"Já não te amo como no primeiro dia.
Já não te amo.
No entanto continuam em volta dos teus olhos,
sempre, estas imensidades que rodeiam o olhar
e esta existência que te anima no sono.
Continua também esta exaltação
que me vem por não saber o que fazer disto,
deste conhecimento que tenho dos teus olhos,
das imensidades que os teus olhos exploram,
por não saber o que escrever sobre isso,
o que dizer, e o que mostrar
da sua insignificância original.
Disso, sei apenas o seguinte:
que já não posso fazer nada
a não ser suportar esta exaltação
a propósito de alguém que estava ali,
de alguém que não sabia que vivia
e de quem eu não sabia que vivia,
de alguém que não sabia viver dizia-te eu,
e de mim que o sabia e que não sabia que fazer disso,
desse conhecimento da vida que ele vivia,
e que também não sabia que fazer de mim.
Dizem que o tempo do pleno verão já se anuncia,
é possível. Não sei.
Que as rosas já ali estão, no fundo do parque.
Que às vezes não são vistas por ninguém
durante o tempo da sua vida e que ficam assim
ali no seu perfume esquartejadas durante alguns dias
e que depois se deixam cair.
Nunca vistas por esta mulher solitária que esquece.
Nunca vistas por mim, morrem.
Estou num amor entre viver e morrer.
É através desta ausência do teu sentimento
que reencontro a tua qualidade,
essa, precisamente, de me agradares.
Penso que apenas me interessa que a vida não te deixe,
outra coisa não,
o desenvolvimento da tua vida deixa-me indiferente,
não pode ensinar-me nada sobre ti,
só pode tornar-me a morte mais próxima,
mais admissível, sim, desejável.
É assim que permaneces face a mim, na doçura,
numa provocação constante,
inocente, impenetrável.
E tu não sabes..."
(Marguerite Duras)
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
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