domingo, 6 de abril de 2008

DÁ-SE A CASA...

"Dá-se a casa,
mas a chave fica por dentro da gente
trancando com certa raiva as coisas que lá ficaram...
Dá-se a casa,
e a mobília gruda em nossa memória:
- E vem um sabor de lenha da carne, quando ela assava.
Dá-se a casa,
e as samambaias choronas são hoje penduricalhos
ardendo os olhos que as lembram:
(Era a casa um coração de quartos desajeitados;
mas se cantava, e as pessoas te pediam silêncio;
se choravam e as pessoas acudiam com seus lenços).
E há quem passe na casa e nomeei seu ex-dono:
uma pessoa de hábitos estranhos e movediços;
que replantava gerânios nem onde jardim havia;
que se abrigava na chuva e conversava com Deus
e vinha, morto de fome, debruçar-se na paisagem
e lambusava de nuvens seus dedos misteriosos
e lambiscava adoidado, as fagulhas de estrelas
caidas sobre o telhado da casa,
que guardo a sete chaves..."
(Hermínio Bello de Carvalho)

Nenhum comentário: