sexta-feira, 25 de setembro de 2009

DESISTI DE SER POETA...

"Leio um poema e quero parar de escrever.
É tudo uma grande farsa.
É tudo um mito
sofrer como se sofre num poema,
num coração.
Fôssemos todos santos
e continuava a ler poemas.
Mas não.
Poemas já não leio.
E depois estão bem escritos!
É como se eu mentisse de uma forma bonita
e o lesado aplaudisse chocado, lacrimejante,
depois de me ouvir.
Há na poesia um tanto de rebeldia
por só se usar parte de uma página
e um muito de egocentrismo
por se pensar que os outros
se preocupam com o estado do nosso coração,
pelos nossos sentimentos.
Por isso desisti de ser poeta.
Desisti de falar de ti.
Ou da outra.
Ou de alguém que não conheço sequer.
Desisti de estar a pensar em rimas internas,
em aliterações que acentuem uma idéia.
Desisti do poema.
Já não quero ser poeta.
Já não quero acordar
e ter de apontar num bloco sujo do dia-a-dia
o meu primeiro pensamento.
De me deitar e apontar
uma última frase que inicie uma estrofe.
Desisti disso tudo,
desse nada que é a poesia..."

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