quinta-feira, 13 de agosto de 2009

SENTIMENTOS ABSURDOS...

"Os sentimentos que mais doem,
as emoções que mais pungem,
são os que são absurdos.
A ânsia de coisas impossíveis,
precisamente porque são impossíveis,
a saudade do que nunca houve,
o desejo do que poderia ter sido,
a mágoa de não ser outro,
a insatisfação da existência do mundo.
Todos esses meios tons da consciência da alma
criam em nós uma paisagem dolorida,
um eterno por do sol do que somos.
O sentirmo-nos se torna então
um campo deserto a escurecer.
Não sei se esses sentimentos
são uma loucura lenta do desconsolo,
se são reminiscências de qualquer outro mundo
em que houvéssemos estado,
reminiscências cruzadas e misturadas.
Sei que estes pensamentos da emoção
doem com raiva na alma.
A impossibilidade de nos figurar
uma coisa a que correspondam,
a impossibilidade de encontrar qualquer coisa
que substitua aquela a que se abraçam em visão,
tudo isso pesa como uma condenação
não se sabe onde, ou por quem, ou porquê.
Mas o que fica de sentir tudo isso
é com certeza um desgosto da vida
e de todos os seus gestos,
um cansaço antessipado dos desejos
e de todos os seus modos,
um desgosto anonimo de todos os sentimentos.
Nestas horas de mágoa,
torna-se impossível, até em sonho,
ser amante, ser herói, ser feliz.
Se penso isto e olho,
para ver se a realidade me mata a sede,
vejo casas inexpressivas,
caras inexpressivas,
gestos inexpressivos.
Nada pareçe me dizer nada
e no fundo da minha alma, existe mágoa.
Adoramos a perfeição,
porque a não podemos ter;
repugna-la-íamos, se a tivéssemos.
O perfeito é o desumano,
porque o humano é imperfeito..."

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