domingo, 1 de novembro de 2009

CARTA

"Há muito tempo, sim, que não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelheci:
Olha, em relevo, estes sinais em mim,
não das carícias(tão leves) que fazias no meu rosto:
são golpes, são espinhos,
são lembranças da vida a teu menino,
que ao sol-posto perde a sabedoria das crianças.
A falta que me fazes não é tanto à hora de dormir,
quando dizias “Deus te abençoe”,
e a noite abria em sonho.
É quando, ao despertar, revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo,
e que não sonho..."
(Carlos Drummond de Andrade)

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