segunda-feira, 16 de novembro de 2009

AS PALAVRAS

"Amo tanto as palavras.
As inesperadas…
As que avidamente a gente espera,
espreita até que de repente caem, vocábulos amados…
Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata,
são espuma, fio, metal, orvalho…
Persigo algumas palavras.
São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema.
Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as,
limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato,
sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais,
oleosas, como frutas, como algas,
como ágatas, como azeitonas.
E então as revolvo, agito-as, bebo-as,
sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as…
Deixo-as como estalactites em meu poema;
como pedacinhos de madeira polida, como carvão,
como restos de naufrágio, presentes da onda…
Tudo está na palavra.
Uma idéia inteira muda porque uma palavra
mudou de lugar ou porque outra se sentou
como uma rainha dentro de uma frase
que não a esperava e que a obedeceu…
Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos...
Que bom idioma o meu,
que boa língua herdamos dos conquistadores torvos…
Por onde passavam a terra ficava arrasada…
Mas caíam das botas dos bárbaros,
das barbas, dos elmos, das ferraduras.
Como pedrinhas, as palavras luminosas
que permaneceram aqui resplandecentes… o idioma.
Saímos perdendo…
Saímos ganhando…
Levaram o ouro e nos deixaram o ouro…
Levaram tudo e nos deixaram tudo…
Deixaram-nos as palavras."
(Pablo Neruda)

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