sábado, 28 de agosto de 2010

UMA RAIVA PERPÉTUA...

"Carrego no vento do temporal
uma raiva perpétua,
tenho o fôlego obstinado,
tenho requintes de alquimista,
sei como alterar o enxofre
com a virtude das serpentes,
e, na caldeira, sei como dar à fumaça
que sobe da borbulha
a frieza da cerração nas madrugadas;
vou cultivar o meu olhar,
plantar nele uma semente que não germina,
será uma terra que não fecunda,
um chão capaz de necrosar como as geadas
as folhas das árvores, as pétalas das flores
e a polpa dos nossos frutos;
não reprimirei os cantos dos lábios
se a peste dizimar nossos rebanhos,
e nem se as pragas devorarem as plantações,
vou cruzar os braços
quando todos se agitam ao meu redor,
dar as costas aos que me pedem por socorro,
cobrindo os olhos para não ver suas chagas,
tapando as orelhas para não ouvir seus gritos,
vou dar de ombros se um dia a casa tomba:
não tive o meu contento,
o mundo não terá de mim a misericórdia..."
(Raduan Nassar)

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