quinta-feira, 14 de agosto de 2008

SOU UM ESTRANGEIRO...

"Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um estrangeiro, e há na vida do estrangeiro
uma solidão pesada e um isolamento doloroso.
Sou assim levado a pensar
sempre numa pátria encantada que não conheço,
e a sonhar com os sortilégios
de uma terra longínqua que nunca visitei.
Sou um estrangeiro para minha alma.
Quando minha língua fala, meu ouvido estranha-lhe a voz.
Quando meu Eu interior ri ou chora,
ou se entusiasma, ou treme,
meu outro Eu estranha o que ouve e vê,
e minha alma interroga minha alma.
Mas permaneço desconhecido e oculto,
velado pelo nevoeiro, envolto no silêncio.
Sou um estrangeiro para o meu corpo.
Todas as vezes que me olho num espelho,
vejo no meu rosto algo que minha alma não sente,
e percebo nos meus olhos
algo que minhas profundezas não reconhecem.
Sou um estrangeiro neste mundo.
Se sair à luz,
a sombra de meu corpo me segue,
e as sombras de minha alma me precedem,
levando-me aonde não sei,
oferecendo-me coisas de que não preciso,
procurando algo que não entendo.
Idéias estranhas atormentam minha mente,
e inclinações diversas,
perturbadoras, alegres, dolorosas, agradáveis.
À meia-noite, assaltam-me fantasmas de tempos idos.
E almas de nações esquecidas me fitam.
Interrogo-as, recebendo por toda resposta um sorriso.
Quando procuro segurá-las,
fogem de mim e desvanecem-se como fumaça.
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um estrangeiro e não há no mundo quem conheça
uma única palavra do idioma de minha alma...
Permanecerei um estrangeiro
até que a morte me rapte e me leve para minha pátria..."
(Kahlil Gibran)

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