terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A VIAGEM DE TREM

"Quando nascemos, ao embarcarmos nesse trem,
encontramos duas pessoas que, acreditamos,
ficarão conosco a viagem até o fim: nossos pais.
Não é verdade.
Infelizmente, em alguma estação eles desembarcam,
deixando-nos órfãos de seus carinho, proteção, amor e afeto.
Mas isso não impede que, durante a viagem,
embarquem pessoas interessantes que virão ser especiais para nós.
Embarcam nossos irmãos, amigos e amores.
Muitas pessoas tomam esse trem a passeio.
Outros fazem a viagem experimentando somente tristezas.
E no trem há, também, pessoas que passam de vagão a vagão,
prontas para ajudar a quem precisa.
Muitos descem e deixam saudades eternas.
Outros tantos viajam no trem de tal forma que,
quando desocupam seus assentos, ninguém sequer percebe.
Curioso é considerar que alguns passageiros que nos são tão caros,
acomodam-se em vagões diferentes do nosso.
Isso nos obriga a fazer essa viagem separados deles.
Mas claro que isso não nos impede de, com grande dificuldade,
atravessarmos nosso vagão e chegarmos até eles.
O difícil é aceitarmos que não podemos nos assentar ao seu lado,
pois outra pessoa estará ocupando esse lugar.
Essa viagem é assim: cheia de atropelos, sonhos,
fantasias, esperas, embarques e desembarques.
Sabemos que esse trem jamais volta.
Façamos, então, essa viagem, da melhor maneira possível,
tentando manter um bom relacionamento com todos os passageiros,
procurando em cada um deles o que tem de melhor,
lembrando sempre que, em algum momento do trajeto
poderão fraquejar, e, provavelmente, precisaremos entender isso.
Nós mesmos fraquejamos algumas vezes.
E, certamente, alguém nos entenderá.
O grande mistério, afinal,
é que não sabemos em qual parada desceremos.
E fico pensando: quando eu descer desse trem sentirei saudades?
Sim. Deixar meus filhos viajando nele sozinhos será muito triste.
Separar-me de alguns amigos que nele fiz,
do amor da minha vida, será para mim dolorido.
Mas me agarro na esperança de que, em algum momento,
estarei na estação principal,
e terei a emoção de vê-los chegar com sua bagagem,
que não tinham quando embarcaram.
E o que me deixará feliz é saber que, de alguma forma,
eu colaborei para que ela tenha crescido e se tornado valiosa.
Agora, nesse momento, o trem diminui sua velocidade
para que embarquem e desembarquem as pessoas.
Minha expectativa aumenta,
à medida que o trem vai diminuindo sua velocidade...
Quem entrará? Quem sairá?
Eu gostaria que você pensasse no desembarque do trem,
não só como a representação da morte,
mas, também, como o término de uma história
de algo que duas ou mais pessoas construíram
e que, por um motivo íntimo, deixaram desmoronar.
Fico feliz em perceber que certas pessoas como nós,
têm a capacidade de reconstruir para recomeçar.
Isso é sinal de garra e de luta, é saber viver,
é tirar o melhor de "todos os passageiros"..."
(Rubens Alves)

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