segunda-feira, 16 de novembro de 2009

PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM

"Perco a consciência, mas não importa,
encontro a maior serenidade na alucinação.
É curioso como não sei dizer quem sou.
Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer.
Sobretudo tenho medo de dizer,
porque no momento em que tento falar
não só não exprimo o que sinto como o que eu sinto
se transforma lentamente no que eu digo.
Ou pelo menos o que me faz agir
não é o que eu sinto mas o que eu digo.
Sinto quem sou e a impressão está alojada
na parte alta do cérebro, nos lábios
- na língua principalmente -, na superfície dos braços
e também correndo dentro, bem dentro do meu corpo,
mas onde, onde mesmo, eu não sei dizer..."
(Clarice Lispector)

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