quinta-feira, 5 de novembro de 2009

S (esse)

"Direi de meu tempo que havia um S
havia uma sombra e um silêncio
havia um S de sigla e de suspeita
com suas seitas e seus sicários.
Não sei se signo não sei se sina
não sei se simplesmente sujo.
Ou só servil.
Ou só sevícia.
Havia um S de Saturno
havia um susto
havia um S de soturno
sobre um S de sol.
De meu tempo direi que havia
um S de sepulcro.
Sentinela. Sentinelas.
Ou talvez selva.
Talvez serpente.
S de sebo e de sebenta:
seco seco.
E também senão.
E também senil.
De meu tempo direi
que havia um S sem sentido.
E também Setembro.
E também solstício.
Saga e safra.
Ou talvez semente.
Ou talvez segredo.
Havia um S de sal e sílex
havia um silvo
Havia uma sílaba ciciada.
E também o sonho: entre suar e ser.
(Como um soluço como um soluço.)
De meu tempo direi
que havia um S de sol e som.
Havia Setembro e um assobio
contra um S de sombra e de silêncio..."
(Manuel Alegre)

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