domingo, 1 de novembro de 2009

A ESTAÇÃO

"A estação não atrai mais os pássaros.
As luzes apagadas apenas recebem o sol da manhã.
As telhas descansam seus vincos tingidos pelo sereno.
Deixam vazar um ou outro pequeno vão
por onde é lapidada a lembrança.
Há muito a pele da madeira e os seus feixes estavam secos.
Todo o dia ali era noite.
Não a vemos como os velhos a vêem em suas memórias,
hoje procurando refúgio.
Elas nunca mais estarão abertas como antes,
estão misturadas como retalhos tecidos à mão.
Mas, sempre há um nervo que se abre
e deixa fugir um pedaço da alma.
Depois, retorna às pressas
com medo do horizonte tenso e em brasa do lado de fora.
O que era turvo aos olhos torna−se mais turvo
sobre as linhas refletidas na água dos córregos,
margeando o verde desse silêncio.
A estação não atrai mais do que relâmpagos e temporais.
Depois, passam, deixam rastros,
ferrugens e cicatrizes azuladas como as veias
que recortavam os braços do último maquinista.
Ali, o trem parou, e o tempo seguiu seu destino.
A mudez das sombras, coberta de cinzas,
fundiu−se com os trilhos e os dormentes.
Não há mais como voltar.
O esquecimento é apenas um território
cujo mistério nasceu quando caiu o último letreiro de viagem
com as histórias de muitas vidas..."
(Fernando Rozano)

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