quarta-feira, 4 de novembro de 2009

UMA NOITE DE LUA PÁLIDA

"Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mão incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural
como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier,
porque é certo que ele vem,
de que modo vou chegar
ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
-só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela,
se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?"
(Adélia Prado)

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