sexta-feira, 6 de novembro de 2009

ACORDAR NA RUA DO MUNDO...

"Madrugada.
Passos soltos de gente que saiu com destino certo
e sem destino aos tombos.
No meu quarto cai o som depois a luz.
Ninguém sabe o que vai por esse mundo.
Que dia é hoje?
Soa o sino sólido as horas.
Os pombos alisam as penas.
No meu quarto cai o pó.
Um cano rebentou junto ao passeio.
Um pombo morto foi na enxurrada
junto com as folhas dum jornal já lido.
Impera o declive.
Um carro foi-se abaixo portas duplas fecham.
No ovo do sono a nossa gema.
Sirenes e buzinas.
Ainda ninguém, via satélite,
sabe ao certo o que aconteceu.
Estragou-se o alarme da joalharia.
Os lençóis na corda abanam os prédios,
pombos debicam o azul dos azulejos.
Assoma à janela quem acordou.
O alarme não pára o sangue desavem-se.
Não veio, via satélite, a querida imagem,
o vídeo não gravou.
E duma varanda um pingo cai de um vaso
salpicando o fato do bancário..."
(Luiza Neto Jorge)

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