sábado, 28 de agosto de 2010

ESCRITO EM NEON

"Venho de cruzar o último fio da última linha
que separa a dor e o nada.
Dos braços teus, febril, com rosto sujo, pueril.
Penso em quanto assola cada dia a sua demora.
Seu gesto de que não se importa
e um sorriso a fim de acalmar minha fúria
de ser o que sou.
Não sou outra. Sou a mesma. Sou pura.
Grito minha transparência dolorosa
bem ao pé do teu ouvido.
Exploro seus tímpanos com a minha verdade bem guardada.
Não te culpo. Não há manual de instrução.
Apenas o negro precipício à beira dos nossos pés.
A minha cobiça é pelo teu afeto.
Cometo todos os pecados capitais.
Sentada na primeira fila do teu leilão diário.
De bolsos vazios, mas com uma fé enorme.
Tenho uma fome que não passa e a tua sede me consome.
Sou um erro de concordância no seu romance pacifista.
Sou a personagem nazista.
Onomatopeia de desenho animado.
Coiote caindo. Precipitando.
Sou a poeira circular da sua queda.
Fratura Exposta. Me dê seu nome.
Anela-me todos os dedos.
Circunda-me de espinhos, mereces o meu sangrar.
Tu és o substantivo próprio
que conjuga todos os verbos de mim.
Teu óleo sobre minha tela sempre será arte nossa.
E toda noite de luar
tem seu nome escrito em neon..."
(Gláucia Sonhadora)

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