segunda-feira, 1 de março de 2010

PRÍNCIPE

"Era de noite quando
eu bati à tua porta
e na escuridão da tua casa
tu vieste abrir
e não me conheceste.
Era de noite
são mil e umas as noites
em que bato à tua porta
e tu vens abrir
e não me reconheces
porque eu jamais bato à tua porta.
Contudo
quando eu bati à tua porta
e tu vieste abrir
os teus olhos de repente
viram-me pela primeira vez
como sempre de cada vez é a primeira
a derradeira instância do momento
de eu surgir e tu veres-me.
Era de noite quando eu bati à tua porta
e tu vieste abrir
e viste-me como um náufrago
sussurrando qualquer coisa
que ninguém compreendeu.
Mas era de noite
e por isso
tu soubeste que era eu
e vieste abrir-te
na escuridão da tua casa.
Ah era de noite
e de súbito
tudo era apenas lábios pálpebras
intumescências cobrindo o corpo de flutuantes
volteios de palpitações trémulas adejando
pelo rosto beijava os teus olhos por dentro.
Beijava os teus olhos pensados
beijava-te pensando
e estendia a mão
sobre o meu pensamento corria para ti
minha praia jamais alcançada
impossibilidade desejada
de apenas poder pensar-te.
São mil e umas
as noites em que não bato à tua porta
e vens abrir-me..."
(Ana Hatherly)

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