terça-feira, 7 de setembro de 2010

O BEIJO QUE ME DERAM...

"O beijo que me deram trazia dentro
um pranto, um toldo verde, argúcias.
O beijo que me deram fez-se permanência,
astuta enzima por dentro da boca.
Cuspo fora o beijo que me deram.
Talvez ainda reste algum tempo de espera,
algum tempo para ficar
diante do espelho sonâmbulo.
Tenho a boca macerada
pelo beijo que me deram.
Tenho a memória massacrada também:
primeiro a mão espinhando a cintura,
depois o calor,
depois a boca dizendo-se água
e vazando sobre mim.
Depois a solidão crivada.
Sou um homem triste com um beijo entravado,
entrevedo, na mucosa..."
(Rubens da Cunha)

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