficar novo
o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria.
Aí você curte tudo,
bebe bastante álcool, faz festas e se prepara pra faculdade.
Você vai pro colégio, tem várias namoradas, vira criança,
não tem nenhuma responsabilidade,
se torna um bebezinho de colo,
volta pro útero da mãe,
passa seus últimos nove meses de vida flutuando...
E termina tudo com um ótimo orgasmo!
Não seria perfeito?"
(Charles Chaplin)

QUERO... NÃO QUERO...

"eu quero o excesso
eu não quero o imenso
vivo do intenso que me circunda
eu não quero máscara,
a cara oculta
só quero aquilo que me desnuda.
Não quero o cativo
eu não quero o exclusivo
ou livro de auto-ajuda
quero o coletivo, a massa,
o show na praça
o concerto com entrada gratuita.
tudo é mais barato,
esse mundo é farto
o demasiado é que dificulta.
eu não quero pouco:
só quero tudo,
pelo tempo todo,
pra todo mundo..."
(Celso Viáfora)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

ORAÇÃO DE UM PESCADOR...

"Que não se desliguem de mim, os sonhos.
Nem a liberdade.
Que não se desfaça em mim a vontade,
De seguir em frente, de findar viagem,
Que mais que finda é início,
De novo sonho, De infindas vias, de estradas mil.
Onde a realidade se mistura com a miragem...
Que não me deixem órfãos, os ideais.
De liberdade.
Que não se esmaeça em mim a saudade,
De abraçar o ontem, de me fazer aragem,
Que mais que brisa é vento,
De novo barco,
De novas velas, de mares meus
De mergulhos mil, de descobertas infindas,
Onde as águas se misturem com a viagem.
Que não se despeça de mim, o mar.
Nem o amar.
Nem o amor à liberdade.
Pois se isso acontecer,
Não mais serei o mar,
A brisa,
O sonho,
Ou a Liberdade...
Serei espuma do nada.
E em nada me tornarei..."
(Autor Desconhecido)

EU ACHO...

"Eu acho bonito gente que usa cinto de segurança,
gente que desliga o celular no cinema,
gente que respeita o espaço alheio.
Acho sexy mulher que ganha seu próprio dinheiro,
admiro homem que trabalha duro,
que estaciona o carro, mesmo longe, pra pegar os filhos na escola.
Tenho quase tesão por gente que cobra nota fiscal na loja,
por gente que pede desculpas no trânsito,
por gente que dá bom dia pro porteiro.
Chego a esboçar leves sorrisos
quando vejo alguém ajudando os outros,
devolvendo o que não é seu, tratando chefes sem bajulação,
apagando o cigarro na presença de crianças.
Minha rejeição não é ao pecado, mas ao pecador.
Não sou Deus, tenho a liberdade de ser e fazer o contrário dele.
Ele ama o pecador, não o pecado.
Eu sou o inverso. Aceito o pecado, mas detesto o pecador.
Detesto quem rouba, quem xinga, quem falta com o respeito.
Acho brega gente que mente,
acho cafona e subdesenvolvida gente que puxa saco,
gente que desvia dinheiro público,
gente que recebe sem trabalhar,
gente que maltrata bichos,
gente que emprega parente,
gente que anda pelo acostamento
e gente que fura fila.
Pra mim, falar alto ao telefone num restaurante
é tão deseducado quanto arrotar em frente à rainha.
Pra mim, receber troco a mais e não dizer nada
é o mesmo que soltar um sonoro flato num elevador lotado.
Pra mim, estacionar em vaga de deficiente no shopping
é o mesmo que limpar meleca debaixo da mesa do escritório:
espírito de porco.
Sim, porque no fim meus princípios
agem mais como receptores do que como transmissores.
Sinto atração por gente simpática,
por gente honesta,
por gente elegante.
Por isso e por um punhado de outras coisas
tenho poucos e valiosos amigos,
gente que tem endereço fixo,
conta bancária modesta,
ficha limpa na polícia,
crédito livre na taberna.
Não há nada mais atraente do que gente humilde,
gente honesta, gente trabalhadora,
gente educada, gente asseada,
gente elegante, gente bacana.
Que me perdoem os mentirosos e os espíritos de porco.
Honestidade é fundamental..."
(Autor Desconhecido)

