quinta-feira, 13 de agosto de 2009

DA TERNURA À SOLIDÃO...

"Não sei como me defender
dessa ternura que cresce escondido
e, de repente, salta para fora de mim,
querendo atingir todo mundo.
Tão inesperada quanto a vontade de ferir,
e com o mesmo ímpeto, a mesma densidade.
Mas é mais frustrante.
Sempre encontro a quem magoar
com uma palavra ou um gesto.
Mas nunca alguém que eu possa acariciar os cabelos,
apertar a mão ou deitar a cabeça no ombro.
Sempre o mesmo círculo vicioso:
da solidão nasce a ternura,
da ternura frustrada a agressão,
e da agressividade torna a surgir a solidão.
Todos os dias o ciclo se repete,
às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente.
E eu me pergunto se viver não será essa
espécie de ciranda de sentimentos
que se sucedem e se sucedem
e deixam sempre sede no fim...”
(Caio Fernando Abreu)

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