sábado, 21 de agosto de 2010

OBJETOS DE NÃO-AMOR

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior e no seguinte,
como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas, que me amas, que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes, apagas teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra e na sua emissão
amor, saltando da língua nacional,
amor, feito som, vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amaste antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amo-amo-amo-amo-amo-amo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor..."
(Carlos Drummond de Andrade)

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