“A lua dilui-se lentamente e um sol menino 
espreguiça os braços translúcidos... 
Frescos murmúrios de águas puras 
que se abandonam aos declives 
Um par de asas dança na atmosfera rosada. 
Silêncio, meus amigos, o dia vai nascer.  
A minha intimidade? 
Ela é a máquina de escrever. 
Sinto um gosto bom na boca quando penso.  
Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. 
Nunca se sabe qual é o defeito 
que sustenta nosso edifício inteiro.  
depois de certo tempo 
cada um é responsável pela cara que tem.
Vou olhar agora a minha. 
É um rosto nú. 
E quando penso que inexiste 
um igual ao meu no mundo, 
fico de susto alegre. 
Nem nunca haverá. 
Nunca é o impossível. 
Gosto do nunca. 
Também gosto do sempre. 
E ninguém é eu, e ninguém é você. 
Esta é a solidão.  
É uma infâmia nascer para morrer, 
não se sabe quando nem onde.  
Minha força está na solidão. 
Não tenho medo nem de chuvas tempestivas 
nem de grandes ventanias soltas, 
pois eu também sou o escuro da noite.  
Não é saudade... 
Eu tenho agora minha infância 
mais do que quando ela decorria.  
Não me posso resumir, 
porque não se pode 
somar uma cadeira e duas maçãs. 
E não me somo.  
O fato de ter nascido me estraga a saúde.  
O que é verdadeiramente imoral 
é ter desistido de si mesmo.  
Os fatos são sonoros. 
O que importa são os silêncios por trás deles.  
Que ninguém se engane, 
só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.  
Renda-se, como eu me rendi. 
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. 
Não se preocupe em entender, 
viver ultrapassa qualquer entendimento.  
Vocação é diferente de talento. 
Pode-se ter vocação e não ter talento, isto é, 
pode-se ser chamado e não saber como ir..."  
(Clarice Lispector)
domingo, 15 de novembro de 2009
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