segunda-feira, 16 de novembro de 2009

MÁQUINA DE ESCREVER

"Mãe, se eu morrer de um repentino mal
Vende meus bens à bem dos meus credores
A fantasia de festivas cores
que usei no derradeiro carnaval
Vende esse rádio que ganhei de prêmio
por um concurso num jornal do povo
E aquele terno novo ou quase novo,
com poucas manchas de café boêmio
Vende também meus óculos antigos
que me davam ares inocentes...
não precisarei de suas lentes
pra enxergar os corações amigos
Sem ruído é mais provável que eu alcance o céu
Vou penetrar e então provar seu mel
No paraíso só preciso de um olhar
Sem teu sorriso, outro sorriso pra me enganar
Mas poupa minha amiga de horas mortas,
com teclas bambas, minha máquina de peças tortas
Vende todas as grandes pequenezas
que eram o meu íntimo tesouro
Mas não! Ainda que ofereçam ouro
Não vendas o meu filtro de tristezas..."
(Roberto Frejat)

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