domingo, 6 de abril de 2008

SENTIMENTOS OPACOS

"Faço de um tudo pra você desgostar de mim.
Porém me lês o avesso e ao avesso, transverso e desconexo,
dispersos no turbilhão dos meus sentimentos opacos.
E retiras dos meus olhos as pupilas como um reitor obstinado
que me chupa o cristalino e a minha retina dilata
e furta meus cílios postiços
e, impudoroso, me subulga sob as botas mal engraxadas
e limpa seus dentes podres com esporão afiado.
Que mania essas pessoas têm de me trazer aflição?
E quem disse que eu tenho que lhe dar meu coração?
Sou o cachorro ganindo no escuro, a tal flor do mal, o malmequer.
Quem me encendeia meus ventos e me provoca um tufão?
Me pergunte a quantas léguas disparou meu coração?
Me faz cós de sua farda, forro do seu matulão,
ditongo de seu nasal, bão do seu bambalalão
refém do seu desanseio, da sua devassidão?
e ao depois sonso me diz: faz assim comigo não!"
(Hermínio Bello de Carvalho)

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