segunda-feira, 19 de maio de 2008

O HAVER

"Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
essa intimidade perfeita com o silêncio.
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo.
Perdoai: eles não têm culpa de ter nascido.
Resta esse antigo respeito pela noite
esse falar baixo
essa mão que tateia antes de teres
se medo de ferir tocando
essa forte mão de homem
cheia de mansidão para com tudo que existe.
Resta essa imobilidade
essa economia de gestos
essa inércia cada vez maior diante do infinito
essa gagueira infantil
de quem quer balbuciar o inexprimível
essa irredutível recusa à poesia não vivida.
Resta essa comunhão com os sons
esse sentimento da matéria em repouso
essa angústia da simultaneidade do tempo
essa lenta decomposição poética
em busca de uma só verdade uma só morte
um só Vinícius.
Resta esse coração queimando
como um círio numa catedral em ruínas
essa tristeza diante do cotidiano
ou essa súbita alegria ao ouvir na madrugada
passos que se perdem sem memória.
Resta essa vontade de chorar diante da beleza
essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido
essa imensa piedade de si mesmo
essa imensa piedade de sua inútil poesia
de sua força inútil.
Resta esse sentimento da infância
subitamente desentranhado de pequenos absurdos
essa tola capacidade de rir à toa
esse ridículo desejo de ser útil
e essa coragem de comprometer-se sem necessidade.
Resta essa distração, essa disponibilidade,
essa vagueza de quem sabe que tudo já foi,
como será e virá a ser.
E ao mesmo tempo esse desejo de servir
essa contemporaneidade com o amanhã
dos que não tem ontem nem hoje.
Resta essa faculdade incoercível de sonhar,
de transfigurar a realidade
dentro dessa incapacidade de aceitá-la tal como é
e essa visão ampla dos acontecimentos
e essa impressionante e desnecessária presciência
e essa memória anterior de mundos inexistentes
e esse heroísmo estático
e essa pequenina luz indecifrável
a que às vezes os poetas tomam por esperança.
Resta essa obstinação em não fugir do labirinto
na busca desesperada de alguma porta
quem sabe inexistente
e essa coragem indizível diante do grande medo
e ao mesmo tempo esse terrível medo de renascer
dentro da treva.
Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
de refletir-se em olhares sem curiosidade, sem história.
Resta essa pobreza intrínseca, esse orgulho,
essa vaidade de não querer ser príncipe senão do seu reino.
Resta essa fidelidade à mulher e ao seu tormento
esse abandono sem remissão à sua voragem insaciável.
Resta esse eterno morrer na cruz de seus braços
e esse eterno ressuscitar para ser recrucificado.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte
esse fascínio pelo momento a vir, quando, emocionada,
ela virá me abrir a porta como uma velha amante
sem saber que é a minha mais nova namorada..."
(Vinícius de Mores)

domingo, 18 de maio de 2008

NÃO SOU O QUE PAREÇO

"Não sou o que pareço.
O que pareço é apenas uma vestimenta que uso
e eu uso uma vestimenta cuidadosamente tecida,
que me protege de tuas perguntas
e me protege de minha negligência.
O "Eu" em mim mora na casa do silêncio,
e lá dentro permanecerá...
Não quereria que acreditasses no que digo
nem confiasses no que faço,
pois minhas palavras
são teus próprios pensamentos em articulação;
e meus feitos,
tuas próprias esperanças em ação.
Quando dizes: "O vento sopra do leste",
eu digo: "Sim, sopra mesmo do leste",
pois não quereria que soubesses
que minha mente não mora no vento,
mora no mar..."
(Gribran Khalil Gribran)

sexta-feira, 16 de maio de 2008

AMIGA IRINÉA...

"Ao falar de vc...
A emoção me rouba as palavras
mas não consegue calar meu sentimento...
Portanto...
Que o encanto de nossas vidas entrelaçadas
nos direcione para o caminho da alegria,
percorrendo os atalhos da simplicidade
e buscando sempre encontrar a sinceridade
da beleza do sorriso que trocamos...
Que nossas vidas se encontrem numa luz
feita de afeto e verdade..."
(Luís Andrarreis)

QUANDO O SONHO ACABA

"Quando o sonho acaba,
Fica um imenso vazio,
Uma vontade de parar,
De desistir de tudo...
É um período difícil,
Em que os dias, as horas
e até os segundos são longos...
Não conseguimos prosseguir...
Até que um dia,
Um novo sonho começa
A dar o ar de sua graça,
Chega de mansinho,
Tentanto abrir suavemente
O cadeado de nosso coração...
E como todo novo sonho,
É regado de novidades
Cheio de fascinação,
Revirando os sentimentos,
Despertando emoções adormecidas,
Trazendo de volta a alegria
A a emoção de viver,
O despertar da euforia
e beleza de recomeçar..."
(Autor Desconhecido)

NÃO ME ANALISE...

"Não me analise,
Não fique procurando ponto fraco em mim.
Não busque encontrar firmeza em meu olhar,
Nem desespero em minhas atitudes...
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu...
Ciumento, exigente, inseguro, carente...
Com a alma sangrando de desesperança,
Com um sorriso amargurado na face,
Trazendo no rosto um olhar perdido,
Todo cheio de marcas que a vida deixou.
Vejo em cada grito de exigência,
Em cada gesto de insegurança,
Um pedido de carência,
Um pedido de amor...
Por favor,
Não me analise..."
(Mirthes Mathias)

quinta-feira, 15 de maio de 2008

QUEM É VOCÊ?

"Quem é você?
Que mexeu com meus sentimentos,
Reacendeu a chama esvaecida,
Iluminou a escuridão dos meus dias!
Quem é você?
Que na sombra dos meus pensamentos se esconde,
Que tornou os sonhos possíveis,
Mas quando o chamo não responde!
Quem é você?
Que acelerou meu coração,
Tirou-me a razão,
Encheu-me de esperança,
Mas furta-me sua presença!
Quem é você?
Tecelão de sentimentos que emaranhados
Teceu com fios dourados entrelaçados,
Enredando-me a alma!
Quem é você?
Que surgiu do nada como um espectro
E de mansinho meu corpo tomou.
Mesclou seu prazer com minha solidão,
Fortalecendo-me a alma combalida!
Quem é você?
Que os meandros de minha feminilidade explorou,
Que versos poéticos à luz da Lua cantou
E uma saudade dolorida deixou!
Quem é você?
Homem inacessível,
Aos meus olhos invisível,
Mas presente em minha pele!
Quem é você?"
(Autor Desconhecido)

QUEM SOU EU...

"Sou como sou,
pronome pessoal intransferível
do homem que iniciei na medida do impossível.
Agora, sem grandes segredos dantes,
sem novos secretos dentes.
Nesta hora, eu sou como eu sou,
presente, desferrolhado, indecente,
feito um pedaço de mim..."
(Autor Desconhecido)

quarta-feira, 14 de maio de 2008

VELHOS TEMPOS...

"Fui criado com princípios morais comuns:
Quando eu era pequeno, mães, pais, professores, avós, tios,
vizinhos eram autoridades dignas de respeito e consideração.
Tinha medo apenas do escuro, dos sapos, dos filmes de terror...
Quero arrancar as grades da janela para poder tocar as flores!
Quero me sentar na varanda e dormir com a porta aberta!
Quero a honestidade como motivo de orgulho.
Quero a vergonha na cara e a solidariedade
Quero a retidão de caráter, a cara limpa e o olhar olho-no-olho.
Quero a esperança, a alegria, a confiança!
Abaixo o "ter", viva o "ser"!
E viva o retorno da verdadeira vida, simples como a chuva,
limpa como um céu de primavera, leve como a brisa da manhã!"
(Autor Desconhecido)

terça-feira, 13 de maio de 2008

BALÉ DE EMOÇÕES (aos amigos Dê, Caio e Markos)

"O sentimento que nos une é como um rio
que segue deslizando pelos caminhos da cumplicidade
desviando suavemente pelos afluentes do carinho
serpenteando entre os risos largos de felicidade...
Às vezes, crianças a brincar nas águas desse rio,
nos deixamos levar pela magia do gostar...
E nos tocamos, numa troca de carinhos verdadeiros
embalados pela canção sincera da amizade...
Que a vida nunca nos prive desses momentos de magia,
desse encontro de almas irmãs que se afinam
numa sinfonia de emoções que se encaixa
num balé de emoções fluem pelos nossos corações..."
(Luís Andrarreis)

domingo, 4 de maio de 2008

ESSE TRISTE OLHAR... (à um amor distante)

