quarta-feira, 18 de novembro de 2009

COISAS DA TERRA

"Todas as coisas de que falo
estão na cidade entre o céu e a terra.
São todas elas coisas perecíveis
e eternas como o teu riso
a palavra solidária, minha mão aberta
ou este esquecido cheiro de cabelo
que volta e acende sua flama inesperada
no coração de maio.
Todas as coisas de que falo são de carne
como o verão e o salário.
Mortalmente inseridas no tempo,
estão dispersas como o ar, no mercado,
nas oficinas, nas ruas, nos hotéis de viagem.
São coisas, todas elas, cotidianas,
como bocas e mãos, sonhos, greves, denúncias,
acidentes do trabalho e do amor.
Coisas, de que falam os jornais
às vezes tão rudes, às vezes tão escuras
que mesmo a poesia as ilumina com dificuldade.
Mas é nelas que te vejo pulsando, mundo novo,
ainda em estado de soluços e esperança..."
(Ferreira Gullar)

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