domingo, 2 de agosto de 2009

AS NOSSAS RELAÇÕES

"Com o tempo, nos tornamos pessoas maduras,
aprendemos a lidar com as nossas perdas
e já não temos tantas ilusões.
Sabemos que não iremos encontrar uma pessoa
que, sozinha, conseguirá corresponder
a todas as nossas expectativas sexuais, afetivas e intelectuais.
Os que não se conformam com isso
adotam o rodízio e aproveitam a vida.
Que bom, que maravilha, então deveriam sofrer menos, não?
O problema é que ninguém é tão maduro
a ponto de abrir mão do que lhe restou de inocência.
Ainda dói trocar o romantismo pelo ceticismo,
ainda guardamos resquícios dos contos de fada.
Mesmo a vida lá fora flertando descaradamente conosco,
nos seduzindo com propostas tipo "leve dois, pague um",
também nos parece tentadora a idéia de encontrar alguém
que acalme nossa histeria e nos faça interromper as buscas.
Não há nada de errado em curtir a mansidão de um relacionamento
que já não é apaixonante, mas que oferece em troca
a benção da intimidade e do silêncio compartilhado,
sem ninguém mais precisar se preocupar
em mentir ou dizer a verdade.
Quando se está há muitos anos com a mesma pessoa,
há grande chance de ela conhecer bem você,
já não é preciso ficar explicando a todo instante
suas contradições, seus motivos, seus desejos.
Economiza-se muito em palavras, os gestos falam por si.
Quer coisa melhor do que poder ficar quieto ao lado de alguém,
sem que nenhum dos dois se atrapalhe com isso?
Longas relações conseguem atravessar a fronteira do estranhamento,
um vira pátria do outro.
Amizade com sexo também é um jeito legítimo de se relacionar,
mesmo não sendo bem encarado pelos caçadores de emoções.
Não é pela ansiedade que se mede a grandeza de um sentimento.
Sentar, ambos, de frente pra lua, havendo lua,
ou de frente pra chuva, havendo chuva,
e juntos fazerem um brinde com as taças,
contenham elas vinho ou café, a isso chama-se trégua.
Uma relação calma entre duas pessoas que,
sem se preocuparem em ser modernos ou eternos,
fizeram um do outro seu lugar de repouso.
Preguiça de voltar à ativa? Muitas vezes, é.
Mas também, vá saber, pode ser amor..."
(Martha Medeiros)

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