terça-feira, 15 de abril de 2008

FASCÍNIO

"Aonde quer que eu vá o brilho
de certos olhos verde-azulados me alcança
e exerce sobre mim o seu fascínio.
Por mais que eu tente escapar,
todas as rotas de fuga, todos os atalhos,
me conduzem ao seu encontro.
Diante de tal poder,
comparo-me a um rio largo e denso
que habilmente contorna as montanhas,
percorre caminhos tortuosos, desenha paisagens,
arrasta o que encontra à frente,
mas não resiste aos apelos do mar
e acaba sempre absorvido pela imensidão azul
que lhe rouba a identidade.
Contra o magnetismo do brilho desses olhos
tento erguer trincheiras, muros altos,
barricadas e barreiras.
Entretanto, tudo isso sucumbe ante o seu poderio.
É impossível lutar contra os arsenais de seus exércitos.
E assim, eles abrangem mais e mais espaço.
Ditam políticas, definem novos limites geográficos,
mudam as fronteiras, levantam novas bandeiras,
indiferentes às minhas vontades.
Sem forças pra reagir, entrego-me inteiro
e me divirto nos intensos momentos de festa.
No auge do calor que me provoca o brilho desses olhos,
faço planos, me transformo em imensos oceanos,
ondas gigantescas, ressacas,
e provoco o doce embalo dos navios...
Depois, do que me resta,
procuro novas rotas, atalhos, saídas.
Fujo..."
(José Maria Nunes)

Um comentário:

Anônimo disse...

Luís,
Fico lisonjeado por você ter publicado aqui um texto meu. Obrigado.
Sabe que sua opinião vale pra mim como um "atestado de qualidade" e se publicou é sinal de que gostou.
Obrigado.
Abração