"Esse triste olhar
que me seduz, que me encanta,
que me puxa pra esse mar
revolto de emoções contidas...
Esse despertar de alegrias
que abre em mim uma felicidade aguardada,
ansiada, desejada e que se mostra viva...
Abre em minhas convicções
esse não sei o que de novidade...
Essa calma amorosa interrompida,
Esse caos se instalando em minha quietude...
Essa distância dolorosa que me instiga...
Esse carinho sonhado, aguardado,
desejado e que não se concretiza...
Me permitem te buscar em pensamento...
alçando em um vôo para dentro de você
e me alimentando da beleza de sua imagem
e sorvendo em suas palavras de carinho
o nectar do meu desejo contido..."
(Luís Andrarreis)

domingo, 27 de abril de 2008

NUNCA SEJA SEMPRE O MESMO...

"A vida é igual em toda parte
e o necessário é a gente ser a gente mesmo...
Não devemos tentar mudar
a essência das pessoas que convivem conosco
e nem deixar que nos mudem...
Devemos mudar os hábitos nocivos
e as atitudes que nos limitam a vida...
Devemos ser verdadeiros o tempo todo
essa é a melhor maneira colorir as situações cinzentas
e enrraizar a beleza
nos terrenos mais hortís desse mundo, dessa vida...
Esse é o segredo para conquistarmos a felicidade...
Não mude sua essência, seja sempre você mesmo,
e por mais paradoxal que isso possa parecer,
nunca seja sempre o mesmo..."
(Luís Andrarreis)

segunda-feira, 21 de abril de 2008

DESPEDIDA

"Existem duas dores de amor:
A primeira é quando a relação termina e a gente,
seguindo amando,
tem que se acostumar com a ausência do outro,
com a sensação de perda,
de rejeição e com a falta de perspectiva,
já que ainda estamos tão embrulhados na dor
que não conseguimos ver luz no fim do túnel.
A segunda dor é quando
começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel.
A mais dilacerante é a dor física
da falta de beijos e abraços,
a dor de virar desimportante para o ser amado.
Mas, quando esta dor passa,
começamos um outro ritual de despedida:
a dor de abandonar o amor que sentíamos.
A dor de esvaziar o coração,
de remover a saudade, de ficar livre,
sem sentimento especial por aquela pessoa.
Dói também…
Na verdade, ficamos apegados ao amor
tanto quanto à pessoa que o gerou.
Muitas pessoas reclamam
por não conseguir se desprender de alguém.
É que, sem se darem conta,
não querem se desprender.
Aquele amor, mesmo não retribuído,
tornou-se um souvenir,
lembrança de uma época bonita que foi vivida…
Passou a ser um bem de valor inestimável,
é uma sensação à qual a gente se apega.
Faz parte de nós.
Queremos, logicamente,
voltar a ser alegres e disponíveis,
mas para isso é preciso abrir mão de algo
que nos foi caro por muito tempo,
que de certa maneira entranhou-se na gente,
e que só com muito esforço é possível alforriar.
É uma dor mais amena, quase imperceptível.
Talvez, por isso, costuma durar mais
do que a ‘dor-de-cotovelo’propriamente dita.
É uma dor que nos confunde.
Parece ser aquela mesma dor primeira,
mas já é outra.
A pessoa que nos deixou já não nos interessa mais,
mas interessa o amor que sentíamos por ela,
aquele amor que nos justificava como seres humanos,
que nos colocava dentro das estatísticas:
-Eu amo, logo existo-.
Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo.
É o arremate de uma história que terminou,
externamente, sem nossa concordância,
mas que precisa também sair de dentro da gente…
E só então a gente poderá amar, de novo."
(Martha Medeiros)

sexta-feira, 18 de abril de 2008

TESOURO DE EMOÇÕES

"As palavras que chegam a mim
são formas ocultas de desvendar
os mistérios profundos do amor...
Inflamado pela sublime e pura inspiração
de escrever para alguém
que me ajuda a decifrar esses mistérios.
O amor para mim é como o ar que respiro...
É através do amor eu sinto
a vida pulsar dentro de mim...
Desse encontro surge
um lindo jardim de emoções...
Um jardim cheio de pétalas preciosas
formando um tesouro colorido de emoções...
Nada é mais importante na vida
do que amar e sentir emoções...."
(Luís Andrarreis)

quarta-feira, 16 de abril de 2008

MEU DESAFETO...

"Me devolva os dias cansados
de tanto te esperar
quero uma trégua
nessa guerra silenciosa
as páginas dedicadas à você
arrancadas do meu caderno
já não me fazem mais sonhar
quero de volta a magia dos meus anos
de aeroplanos
e com ele toda a curiosidade trancada no meu olhar
pular o muro do quintal
da minha mente
jogar fora as noites dementes
rasgar a tela da minha imaginação
imagem- ação
empurrar as paredes do meu peito
abrir espaço nesse coração tão apertado
para que nele caiba
um amor de verdade..."
(Ana Lucia Correa de Camargo)

terça-feira, 15 de abril de 2008

HÁ UMA CRIANÇA...

"Há uma criança no meu coração
cheia de esperança e de alegria...
o nome dela eu não sei....
Até tentei descobrir, mas eu desisti,
pois ela me traz felicidade
e isso é que importa!!
Há uma criança dentro de mim
que me enche de paz,
que me traz amor
Há uma criança no meu paladar
Que me torna mais doce
e não tenho palavras para explicar
nem mais o que dizer...
Só sei que existe uma criança em meu coração..."
(Luís Andrarreis)

O GUARDADOR DE REBANHOS (trecho)

Num meio dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia
Vi Jesus Cristo descer à terra,
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu,
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras,
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas
-Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três,
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz no braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras nos burros,
Rouba as frutas dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas,
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus,
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia,
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou
-"Se é que as criou, do que duvido" -
Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada,
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres".
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos a dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales,
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos,
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu no colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é...
Esta é a história do meu Menino Jesus,
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?
(Fernando Pessoa/Alberto Caeiro)

ULTIMATUM

"Mandado de despejo aos mandarins do mundo
Fora tu reles esnobe plebeu
E fora tu, imperialista das sucatas
Charlatão da sinceridade e tu,
Da juba socialista, e tu qualquer outro.
Ultimatum a todos eles e a todos que sejam como eles todos.
Monte de tijolos com pretensões a casa
Inútil luxo, megalomania triunfante
E tu Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
Que nem te queria descobrir.
Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular
Que confundis tudo!
Vós anarquistas deveras sinceros
Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores
Para quererem deixar de trabalhar.
Sim, todos vos que representais o mundo,
Homens altos passai por baixo do meu desprezo
Passai, aristocratas de tanga de ouro,
Passai frouxos
Passai radicais do pouco!
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para casa, descascar batatas simbólicas
Fechem-me isso a chave e deitem a chave fora.
Sufoco de ter só isso a minha volta.
Deixem-me respirar!
Abram todas as janelas
Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo.
Nenhuma idéia grande,
Nenhuma corrente política que soe a uma idéia grão!
E o mundo quer a inteligência nova
O mundo tem sede de que se crie
O que aí está a apodrecer a vida, quando muito,
É estrume para o futuro.
O que aí está não pode durar porque não é nada.
Eu, da raça dos navegadores, afirmo que não pode durar!
Eu, da raça dos descobridores,
Desprezo o que seja menos que descobrir o mundo novo.
Proclamo isso bem alto, braços erguidos,
Fitando o Atlântico e saudando abstratamente o infinito.
Poderia ter sido escrito ontem.
Pena que não foi..."
(Álvaro de Campos, 1917)

NOITE FRIA

"O frio da noite entrou em meu quarto.
tomou conta do meu corpo invadiu minha alma...
Meus pensamentos foram a até vc.
Entre pensamentos e sonhos viajei no tempo.
Perdi o sono e rolei na cama.
A escuridão da noite, me fez outra vez sonhar.
Inconsciente a mão busca o abajur próximo
O clic do lume afugenta o negrume
Meu olhar embaçado pelo véu do sono
Contempla a solidão do quarto.
O quarto triste e pálido em cela se confunde
Amarga dor no peito se enclausura
Um travesseiro solto ao lado lhe espera
Tê-la ao meu lado neste instante, quem me dera!!!
Apago a luz, outra vez a escuridão invade
Afago o travesseiro e no frio busco sonhar
Que no dia seguinte possa seu beijo me acordar!"
(Markos André)